sexta-feira, 30 de abril de 2010

Metrificando as Rimas e Chocalhando as Anáforas

(Quadro de Salvador Dali)
*
Esforça-se com vontade
Sim com uma vontade enorme
De vomitar das tripas
Um odor forte a naf-talina
*
Versatilidade em virtualíssimos gestos
Fossilizados a metro
No interior da acne a-verme-lhado(a)
Que sugado pelos versos
É alimento certeiro
No seu seio vivo
Metrificando as rimas
E chocalhando as anáforas
Dispostas em fila em cima da sua mesa
*
Mas nada
Nem ninguém lhe presta homenagem
Nada, mesmo nada
Lhe atribui severamente um grau de mestre
Na sabotagem das letras gordas que lhe engordaram
O baixo ventre

quinta-feira, 29 de abril de 2010

O Centro Energético do Poema


(imagem net)

Há nadas
Que são partículas amorosas
Em meros pontos na cosmologia crónica
De um poema de amor

Há poemas
Que mais parecem formas
E formas que parecem nadas na bifurcação limitada
De um mesmo pensamento

Há pensamentos
Que esmiúçam a carne
E barafustam a mente em busca de frgamentações novas
Para se alojarem

Há fragmentos
Que sofrem quando o poeta lhes comunica a ordem invertida
Anestesiando-lhes o corpo
E perfurando-lhes o centro energético

O que é que falhou?
As ondulações estáticas
Ou as repercussões mediáticas?

******************************

Poema inspirado neste de Nuno Marques

http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=130412

Mata-borrão


A vida é mesmo um grande mata-borrão

Serve de foco indicador
Para que um feixe lunar
Aterre a grande velocidade
E faça descer à terra
Um meteorito
Reorganizador cerebral

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Fica comigo até uma última vez

(foto de minha autoria)

Custa-me ver morrer uma flor
Custa-me ver morrer um amor
Custa-me tanto…
Mas tanto, ver tanta coisa em meu redor
Que me refugio na morte lenta em meu corpo a amolecer
A adoecer…
A amolgar as penas que carrego

Custa-me tudo em todos os lugares
Custa-me tanto ter que pensar
Que me orientar
Que me hipnotizar
Que me incendiar...e por fim me calar de vez em quando

Custa-me saber que vou morrer
Mas o que me custa ainda mais, é saber que a morte é lenta
E leva tempo a se eternizar
Custa-me não saber que cor ela assume quando me levar
Deixa-me sempre nesta indefinição entre o ir e o ficar

É bom saber-me aqui, mas também noutro lugar
Que me leve então
Também eu estou pronta...

Mas custa-me não poder tocar-te
Não poder ouvir-te
Não poder sequer saber, como brilham os teus olhos
Quando as nossas palavras se tocam sem se tocarem

Gostava tanto de poder saber como reages ao mundo
Por detrás deste pequeno mundo

Por favor fica comigo, até uma última vez

Enfim gosto-te muito
*******************
Uma resposta a um poema de um poeta: Alcantra
http://www.worldartfriends.com/modules/publisher/article.php?storyid=26371&com_id=116776&com_rootid=116776&#comment116776

Meu companheiro de horas tardias

(Imagem Google)
*
Com o freio nos dentes
Imagino-te meu homem
Meu mestre
Meu tudo
Meu companheiro de horas tardias
Num vento quente que mexe comigo
*
Com a Primavera
A florir em Abril
Imagino-te alecrim do monte
A escalar os céus
Dividindo as nuvens
E desflorando protões gigantes
Que viajam no meu corpo
*
Com um travo agreste
A estrear o Outono
Eu quero-te o sabor
Dos sucos montanheses
Pútigas mastigadas pela terra
E amadurecidas sempre
No mesmo lugar
*
E tu...
Meu mestre, meu homem, meu tudo…

(Foto Gab Silva)

Pútigas, é uma espécie de fruto que nasce debaixo dos sargaços.

Encontra-se quase enraizado deixando à vista as suas cores meio amarela e meio laranja.

Apresenta-se como uma flor com gomos que contém uma pasta viscosa muito saborosa
Lá na minha aldeia ainda se encontram

Alvos São os Traços

(Tela de Carlos Dugos)


Tu já não existias
Estavas muito além de qualquer revolta no meu corpo
Mas mesmo assim
Me permito entrar nesse turbilhão de ideias já mortas
Fazendo-as renascer de novo
Como quem ajuda
Uma fêmea a parir em lençóis de linho

Alvos são os traços
Que me indicam sempre um novo céu
Ainda agora
Vi um grupo de aves que voavam em círculos
Num frenesim danado
Que estanquei por um momento os olhos pardos
Da manhã clara

No centro estava o macho
Musculado mas vidrado numa só ave branca
Era ali o seu apogeu

terça-feira, 27 de abril de 2010

Frente-a-frente, no meio da escuridão



Com a força que lhe conferiam
Todos os pontos meridionais
Do seu corpo
Ela se fez assim à sorte
Caminhando no escuro
Por todas as zonas me-ri-di-anais
Da congregação mais mediática
Seduzindo até o mais plebeu

Mas sempre que lhe vinha à mente
Aquele beco escondido
De onde ele a atiçou
Acontecia-lhe sempre o mesmo

(………)

Nada que fosse digno de um registo
Significativo e elucidativo
De como se posicionar ali mesmo
Num frente-a-frente
No meio da escuridão

Ele bafejou…
Ela suspirou
Eles foram um só
E o ar denso que habitava o beco
Nem se esborratou
*
Foto minha - Modelo Rita Silva

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Tenho medo do que se passa lá fora

(Foto minha - modelo Rita Silva)


Tenho medo do que se passa lá fora
Tenho medo, muito medo
E receio de me dizer
Para depois te ver
Ir embora

Resta-me ficar
Fixar o meu corpo
Em teus dedos
E depois sair sem me ir
*
(Sabes que me perdi
Em dias que me quis
Mais do que me quiseste
Por me saberes sem demora ?)

Tenho medo, muito medo
Do que se passa lá fora

Não fossem os caminhos
Imundos
Em que nos amamos
E nos quisemos
E nos traímos
*
Não fosse a dor da minh'alma
A contar as estrelas
E de quando a quando
Sairmo-nos d órbita
*
Não tivéssemos sido
Tu e eu
Um mundo que ruiu…
*
Com medo, muito medo
Do que se passa lá fora

domingo, 25 de abril de 2010

Depois de Escorrido Escada Abaixo

Foto minha, modelo Rita Silva


Vigiando os dedos que sempre a seguravam
Quando o via passar de relance
Lançando a escada
Para depois pousar num galho novo
Enquanto a fruta madura
Quase a despertar no verde Maio

Serena o espírito - disse ela para si mesma
Ele só virá depois de escorrido escada abaixo
O sémen que o irá levar
Quem sabe
Um dia
Sempre ao mesmo lugar

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Queria-os a todos na sua cama


(Foto Minha - Modelo Rita Silva)
*
Desafiava-os todos à sua cama
Para com eles se saciar
E para depois…
Os mandar bugiar

Que é como quem diz
- Desgruda e põe-te de papo
Pro-ar…
Que te quero degustar

Manda o silêncio acordado
Em jeito de te avisar
Pois se te voltas e revoltas
Meias voltas irás dar
*************************
O erotismo aqui presente,

trata-se antes de mais, de ajuizar se a vida deve ser vivida,
entranhando espécies pouco proveitosas
ao desenvolvimento corporal, mental e espiritual
Nota: pediram-me para inovar, não para desesperar

Tudo Tem Um preço


(Foto minha - Modelo Rita Silva)

Tudo muda
E se tu não tens
E ela não vai
Algo se quebrou
E se espalhou pelo chão

Mas ainda assim
É nota figurativa
Deixada em branco
Na palma da sua mão

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Quando ela o induzia de uma certa maneira

(foto minha - Modelo Rita Silva)


A chuva que se ouvia cair na janela
Era leve como suave partitura
Como quando as folhas se voltam
E se roçam suavemente nas vidraças

(Eram noites de pleno Inverno)

Principiava a dor derivada
Do que era estranho
Mas que se entranhando
Despertava a musa
Que meigamente se ajoelhava a seus pés

Mas ele não sabia que ao sugarem-lhe as entranhas
Gotinhas de suor morno
Escorriam-lhe também pela face
Que ela simplesmente bebia
Enquanto ele se esforçava por manter a posição erecta

Já nada lhe acontecia
Quando ela o induzia de uma certa maneira

*************************
O erotismo aqui presente, trata-se antes de mais, de ajuizar se a vida deve ser vivida, entranhando espécies pouco proveitosas ao desenvolvimento corporal, mental e espiritual
Nota: pediram-me para inovar, não para desesperar

quarta-feira, 21 de abril de 2010

A ladainha era sempre a mesma



(foto minha - modelo Rita Silva)

Elegante mas desalinhada

Cabelo sobreposto sobre a cara
Para não se ver a disfunção
Que revelava a sua malvadez na cama

Olhar cabisbaixo
A cena mantinha-se sempre no mesmo acto
Já por lá se revezavam todos
Para a poder ter em qualquer representação

Mas ela coitada
Via-se a braços com tantas solicitações
Ficava assim meio sem jeito
Sem saber o seu verdadeiro lugar

Se no palco onde nascera
Ou na folhagem leve e esverdeada
Que lhe tapava os seios
Sempre que se deitava nos lençóis desfeitos

*******************************

O erotismo aqui presente, trata-se antes de mais, de ajuizar se a vida deve ser vivida, entranhando espécies pouco proveitosas ao desenvolvimento corporal, mental e espiritual
Nota: pediram-me para inovar, não para desesperar

A marcar pontos no meio da estrada



(foto minha - Modelo Rita Silva)
*

Ela era alta, esbelta e lânguida no gesto
*
Subia-lhe pela mão uma dor transviada
A segurá-lo como que a dizer – Basta!
*
Mas ele não aguentava aquela sensação de se tornar
Anafado e arrepiado
Sempre que ela lhe dizia que o comia inteiro
Se deixasse cair sobre ela a madrugada
*
(Sim,ele que sempre fora o prodígio dos Deuses
a marcar pontos no meio da estrada)
*
Mas aquela dor
Que lhe causava uma sensação daquelas…
Pior que uma besta - dizia ele
*
(Que o não deixava dormir um bocado)

*
O erotismo aqui presente, trata-se antes de mais, de ajuizar se a vida deve ser vivida, entranhando espécies pouco proveitosas ao desenvolvimento corporal, mental e espiritual

terça-feira, 20 de abril de 2010

Aqueceu demais e não aguentou

(foto minha - Modelo Rita Silva)

Encheu-se o saco
Por sinal bem recheado de líquidos mornos que o sol amadureceu
Mas no limite aqueceu demais e rebentou

(Exercício físico a mais, diziam os entendidos)

Ofegante, não aguentou
Precisa treinar novas técnicas de amadurecimento
Agora escorre desenfreado até à próxima época
Envergonhado
Não se preparou
*****************************


O erotismo aqui presente, trata-se antes de mais, de ajuizar se a vida deve ser vivida, entranhando espécies pouco proveitosas ao desenvolvimento do espírito, do corpo e da mente

Fruto da Época


Peguei nela, assim meio despida da folhagem leve que lhe cobria as magrezas
Despi-a quando a bebi sofregamente

Mas sabes, que não era nada do que esperava entranhar ?

Era a falsa claridade rodeada de ramos pobres (fruto da época)
envolta em folhas livres que o vento vem beijar

A sede, matei-a no dia seguinte num galho nobre dos tempos modernos
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O erotismo aqui presente, trata-se antes de mais, de ajuizar se a vida deve ser vivida, entranhando espécies pouco proveitosas ao desenvolvimento do espírito, do corpo e da mente

segunda-feira, 19 de abril de 2010

As Palavras Quero-as Assim




As palavras
Quero-as assim dispostas em fila na minha cama
Quero-as
Simples
Directas
Tortas
Erectas
Eruditas
Transcendentes e Rebuscadas
(Quero-as assim como te quero quando me deito contigo)

As palavras que renego
São também perfeitas
Mas essas deixam-me na solidão dos dias
E à noite nem sei para onde me virar
Se para elas
Se para aquilo que elas me querem dizer

(Essa imperfeição, continuada no meu peito)

O que faço com as palavras
É questão minha
Tua
E também
Nossa
Mas são elas, as palavras que nos ditarão a sua livre consciência

Por quem me tomam elas, eu não sei
Mas sei que me apaixono sempre por um corpo a fumegar
Revestindo os lençóis desfeitos

Há as palavras que falam
Do amor
Da alegria
Da tristeza
Da solidão
Da morte
Da vida….
Mas são tantas mais que eu desejo
Porque me fazem sentir que há para lá do meu corpo
Outros corpos saciados por moinhos de vento

Fora de Tempo

(Foto minha)
*
Se me vires percorrer
Um caminho esquecido
Fora de tempo
Diz-me que não sou eu
*
(Há olhares que se perdem nas artérias mortas
do meu pensar)

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Poema Infantil


Na pureza das cores
Que m’empresta a noite
Sei quem dela me afasta
Mas não, quem a ela me atrai

Sei que se quer minha
Mas não encontro
Um sonho disponível
Para com ela brincar

terça-feira, 13 de abril de 2010

Solidão

(imagem de Jet no site http://www.olhares.com/)
*
Falta-me o gosto
Da maresia das palavras
E encontro-me
Em essências doces
Na leveza dos corpos
*
Falta-me o gosto
Da chuva molhada
E escrevo o meu nome
Em terra batida
Re-des-co-brin-do-me
*
Não!
Eu não me posso revelar
Nestas palavras soltas
Visto-me das cores
Enxutas e gastas
E entrego-me à solidão de mim

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Faz Tempo

( Foto minha em Moção - Castro Daire)
*
Caminhei por sobre a terra
Adentrei-me no seu manto estático
Coberto pelas searas
Já quase mortas de frio
*
Faz tempo
Que não vejo a luz do sol
Faz tempo
Que não m'iluminam os reflexos da lua
Faz tempo
Que sou nada
A caminhar sob os céus
*
Acabei-me nas jornadas internas
E encontrei-me num ponto de luz
Tão minúsculo
Mas tão tudo
No meu pensar consciente
Pensamento solto
Errante em busca de paz

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O Tudo e o Nada em Movimentos Circunspectos


Imagino-me por aí
Fermentação do pão através de uma simples oração
Fecundando os céus
Louvando aos Deuses a tua passagem negra e triste
Acendendo a sagrada obliquidade
E invertendo o brilho da esfera que a circunda
*
Encontro-me por aqui
Consumida por mil cores que me desfloraram
Enquanto miragem pura e simples na continuidade de um mundo que já não é meu
*
(Imaginei-me sempre nos braços teus... caídos
Em jeito de me alcançar breve
Muito breve foi a minha passagem)
*
Tão breve, que me suspendi na atmosfera, livre de qualquer movimento circunspecto

*
Mas tu, leve por tão leve seres
Não me viste sob a perplexidade do teu olhar difuso
Ameaçador de um tempo nosso
Que me deixei cair de bruços… Simulacro de outras imagens
Esperando em vão que me ouvisses num choro quente, calmo
Li-qui-di-fi-can-do a carne e oxidando as correntes
Que me cunhavam o peito quando te via passar por entre os meus braços
E a morrer nas longínquas paragens
*
Serei outra
Serei eu
Serei tudo o que quiseres, num abraço solto
Daqueles muito teus que me serviram de ponte até à outra margem
Onde fiquei a morar no eterno que me tem desde que o mundo se foi
*
E porque ter-te um momento no tempo que passou, é:
Tão quente
Tão forte
Tão teu
Tão meu
Tão nosso
Que me vejo ir por não querer ficar nesse teu mundo que me abandonou
*
Dormentes, enlaçamos casualmente as mãos até ao fim que nos aclamou:
Firmes na leveza de um mesmo tempo circunscrito
Miserável de predicados meus
*
(Saí de cima de mim
Fixei-me em ti por me sentir tão frágil
Tão levemente assinalável no teu colo)
*
E assim…
Deixei de ser menos eu
Menos tu
Menos nós
Num tempo que se anulou e não distinguiu os movimentos cinzelados pelo medo
Demarcando para sempre um tempo incerto, longe de um todo memorável
E a terra foi revisitada de calor, de frio de gestos num movimento circular
E de tudo o que o amor inventou, para nosso bem maior
*
Foi a extensão de um momento inexacto que nos aproximou
E que se quebrou