sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Namoro

Se eu pudesse ficar simplesmente a namorar...


Se eu pudesse faria do namoro um acto inocente, enamorando-me...

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Bom dia

Decidi esperar pela madrugada, quando ainda nada se movia nas ruas

Lá fora, ouvia-se um som leve de uma brisa miudinha
Restavam talvez as pétalas das últimas flores que ainda resistem na espera de um Outono morno
As correntes do Tejo, caladas e sufocadas
A espera é um grito, a causa dos aflitos

Lá dentro, ouvia-se um som calado
Restavam as paredes frias em contraste com um corpo quente

Era talvez a verdade nua e crua a desvendar mistérios na noite
Decidi que seria a minha noite, onde me dispo sempre sozinha

A manhã chega silenciosa e cega
Mordi a língua, senti secura na boca mas mesmo assim cantei baixinho
Um silêncio amordaçado que chegou do fim da minha rua
Diz-me sempre bom dia!

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Guia

Amor,

o silêncio é um guia


Ouço vozes quando a minha voz se anula

e simplesmente te espera nos teus silêncios....AMOR

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Porquês


Porquê esta sensação de que já não te basto?


Porque me tens

Tendo os olhos cheios de outros tempos Invernais?


Amor, porque não vês um rio que quer ser mais e mais...


No teu corpo a desaguar

Nos teus olhos a alcançar o mar?

Marés

(imagem google)



e se fossemos todos dar uma volta
à volta do mundo
que é este mundo interno
mas sem cairmos no engodo
de vermos só
o nosso próprio mundo

sei lá…
que mundo é este
esta forma bizarra de olharmos
só de cima para baixo
e não vemos que os baixios
se encontram e desencontram
nas subidas e descidas das marés

maré alta
esta que me leva ao engano
sempre que abro os braços
imaginando-os remos,
remando… remando
contra as marés

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Alma de Palhaço



Movem-se os olhos
Quebra-se o corpo
E curva-se a alma
Perante a plateia
Que ri
E sorri
Mas não sabe
Onde aportar
A sua própria alma

Mas é no palco
De tábuas rasas
Onde cai
Uma lágrima
Que ele sorri
E ri

E são folias
Em rebeldia
E são almas
Em plena euforia
E ele volta
E assume-se
Em reviravolta
Nos traços marcados
Do rosto
Que apenas se limita
E ainda assim, sorri
E ri!

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Azul

(foto; Dolores Marques)



Diz-me que azul é este
Que m’afunda
Num mar que é seu
Diz-me que mundo é este
Que já não sabe
Ser terra à vista
Nem mar, nem rio e nem céu
Num olhar meu

Ego

Já não me inibe a altura
Que tanto me eleva ao alto
Já deixei cair as vertigens
Do cume de um poder imenso
Que me alimenta a fonte de prazer
E satisfaz a fome de um ego
Sedento de todas as imagens
Figurativas do meu EU

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Nomes




Sei que não posso
Decorar os nomes todos
E até que ponto
Me posso diferenciar
De todos os que conheço
Já que os rostos são todos iguais
E os olhos gravitam na noite
Como se fossem bolas de berlindes
A querer seduzir o escuro

Sonho

Há ainda um sonho para sonhar


Se esse mesmo sonho admitir


O estado de vigília


E ir rumo à descoberta


De um amor novo


Um novo amor para se velar

Sei de um tempo


Sei de um tempo que nada havia
A não ser o canto as aves
Serenas, planavam no alto do outeiro
E deixavam marcas do futuro
Tal como se propagam os dias
Em que há cegadas nas planícies
E se deixa escoar o tempo
Das breves histórias
Em que nada há para lá do tempo

domingo, 11 de setembro de 2011

Sol da Manhã

Existe um tempo para o nascer do sol. Chegou ainda agora, lento e cauteloso por detrás das nuvens. Chegou tarde este sol, por ser manhã clara nos meus olhos. Uma manhã como tantas outras em que me canso da noite ao lhe tentar mostrar que o sol é um tempo a querer nascer em todos os poros da minha pele.




Existe um tempo para receber o sol, se esse tempo for a medida exacta num ponto onde me encontro, mas os encontros assemelham-se a pontos que se unem num outro ponto equidistante, e nada me faz entender um tempo que antecede outro tempo, que está prestes a chegar. Acomodo o meu pensamento nas nuvens para contrapor o tempo em que irei voltar a ser eu. Esta minha vontade explícita no meu corpo quando te toco e te sinto como se fosses o sol da manhã. Desejo-te sóbrio, sem que os odores da noite te inibam de me tocares. Dissipam-se as nuvens nas águas do Tejo, clareiam-se as vontades todas que tenho ao me tentar anular por completo, quando sinto esta verdade toda a saltar-me dos olhos, como se fossem raios solares a querer atingir o centro da minha verdade. Nua e crua esta minha fome de ser eu em ti e esta sede de me sentir o centro de todas as vontades do mundo. Livre e inconsequente é a luz que enche os meus medos e os transforma em certezas de ter um bem maior a guardar-me os sentidos todos. Essa maioridade que me afronta e me faz recuar ao tempo em que sabia que nada me faria antever a desgraça de ser varrida por um tempo que já não é tempo para mim, mas para todos os embustes que carrego ao longo do tempo.




Esta claridade que antecede a manhã, é a verdade onde coloco a minha vontade de ser um sol a encher poços sem fundo. Este buraco negro onde afundo a minha verdade, dá-me quase sempre a antevisão de um futuro que não sei, mas que existe enquanto verdade na minha vontade de ser eu e tu, ou tu e eu, seres uniformes e continuados para que o futuro seja só um acontecimento presente. Esta claridade que me faz ser um ser autónomo, é-me indiferente porque não sei ser um acto a acabar a manhã. Este querer ser de uma forma exequível, deixa-me presa à minha própria vontade sempre que me perco nesse buraco para esmiuçar todos os pontos perdidos por não saber ser a mentira enquadrada numa verdade disfarçada.


A verdade é uma só, aquela que me traz sempre o sol todas manhãs, e me mostra as vistas de um buraco negro onde guardei toda a minha vontade de me virar do avesso para renascer como todas as manhãs claras que enchem os meus olhos. Estes são os momentos prenhes da verdade que sou ou da mentira que guardo para voltar a ser eu a querer ver o nascer do sol.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Noite vs Dia

(foto D.M.)



Amor
Deixa-me um pouco de ti
Para me sentir tua
Nas próximas horas
Que irão acabar os dias

Estou prestes
A dar novos coloridos
Às nossas noites

Amor
Não sei
Como inventar
Novas palavras
Para dizer
Que te amo

Por isso, Amor

Eu sou a noite

A deslizar
No teu sono
E tu o dia
A saber-me inteira
No teu corpo

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Nu





Nu…! Na penumbra
O Sol tímido
Mas enamorado
Da inocência
Da manhã
Boicotando a luz
Ainda acesa
Do candeeiro

Nu…!Antes
E depois
Da debandada
Dos pássaros
Presos na gaiola
Espreguiçou-se
Acordando em mim

Corpo cintilante
E nu…
Astro completo
Na dispersão
Dos movimentos
Pelos quatro cantos
Dos meus olhos
Existe ainda

Essa fagulha
Términos da noite
*
(Fonte
Da minha fonte infinita)
*
Nu…! Este pingar
Da chuva
Tal o bando de pássaros
A querer tocar
Nas partes mais íntimas
Da aba dum chapéu preto
Onde o sol se põe
E a noite se achega
Para mais
Um nu…!

Borboletas no Aquário de Mário Massari


Mantinha borboletas

No aquário,

O silêncio a balbuciar-lhe...

Regozijos de naufrágios...


Mas, quando as mãos violáceas

Não pressentiram mais as cores

E a visão turva admitiu guelras na fala,

Ao fio partido, Gritou,

Ah gritou!


Suspensos ao eco

Todos os mares não desbravados!

*

(Do recente livro de Mário Massari - "Borboletas no Aquário"