quinta-feira, 31 de maio de 2012

Porque me dói





Porque me dói

Porque me dói escrever sobre a vida ?

Porque sou
Uma ilustradora da minha pequenez

Porque me dói escrever sobre o Amor?

Porque sou
Uma exposição de arte abstrata, mas nata na dor

Porque me dói escrever sobre a dor?

Porque me dou a todas correntes imaginárias
Que passam pelo meu corpo

Porque me dói escrever sobre a alegria?

Porque sou
Um paradigma a encolher-se nas curvas e contra curvas
Onde se cruzam vontades minhas de me alargar num sorriso

Porque me dói escrever sobra a tristeza?

Porque sou
Uma farsa a dominar a minha vontade de chorar

Porque me dói escrever sobre tudo o que mexe?

Porque sou
Uma folha seca a deslizar no alcatrão
Ao encontro da próxima estação

Porque me dói escrever sobre as gentes?

Porque sou antes de mais
Uma procura incessante
Em me encontrar em alguém

Porque me dói escrever sobre a minha própria negação?

Porque sou antes de mais
Um mais(+)
Ou um  menos(-)
Numa fração de segundos
Enquanto o tempo passa

(DM) = (MD)

(Dolores Marques)

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Profecias

Há nos limiares do tempo
Um pendular suspenso que balança…
E m’equilibra noutra dança
Mas o meu corpo é o re-verso na ténue faísca
 Onde nasce a luz uniforme do meu olhar

Caminhos intransponíveis neste renascer
 Onde o verbo É
 E deixa de Ser
 Quando consente que nos limites
 Se consiga verbalizar
 Sobre o
Cosmos re-unificado

- Como abrir os olhos e falar-vos sobre um cometa
Que rasgou a atmosfera neste leve balançar?

 Há um estado de fidalguia nos seus versos
Simples melodias esgrimam o ar
E esta espera…
Que sempre me desespera

- Ler-te no infinito...poeta do meu altar
É re-escrever-me no mesmo lugar
De onde me viste chegar…

 Leva-me sempre por outros trilhos que também pisa
 E sabe que o meu corpo se espreguiça nos seus versos
 Mas, mesmo assim, não pára de me fazer doer
É como sentir a terra a tremer...

- E o frio encolher-me toda neste corpo, preso à vida 

Já não posso caminhar sobre o seu ventre
Vou fincar-me na extensão breve do tempo
E absorver dele a fina corrente

 Insígnia das utopias de um profeta
Que marcou encontro com certas profecias
Que, sem saber se é poeta
Por profeta ser
 Remete-se para a magistral leveza do Ser

 (Tela: Jomasipe)

terça-feira, 22 de maio de 2012

Por quanto tempo

A minha maior satisfação é saber que há razões muito próprias e outras propriamente ditas, sem saberem sequer onde encontrar a melhor solução para tratar-lhes da saúde mental. A minha razão, é uma sequência de eventos a acontecer ao mesmo tempo mas sempre com a mesma predisposição para a não razão… Seria talvez uma conjuntura deveras interessante, saber que há muito tempo existi sem saber, ou existo agora sem conhecer a diversidade de eus dispersos pela minha vontade em ser mais do que realmente sou. Sou só eu mais eu…por quanto tempo….SOU (DM)=(MD)

sexta-feira, 18 de maio de 2012

A poesia

A poesia é “agiota”, dizem alguns
 As palavras merecem ser tratadas pelos próprios nomes, dizem outros
A melancolia é a voz dos poetas, dizem ainda outros Eus
A tristeza é a sua devoção, de onde advém alguma inspiração, diz outro alguém

 Sim. Alguém que se distrai com alguns versos soltos pela manhã
Sim, alguém que admite que há momentos mortos na voz dos poetas
Sim, mas, e os poetas vivos, onde estão?
 Sim, mas a morte de todos os poetas será por certo, todos os momentos em que escreve a tal poesia “agiota”?

Evento

Com tantos eventos a acontecer ao mesmo tempo, e eu sem tempo para participar no verdadeiro evento:

 - A VIDA

 Será que o evento já começou?
Será que já lá estão todos ?
Será que todos sabem a verdadeira intenção deste evento?
Será que passarão imagens distantes de quando eu era a própria VIDA?
Será que irão gravar todas as chegadas e todas as partidas?

 Até que o "auditório" fique vazio, vou ficar por aqui, a tentar lembrar do meu último evento

 Depois, será nesse espaço em branco, que escreverei alguma poesia, ou tentarei decifrar alguns versos escritos nas paredes nuas do salão.

O livro





(No lançamento do novo livro de São Gonçalves, que incluiu algumas palavras "minhas")



Um livro, é-o, na medida certa, se os sentires forem a justa medida de um valor muito nosso, para que ele (livro) ao permitir que folheemos as suas páginas, se pareçam com pétalas nas mãos de uma criança.





quinta-feira, 10 de maio de 2012

O novo livro de São Gonçalves


Este livro de São Gonçalves conta com a participação de três autores, incluindo eu própria, o que me deixa muito feliz e grata pela preferência.

Agradecida mais uma vez à São Gonçalves (não sei já como o fazer), pela sua dedicação e carinho pelo meu rio, pela ordem com que corre, pela desordem com que se comove, sempre que a sinto a caminhar por entre as correntes e a batizá-las com novas fragrâncias de palavras.






Como um rio é um livro bilingue,escrito em Português e Francês,a língua materna,a língua que amo e me fascina e em Francês a língua adoptiva,aquela com a qual comunico no pais que me acolheu.


Este livro para alem de ser um rio de palavras onde autora navega se perde e se encontra,é também um livro de partilha.No inicio de cada capitulo há um dueto de três autores com quem partilhei palavras.


Ana Coelho
Dolores Marques
JC Patrão.


Assim como no capitulo final onde as palavras já são um mar procurando a serenidade no tempo.
São Gonçalves

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Um saber sobre...


Um saber sobre os desígnios de um todo meramente intencional, ou de um nada que satisfaça os mais afortunados para que se saiba mais sobre:

- Sentir a força do “efeito borboleta”
- sentir o efeito molhado de um beijo
- sentir a força de um abraço, fechado
-  saber que a Primavera chegou e se mostrou
-  conseguir andar sem se balançar, ora para a esquerda, ora para a direita
- saber onde é o seu centro
- saber ocupar o seu lugar no teu centro
- saber como colocar as hóstias no céu da boca sem as esborrachar
- saborear pão de mistura ao pequeno almoço
- como se desviar da estrumeira dos caminhos
- libertar os olhos,  das cores de uma cegueira maldita
- deixar de usar gravata
- deixar de fumar charutos
- deixar de usar baton
- deixar aparecer os cabelos brancos
- saber como fazer um batido de frutas da época
- saber –se,  sem se saber a pertencer aos lugares comuns
- saber-se, sem se saber pertencer a alguém
- sabe-se dono de mundo,  sem antes  se saber  dono da sua própria vontade
- argumentar com  o EGO - denominador comum de todas as forças obscuras,
   e saber como colocá-lo intato, no seu lugar
- saber porque se é gentinha, quando se podia ser gente, simplesmente
   (os “inhas” são mesmo picuinhas)
- moldar a face e descobrir máscara sob máscara, escondida no tempo
- saber teorizar sobre a teoria do caos
- saber-se a ser o início, a partir do fim

( FIM…)

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Correntes


Ficar só
No silêncio absoluto
Ruído intenso
Zumbido afiado
Suores frios
Calafrios

Ficar só
Na certeza
Camuflada
Ou na verdade
Do tempo
Que chega
Invertido
Esmiuçando
Lembranças
De um passado
Morto
E enterrado

Ficar só
Entre quatro paredes
E afiar as unhas
Para rasgar
Em cruz
Uma folha de papel
Em branco

Ficar só
Entre dois mundos
O de lá
E o de cá
E sentir
Estremecer
O corpo
Já entorpecido

Ficar só
E esperar
Um torpedo
A esburacar
O chão
Que piso

Ficar só
À transparência
Ente o mar
E o rio
O meu rio
Que corre
Corrente
Contra a corrente

É como ficar só
Sem nenhum sentido
Obrigatório