sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Encontros

(Foto minha, tirada no inicio do Outono)

Não sei nada de mim
Mas há rumores
Que chegam com a chuva
Que se ouve lá fora

Agora são só pingos soltos
A quebrarem-se
Nas pedras
Da velha calçada

Mas o timbre do vento
Fala-me de outros sons
Em que nada perecia
E a vida acontecia

Um milagre
Nas tuas mãos vazias

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Vida

(escultura de Ricardo Kersting)

Gostava que o tempo nos visse passar juntos...

Talvez seja esse o segredo, para que a vida se manifeste e não cesse de vez,
nas mãos de quem pensa que morrer é um ponto certeiro, e não o sabe dianteiro nas novas movimentações da alma….

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Fina Flor

(foto D.M.)

Esvair de um sonho
Neste alucinado ar que respiro
Benfazejo sol da manhã
Que me cobre inteira
E me roça ao de leve
O peito nu

São letras tortas
Que escrevo
Neste caminho novo
Onde enquadro um rosto
E lhe desenho um corpo
Que me queira a jeito
De me ter sua
Enquanto m’enrolo
Neste lençol de pano cru

Tão cru
Quanto a estopa de linho
Que se faz vestes
Nas suas mãos
E se faz terra,semente
Ou fina flor somente

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Poema de amor


(Escultura - Ricardo Kersting)

Se eu pudesse
Abafar a minha voz
Na tua boca
Tanto quanto os meus olhos
Se fecham na noite
Ao firmar o meu corpo
Nos teus braços
E prolongar um ritual antigo
Como quando os meus lábios
Dançam na tua pele

Se eu pudesse
Seria a única voz
Silenciando os modos
De me reescrever
Do lado de dentro
De um único poema de amor

domingo, 26 de dezembro de 2010

Última lua


Este é o último dia de todas as noites que te imaginei no meu corpo
Vento forte uivando na noite como lobos da montanha
Vento do Norte que se fez cedo no meu acordar para a vida

(Em Agosto a terra é firme e o sol baixa ao nível dos meus sonhos)

Sentia que vinha e ia
Tal luz que se acende e se fecha a cada madrugar dos meus olhos
Sentia que o tinha
Mas não o sabia a acordar na minha cama

(Em Dezembro o solo é frouxo e a lua é estrada deserta nos caminhos

Esta é agora a última noite de todos os dias que o quero em vida
Como quando partia e chegava
E eu cegava ao sol por um amor tardio

(Em Março, a atmosfera é branca, e no monte há um novo rosmaninho)

Sempre soube que cor assumiam os seus olhos
E em remanso lhes peço
Que me levem, só por uma noite de absoluto degredo
Que me seja a última lua
********************
(Foto minha na Serra de Montemuro)

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Gostava de saber ser mulher

(tela de Paula Rego)


Gostava de saber ser mulher
perto, muito perto,
para poder abrir os braços e aconchegar-te assim
bem junto da minha boca
e dizer-te: amor meu, há um céu que me aguarda
para que nas tuas mãos
se construa um amor novo a equilibrar a terra
a Mãe que se faz poder e força no universo

Um amor poderoso
que te dissesse que eu também sou mulher
que vim de longe
de muito longe,
para olhar nos teus olhos
e dizer-te que a árvore
é a masturbação poética de um ponto
onde todos os poetas acreditam
coabitando ao mesmo nível da tua boca
dos teus olhos
e eu simplesmente mulher moldada de novo
pelas tuas mãos
********
Para ti que me sabes entre uma força e outra como um fio de luz

Fios de luz

(foto Dolores Marques - Rio tejo)


Caminhando sempre em frente, vejo as almas que se penduram nas árvores, nas tuas árvores caindo ao pequeno toque da alvorada.


- Os traços que deixam na atmosfera, são fios de luz que alcançam todos os transeuntes matinais. O rio é agora corrente parada aos meus olhos.
*********************************
(dedicado a uma pessoa grande talvez um Deus)

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Pontos de encontro

( Tela de Paula Rego)
*
Demorei tanto para chegar aí
E tu tão genuinamente Pessoa
Terna, e bela
E tu tão subtilmente Tu
Num doce sorriso
A construir novos horizontes
No meu olhar

Esquecer um mundo que ruiu
E que há sempre novas pontes
A alcançar os sonhos
Do outro lado do mundo
Onde a verdade
É feita de abraços
E poemas escritos
Com doces favos de mel

(Sentir, que me estão
A cobrir de mimos
E não conseguir ver
O AMOR
No meu lento caminhar)

Demorei tanto para te ver chegar
E chegaste assim tão leve
Tão breve na passagem
Onde o saber, é só….
Um hipotético desafio
Desafiando a vida
A escorregar no ventre
De quem tem sede
Expirando os verdes prados
Ensaiando a doce leveza
De um trago morno
Que é saber conduzir-me
Por um fio de luz
Acentuando os dias
Prontos para receber a vida
Em todas as formas únicas

(Saber-te no meu sonho distante
A reescrever novos temas
Afagos no meu corpo só
Originais formas de se saber
De um sorriso, e um poema
De uma força e uma vida cheia
De uma razão alheia
Nos vários pontos de encontro)
***********
(Poema também incluido na participação do concurso de poesia, da APPACDM de Setubal)

domingo, 5 de dezembro de 2010

Um Ser Apenas


(Menção Honrosa no xv Concurso de poesia, Um Sorriso, Um Poema, da APPACDM de setubal)

Eu não sei onde te encontrar
Se no caminho que trilho
Se na dança do meu corpo
Que se enleia aos sonhos
Que te espreitam
Do alto da minha torre de vigília
Peregrina neste sítio ermo
Onde rastejam
As minhas dúvidas terrenas
Que é saber-te pronto para chegar
*
(Vagabundo não come
Não se lava
Não se veste
Não se remedeia
Não tropeça nas pedras do caminho
Não demora para chegar
E nem verbaliza os traços
Que o fazem demorar)
*
E quero muito saber-me
Digna do meu corpo
Para contigo dançar
E comunicar em outros lugares
De um saber
Que me é dado à nascença
Para te escrever
Sobre um sorriso a bailar
No meu olhar
*
Tenho-te na ponta dos dedos
Quase a tocar as altas esferas
De um reino que há-de vir
Para te dizer de mim
Neste meu habitat natural
Nas noites e nos dias
Em que de um poema
Se compõe um sorriso
E de um sorriso
Se acaba um poema
*
E tu um
Ser apenas
Que breve se fez semente
A cair sobre o meu colo de mulher

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Cai o céu na escuridão



À noite a luz
É mais luz
Cai o céu na escuridão
E a estrela grávida
É um círculo imaginário
A perder-se nos dias
E nos momentos
Que nascem
Sem hora
Sem nora
Sem sim
E sem não

Luzes pendulares
Dourados os olhares
Meticulosas arestas
Ao encontro
De todos os desencontros
Pontos tornados vivos
Na escuridão

Súmulas de todos
Os encaixes tumulares
Ao relento
Sempre ao relento
Dos olhares
Que tombam
Nos arabescos
Registo nas palmas
Das minhas mãos

Gotículas em cascata
Fantasmas sem olhos
Corpos sem braços
Mãos sem dedos
Para escrever
Só para descrever
O cansaço
Este cansaço

E as dornas cheias
E as uvas
E o vinho
E o mosto
É rei posto
É vasto
O calafrio nos pés
Dos cantantes

Mutantes sem unhas
Sem dedos
Sem pele
E o mosto
É na boca
Ao desafio
Pelos cantos
De uma película
Que s’estranha
Tão estranha
Quanto a dor
Que se infiltra
Na minha pele

São medonhos
Os travestidos
Na escuridão
**********
(Foto minha - Luminescencia)

Dá-me um pouco mais


(foto minha - Luminescencias)


porque te exprimes assim
como se fosses o mundo
a cair-me em cima?

dá-me um pouco mais
mas breve
que seja assim
como a brisa nocturna
a calar-me nos momentos
em que te penso

dá-me um pouco mais
mas muito
que seja assim
como a brisa marítima
num único sorver do ar
a castigar-me todos os poros
acabados de nascer

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Coisas Íntimas



olha-me sem me dizeres
dos meus olhos
fechados
dita-me dos versos teus
que são como água benta
a salpicar-me o rosto
e déspotas
no meu corpo
a criar efeitos especiais
na minha pele

sou do lado de fora
das imagens
que carrego nos olhos
visto-as de cores diversas
onde coloco os teus pertences
coisas intimas
que gosto de tas saber
em mim

mas ser-te assim...
não sei
se sei
não sei se é bom
se é mau
se gosto assim
de me conformar
só com um pequeno
desfrute do teu corpo
no meu

Nascente dos desejos

(Foto minha em Lamego)


Se por um lado vejo desejos a nascer todas as manhãs, por outro, tenho receio de cair no ridículo, por não saber escolher um só que me satisfaça por completo.


Hoje vou beber à nascente dos desejos novos...Quero um acabado nascer

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Um Gosto

(ISIS - Deusa Egípcia)
*

Não me apetece saber
O fundo das coisas
Gosto assim
Quando mas dizes
A viva voz
*
Gosto de ti
Pelo que me és
Mas preciso
Saber-te mais
Nos sons
Nos cheiros
Nas urzes
Nos medalhões de sol
A regenerar
As encostas da serra
Nas novas flores
Do alecrim do monte
Na minha e sempre
Altivez descomunal
Que desce sobre ti
Devagar
A saber-te no infinito
Onde se esconde
A tua vontade
De me seres
Uma
E outra vez

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Silêncios (dedicado a Da Cunha Manuel)

...onde se encontram todos os longos silêncios
a não ser na solidão dos poetas...
onde as palavras ganham uma força descomunal
os sons se interiorizam
para dar voz a uma melodia interior
capaz de se limitar no tempo
para voltar e ser sempre o tempo
na voz de todos os poetas

terça-feira, 23 de novembro de 2010

De Verão a Verão

(Foto D.M. - Serra do Montemuro)
*


Sou em ti sonho louco
Por todos os mortíferos rostos
A cavalgar na escuridão
A deitar-me nos teus braços
Na procura da longitude do mar
Na mesmíssima terra onde os justos
Se acabam aos pares
As orquídeas fazem levitar os andores
E os santos caem ímpares
No desejo de serem
Os primeiros sacramentos Baptismais

Soberana
Casta
Imagem verde
Nos olhares de quem tem fome
Espécie dizimada no teu corpo
Folha virgem
Nas mãos de quem ousa desafiar o destino
Ramagens a colher as primeiras gotas da chuva

Tenho-me na secura dos montes
Nas pradarias onde a morte é razia
A quebrar as pedras onde deito a cabeça
E gravitam os sonhos
Até à chegada de mais uma leva de conquistas
Para a união das serranias graníticas
Onde o vento uiva
E os lobos se amamentam
Dos odres de uma espécie
A medrar nas minhas mãos

Virgens, eternas e casuais, causas
Na boca de quem não sabe
Que o Verão é fustigado
Pelo quebranto das horas
Em estios Invernais.

Esburacados estão todos os momentos
A quebrar a secura do início do Outono
As jornas, requerem sabores doces sazonais
Pétalas vítreas
Matagais a resvalar por entre todas as vestes
De uma imagem quebrada
Içada pelo toque azul que se esvai
De Verão a Verão

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

ET


E que tal criar uma imagem nova, a pensar nas imagens de banda desenhada do futuro?


Talvez assim os nossos olhos fomentassem uma aproximação dos objectos não identificáveis....até à data


Rostos sem cara



A Cimeira astá a transformar esta cidade, numa cidade fantasma.


As ruas praticamente desertas, os carros circulam em zigue-zague, e o rio até espelhou as marcas, que se preparam, para estratégicamente, cairem em cima de todos os rostos sem cara..

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Este lume


Vi-te como se fosse a primeira vez
Vi-te mas não me viste a mim
Continuavas o teu caminho
Na certeza de um A-deus

Então que Deus te acompanhe
Que eu por cá vou indo na
“forma do costume”
Acostumada a vender ideias ao lume
Este lume
Que acende todas as ideias expostas
E sobrepostas no negrume
Do seu queixume

(Acabei de chegar à via principal
Onde desfilam nomes
E caminham torpes pelas pedras
Amolecidas com o som da minha voz)

Há gritos no escuro
Maremotos nas vozes de aquém
E d’além-mar
Mas eu sou aqui neste infinitésimo
Quadricular de ondas herméticas
A cair-me nas mãos
Nos pés
E no corpo já feito
Para se dar á corrente

(E a corrente é o caminho das mãos
Daquelas que se põem a jeito
De se tornarem fortes desejos
A cair-me dos olhos)

Espaço


Continuo com muita vontade de continuar a pertencer à classe dos marginais do espaço, alienados que são por todos os benfazejos da terra, que largam a pele na terra e comem pirilampos no escuro

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Imagens


Há vontades tão cheias de imagens que até me custa voltar à minha própria imagem...


à anterior, antes de me meterem esta na cabeça...

Jugos

(tela Paula Rego)

Julgo ser uma figura abstracta, sempre que me junto à verdade inteira de todas as figuras molestadas por jugos condutores de um orquestrado ritual de mostradores informes.

É onde os moribundos se recolhem nas paletes de cores, retiradas ao acaso de um fio condutor comum ao mundo dos vivos, comungando hóstias e sopa de letras em dias de Domingo.


sábado, 13 de novembro de 2010

Verdes lembranças




Verdes lembranças
De menina
Dourados os sonhos
Que ficaram presos
Nos salgueiros
E nos amieiros
E que por fim
Se afogaram
Nas correntes
Profundas do rio

Tenho para mim
Que por falta de algum
Meio de me saber
Vou sendo alguma coisa
E outros que com o saber
Vou sendo nada
Nas finas lascas
De uma lousa de xisto

Um doce lambuzar
Até aos cabelos
De amoras pretas
Tão pretas quando a cor
Da pedra onde riscava
Os sonhos todos
E me levantava a pique
Tão a pique quanto o sol
Por detrás da noite

Veio uma luz
A cobrir-me
De todos os azuis celestes
De outrora
De quando ainda era
Uma menina
A pintar na relva
O céu
E a lua
E as estrelas
E eu

Gostava de pelo menos
Ser uma estrela
Aqui em baixo
Com luz interna
Que só eu visse
E me reluzisse por dentro

Dizer-te Amor, Saber-me Amor

(foto Dolores Marques)

Nada sei de mim neste mundo
De personagens inventadas às pressas
Quem sabe, estarei aí numa dessas

Nada sei de mim nesta hora
Quando me deito
Se irei voltar amanhã de manhã
Se irei sair por tempo indeterminado

Amar-te seria um bem
A propor tréguas ao tempo
A milhas de um outro tempo
Já morto e enterrado
Em que me escondi
No vazio nocturno

Amares-me seria um bem maior
Dizer-te amor
Saber-me amor
Fazer amor
De pé, deitada ou em contra-mão
E teres-me assim
Deitada no chão
Beijares-me a mão

Se te amasse e se tu me amasses
Quem sabe
Às vezes penso que ando sem andar
Neste caminho torto
À espera que me descubras
Nas curvas e contra-curvas do meu corpo
Pois nada sei de mim

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Recuso-me a não acreditar


Recuso-me a não acreditar no ser humano, recuso-me consciente de quem temos muito ainda para fazer em prol de um bem maior que é a vida no seu curso lento e sossegado como as águas calmas de um rio...

Recuso-me a não acreditar.

Ler mais:
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=160050#ixzz14yNCFYWu

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Conta-gotas


Há contagens precisas num dia de conta gotas. Se quiserem podem até ir pedir para a porta da igreja. O que não lhes garanto é que estarei lá para as acolher no seu propósito de simples contadores de histórias.


Benditos os justos valores que sabem crer num dia de chuva e bebem gota a gota o que lhes resta…

domingo, 7 de novembro de 2010

Eram rosas os meus olhos


De costas no sobrado,
E o corpo cansado
Com os olhos no tecto
E só o tecto, o mesmo tecto
Onde rabiscam sonhos por alcançar

Com os braços caídos
Os joelhos erguidos
E as mãos sobre o ventre
No ventre, e só o ventre
Concavo lugar de uma lágrima minha
A escorrer nas tábuas lisas
Do meu cansaço

Vermelhos os tempos
Em que as rosas me desfloravam o véu
Rosas, eram rosas os meus anos de menina
A saltar sobre todos os ventrículos
De uma terra vã
Rosas, eram rosas os meus olhos de menina
A desviarem-se dos tempos escusos
A contemplar os templos
Onde descansam os corpos
E desfilam as almas
Por todos os cantos
Onde se guardam os braços
Que ceifaram todos os tempos

Gosto-te, amo-te, mimo-te

(imagem google)


espero-te no encontro
de todos dos dias com todas as noites


sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Sou eu e tu

(imagem google)


Eu sei como ser meio-louca
Sem o ser completamente
Eu sei como amar-te mar
E sentir-te força no meu olhar
Sei-te mar e lua a caminhar
Por entre as gotas de suor
Espalhadas no meu corpo nu

Cheguei a imaginar-te
Dois em um
A cobrir-me toda
Sempre que me abro a ti
E te digo
Vem
Sou eu
Mais eu
E tu
Uma força a brilhar no escuro
O Amor a esgotar-se nas marés cheias
Onde nos completamos
*
Dolores Marques

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Sou tua...

(imagem Google)



Estava aqui a pensar,
em continuar a ser só uma doce lembrança
de quando o tempo caminhava por mim
e eu lhe dizia baixinho:

és vento, chuva, mar, maresia, rio...
e eu sou tua
*

Francisco Coimbra disse...
A SI mesmo ou mesma
1
a poesia
com vontade de ser
sempre outra
coisa
pessoa,
ideia
sensação
ilha
mar
e
cada canção acompanhada à unha
no vibrar de cordas de emoção
2
já necessito
dum outro
número
coisa
ou
apenas e sempre
idade e um momento
para a viver plenamente
3
é quando me desligo
da vontade
e deixo
o desejo comandar
este destino
que... atinjo o tingir
das cores dum arco
íris agora
suspenso
nu
rodando este olhar
rumo ao Céu!
4o
Paraíso existe,
perco o juízo e entro,
onde pertenço!
5a
sensação de pertença
é tão necessária,
tãoimportante que,
poucoimporta se abandonas
o poema deixando-o
entregue a si mesmo
Aqui e agora, deixando uma palavra amiga, onde a emoção aflora.
8 de Novembro de 2010 14:19
*
Um beijo para ti Francisco, Obrigada pela visita

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Longos são os caminhos - um livro de São Gonçalves



Um livro que marca um tempo, um espaço, uma descoberta em prol de uma viagem que não se submete aos passos incertos, que se dão, na procura de um mundo que se sabe que existe, mas que esteve por algum tempo à mercê de outros caminhos, outros desejos, do corpo, outros anseios da alma.

In “A Viagem” este é o mote para a sua leitura: “ Sei lá como vim aqui parar. Foram os cheiros das palavras derramadas em papel almíscar.

O meu destaque vai para o poema que deu titulo ao livro; São longos os Caminhos”, Em que Saozinha diz: A viagem é longa, o corpo cede muitas vezes , à passagem do tempo/È a luz que nasce em mim a cada amanhecer, que me sustém e me guia”…/Tenho sede e fome de infinito.

São, escreve - in Corpo: “As vezes somos corpo nas esquinas da vida perdidos/A alma em transformação”
É esta indefinição que se sente sempre, onde há um todo que emerge e se funde em nós, e nós nem sempre estamos preparados para empreender essa fantástica viagem, nesse caminho que se vai alargando para que o corpo se submeta ao mundo que nos espera, para o encontro final.

São escreve In “Sentimentos: “Há uma esperança de vida que se esgueira da janela/Um novo sonho que renasce a cada despertar”.
E
In “AS Memórias”: “Viajei na estação do tempo, nos sonhos e nas esperas, perdida nas brumas da memória”
Há um misto de emoções sempre que iniciamos esta viagem ao interior de nós. Há calor, há frio, há o toque, há as ausências de nós, há a permanência, há a intuição, há como que uma desfloração do véu que nos envolve e nos liga a outros planos. Estamos a dobrar cada esquina do tempo com o intuito de que na próxima, nos encontremos em escala maior para um acordar suave e delicado em busca da paz, da luz, dos sonhos por achar.

In “A Alma”, Saozinha diz muito mais: “pequena luz nos confins do conhecimento”
Destaco o poema “Alquimia”: “Sei de mim nestes fins de tarde onde me encontro, no que há de mais verdadeiro”

Aqui a porta abre-se lentamente e mostra a luz reflectora de tantos momentos passados. É agora um novo caminho, não tão longo, não um fardo antigo, mas um desabrochar para a vida em estado de migração contínua num doce manjar dos deuses. A transmutação que se quer presente no corpo, na alma, e a mente a tentar derrubar muros, a tentar alcançar o ouro lado do jardim, que espera pela nova plantação de orquídeas roxas.

In “os Sonhos” – “Dos sonhos amadurecidos, faço a monção”
Por fim, a grandeza onde se depositam todas as palavras, todos os sentimentos, todas as agrestes caminhadas em prol de um novo caminho mais de acordo com o que inicialmente a trouxe aqui, Saozinha vislumbra finalmente um novo trajecto, para empreender uma nova caminhada. Os sonhos estão mesmo ali à mão de semear. Resta saber se a terra já está lavrada e arada para que do seu interior nasçam as mais belas flores perfumadas em direcção ao azul celeste.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O Dia...ou...


Dividindo o dia em dois

será que consigo calcular a distância

que separa a noite de um ponto

onde o sonho atinge o comando no escuro?

O nada

(Imagem google)



Estava aqui a pensar o que fazer e de repente veio-me à ideia;


o nada que me apetece ser....

Não te tenho


(imagem Google)

não me apetece nada já disse...
deve ser da chuva
da fome
(tenho que ir almoçar e nem me apetece levantar da cadeira)
da sede
da memória que me falha
os dias cinzentos
das gotas que pingam lá fora
dos arranjos florais a murchar no vaso
de tudo o que me faz estar assim
e tu aí
não te vejo
não te sinto
não te tenho
não me tenho...enfim

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Apetecia-me estar agora no teu colo

(magem google)

Apetecia-me estar agora no teu colo
Que me besuntasses o corpo
Com esse néctar de mel
E me nutrisses a alma
Desse alimento diário
Espraiado na minha boca

(Atirar-me de vez na boca do lobo
De nada me faz calar este medo
Esta momice cálida
Tornada sempre pela manhã)

Apetecia-me estar agora no teu colo
De sempre te quis
E para sempre….
Nesse altar que me recebe
Esse cálice entornado em mim

Apetecia-me…Sim amor
Estar agora no teu colo
E levar-te comigo a viajar
Por todos os esconderijos
Onde os rituais recebem a hóstia
De todos os deuses
Caídos no meu regaço

domingo, 24 de outubro de 2010

Sim, amor

(foto D.M.)

Sou eu assim
Na procura de mais
Um signo
Em outro caminho
*
Sei-te tão distante
Quanto a profundeza
De um rio
Sei-te assim
Como um olhar
Que se afunda
Dentro de mim
*
Sou eu sim
Recordando
As nossas pegadas
Na terra quente
Onde perfumes outros
Eram jasmins em flor
*
Encostada ao teu corpo
Que me toma
Com um ritmo ardente
Sou eu assim
Inteira
E cair-me em ti
*
Beija-me amor
Os lábios mirrados
E dá-me um sinal d’ouro
Quanto o meu amor
O é por ti
Só por ti
Amor

Pedra Tumular


Rita Silva, que está desde ontem no Hospital e sem resultados dos exames médicos conclusivos. A ela dedico este poema e a todos os doentes que sofrem nos hospitais

*
Porque me prendem aqui
Neste corredor sombrio
E tu
Corpo debilitado
Que te sinto os contornos
Debaixo desse lençol sem cor ?
E os sons nas alas frias a Norte
Onde não há mais espaço para a dor
E os gritos nos cantos escuros a Sul
À espera de um pouco de luz
Onde reside o amor
*
È noite
Está frio
E sim, chegou o Inverno
Nesse teu gélido oscilar das mãos
E clamas por um pico de energia
Que do alto te cubra por inteiro
*
Esboçam nas paredes
Novos grafitis brancos desbotados
Fincam-se os corpos nas cadeiras
As mentes já robotizadas
Olhares alucinados
Almas em fileiras desarmadas
E as mãos que escondem a dor
A descansar sobre o peito
*
Alguns desligam-se deste mundo ignóbil
Os monitores calaram-se
E já a madrugada a retratar-se:
Nas paredes sujas
Nos olhos a reluzir na escuridão
Dos corredores frios
Nas mãos que se unem por debaixo dos lençóis
Em jeito de oração
*
E tu anjo débil
Esperas
Só esperas….
Que a dor se erga da pedra tumular
E baixe a tempo de te convidar a sair

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Pensar

(Sas Cristian, Rostos-Melancolicos-com-estilo-anime-e-manga-surpreendente)




- A existir um pensamento
não estaria aqui a olhar para as teclas neste momento

- à espera que algum fure a noite e se sente ao teu lado ?

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Moldes

(Sas Cristian, com-estilo-anime-e-manga-surpreendente)
*

- Este séquito que se apresenta um degrau acima da minha vontade, é como um tempero matinal sempre que acordo e tu estás lá a mirar-te nos meus olhos…

- Esta força a vasculhar a noite, a dizer-me que te foste, que te sumiste pelo ar que eu respiro…

- Estes sons que me saem do peito para se embrenharem nos ruídos nocturnos que habitam o meu quarto…

- Esta visão periférica perante um molde em início de formatação divina…

- Este vaso sanguíneo a saltar-me dos olhos, sempre que te penso e te deito no meu corpo…


Ler mais:

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Que dirias...?

(Foto D.M.)


Se te dissesse que as horas passam e que os minutos extravasam todas as expectativas, à volta do tempo...

Dirias que o relógio é marca num dos primeiros acordes que o tempo tem?

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Abrigando o medo

(Foto Dm)

*
De que vale servir-me desta imensa cobertura
Que m’arrasta o sono
Neste imenso degredo
Submerso num sonho
Reencarnando esta loucura emergente
Este simples pacto com a morte

Assim a esvair-se por dentro
Sempre que o tempo me leva para longe
Deste consagrado leito
Quando me ouço nestes ais onde me deito.

A noite é uma sombra que m’enlaça o corpo
E a alma ronda uma silhueta
Que quer à força ser
Um ser vivente
Sob o maremoto que a engole inteira
E a devolve enlaçada em laços finos
De pura seda marítima

Não fosse ela a continuação de mim
Nas margens de um rio
Que se quer fugitivo das marés fortes
E me trazem sempre o mar
Em tempo de tempestade

Não fosse eu uma força
A caminhar no escuro
A ver com todos os olhos da noite
Um tornado quente nos braços
De quem tem medo
E não sabe ser mar
Nem rio
Nem sombras
Nem noite
Acabando como gota de orvalho
Espalmada na atmosfera

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Fruto proibido


(imagem google)

*
O meu olhar vai de encontro ao teu.
se gostares de me sentir assim
então eu encontro-me entre uma dimensão e outra
e se o fruto proibido cair da árvore
antes de eu cá chegar
então que me aguarde
para eu saber do tamanho do meu gostar

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O espelho (de António L. Ribeiro)


no caminho da felicidade
olhando para o horizonte
e cegado pelas nuvens do passado
assombrado pelas alegrias
aterradoras do vivido
onde vou ?

que espero
da vida ao decorrer do tempo? só
e felizmente mal humorado
vagueando pelo caminho
infinito da eternidade
olhando, sentindo e sussurrando
a meu ego as regras do infinito

onde estao?as verdades do
ser interior, a raiz da alma
os alicerces do cosmos
na sua imensidade aterradora
de onde venho?
*
Poema enviado por um amigo: António Luis Ribeiro

Sorrir

Sentir que a cada palavra
se solta um novo perfume entre sorrisos
e que esses mesmos sorrisos
sejam o mote para um dia irradiando felicidade
Sorrir - o acto de conquistar a amabilidade escondida em cada rosto

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Tinha sede


(Acrilico em tela - Dolores Marques)

Bebi todo o líquido que lhe escorria da testa. Era quente e tinha um sabor a mar. Mas a minha boca, estava repleta daquele género de mareantes que se estendem na areia e deixam aquele sabor a iodo que me deixam tonta.

Fiquei mesmo com a cabeça virada ao contrário, quando uma tontura me subiu a alto da cabeça e sem saber como, caí estatelada em cima duma estrela caída. Tinha ainda vestígios, de quando também ela morreu de fome nas águas de um oceano, que nunca soube ser mar salgado.

Tinha sede, muita sede e nada me fez ficar ali naquele sítio, quando ao longe vejo os músculos que brilham por entre a forte ondulação, sendo as pranchas um meio de o fazer atingir o órgão genital das águas. Caiu, caiu e nunca mais se viu.

Tinha sede, tanta sede antes de cá chegar...

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sábado, 2 de outubro de 2010

Andarilho

(imagem google)


Há um mar que me tem
Não sei bem se é um oceano
Não sei bem se é uma maré
Nada sei de mares
E nem de marés
Que me forcem a navegar
Se nem sei como aqui cheguei

Há uma lua presa nos meu cabelos
Não sei bem se é a lua
Não sei bem se é um reflexo meu
Nada me diz como hei-de voltar
A ser mar espelhado no céu

Sou corpo sem alma
Sou vento sem esperança
De te trazer novos sons
Do tempo em que me sentia
Um tal e qual
Andarilho como eu

...tinha fome


(tela de Paula Rego)

Se soubessem como ficaram os meus olhos, de tanto tentarem absorver todas as letras que queriam à força formar palavras para acasalarem mesmo ali à frente do meu nariz.

Fiquei sem nariz!

Olhei em volta e só via gente, gente que se queria alimentar. Mordi-me toda, rui as unhas, depois chupei a carne dos dedos ainda tenra. Fiquei com a boca cheia de vermes, que de tanto tentarem afastar a mistura de compostos orgânicos, perderam-se neles.

Mordi-me toda. Se soubessem como ficou a minha boca depois de tudo o que saiu das pontas dos meus dedos.

Mas eu tinha fome, muita fome antes de chegar.

Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=152662#ixzz11DITUBXJ

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Montanha (de Mário Massari)


O que nos reservam as montanhas?

- a altura das presumidas quedas?
- o desafio do ápice no abraço guarida?

O que caracteriza as montanhas?
- o depósito acumulando eras?
- a erosão progressiva dos dias?

“Os alpinistas acariciam as formas vivas
e as noites cúmplices deslizam
entre abismos suicidas”.

O que nos ensinam as montanhas?

A serenidade na ascensão?
A nobreza na descida?
*
Mário Massari
Engenheiro Agrónomo a viver no Brasil (Sertaozinho)

Livros publicados: Não acordem os pássaros - contos (1994), Achados e guardados - poesias (2002). Beirais - poesias (2007), Arabescos - poesias (2008), Portos, olhares e ausências...- poesias (2009) e Espelhos do Tempo - poesias (2010).



Mário
Gosto de sentir que no cume mais alto está o meu pensamento, ao encontro de todos os outros que partilham comigo a inevitável queda e a indubitável subida.



(acrílico em tela, Dolores Marques)

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Para além do Finito (por Haeremai)




Vivo para além das margens
Que em cada dia em mim morrem
Lagos traiçoeiros e desditosos
Em nevoeiros sepulcrais cobertos

Não me digas para voltar aos caminhos espinhosos
Vivo na terra suicida onde os mortos têm alma
Navegantes do tempo em barcas velejadas
De ventos prementes vindos do nada

Àrvores negras de braços esgrimindo
Correm para ti sugando a seiva impura
Dos medos deste inferno fiquei imune

Caminho muito além em horizontes verticais
Barreiras em janelas dimensionais
Onde o ontem e o amanhã se encontram.

By Beijo Azul

Fátima, esta tua vertente mostrando uma mudança de ordem estrutural, à frente de qualquer barreira dimensional, alongando-te o olhar e permitindo que novas janelas se abram, e te mostrem que há mais, muito mais para além do finito, onde nasce um ponto a tocar o infinito de ti.
Gostei deste teu poema e é um prazer publicar aqui no meu espaço
Dolores Marques

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Tão-somente, só





Sinto-me tão só
Como quando nasci
E não te senti
Um corpo
Com um colo aberto

Queria virar-me ao contrário
Voltar ao ventre materno
E dizer-te
Só...a ti:

- Vem-me visitar
E faz do meu caminho
Um sol nascente
A cobrir-me o corpo todo




A saltitar por entre as memórias
Que me dizem de nós
Eu me contradigo
Nos nomes que invento
E nas horas mortas
Fecho os olhos
E choro baixinho

É este silêncio uma dobra
Num lençol dourado
Onde escrevo
O teu nome
Para que no fim
Me nutras a alma
Já que o corpo
Mata a minha fome
Derrubando muros
E a minha sede
A beber os sonhos
Afogando
Momentos meus e teus
*
(Foto D.M)