segunda-feira, 7 de agosto de 2023

O centro


Quero o nada

Se esse nada

For somente

A inusitada presença

De um fogo quente

A tomar-me o centro 

De um tudo que te dou

E me tiro enquanto nada

Que me sou


Este calafrio na espinha

Este energético centro

Acoplado ao movimento nos traços

Que se desenham

Nas palmas das minhas mãos


Este corpo suado

Na inerte madrugada

Demanda do prazer

Jeito inato…nascente 

De um único ponto

Que me quer toda

Porque sim


Este sentimento solto

A alma em chamas

Corpo que se esfuma

No centro da noite

Que me tome por inteiro

Nas sombras de Deus 

...Ocasionalmente


Dolores Marques, Poemas 2011

Sim e nao


 Prefiro um não redondo, a um sim bicudo

Prefiro a noite luminosa nos meus olhos, a um dia para lá da porta fechada

Prefiro-te nuvem carregada de suores frios, a um céu fingido nos lençóis

Prefiro dormir no sofá da sala, a um sono traiçoeiro nos teus braços

Prefiro todos os sonhos a preto e branco, a um sonho com as cores do arco-íris esbatidas e incertas melodias, nas curvas e contra curvas do teu corpo 

Como sabes, eu gosto porque simplesmente sou eu e este amar calado e desnorteado 

Depois, vens tu lembrar, que, afinal já não sei se gosto desse jeito frio de chamar por mim

Não me gastas, sequer, o nome.....


Dakini, pseudônimo

sábado, 5 de agosto de 2023

Santos


 Não entendo os santos, muito menos as santas.

Eu também sou Maria, e depois? Fiz sexo e tive filhas como é naturalmente a raiz de tudo o que nasce, e morre.

Deus abençoe esta terra amaldiçoada, por nascimentos impróprios. 

Deus tenha misericórdia da santa madre igreja. 

Deus tenha em conta os ditames da ignorância com as janelas e as portas fechadas á clara luz.

Deus saiba quem eu sou, eu aceito, ainda que não saiba quem ele é.

Será um "ele" ou uma "ela" ou nem uma coisa nem outra?

Já me eliminaram outras Marias por aqui, por causa deste meu jeito natural e animal às vezes. Também tenho direito a ser um pouco do que Deus me fez.

Mas essas Marias por aqui, devem ter sido cópias da Maria isenta de pecado do sexo. Devem ainda ser imaculadas...

Raios.... perdi-me no texto. Onde é que eu ia mesmo?

Pensava num homem....

Onde está o homem isento de qualquer forma de pagamento a Deus por pecar diariamente, quando pensa ter várias mulheres, e muito sexo?


Perdi de novo o pensamento no texto.

Pensava em sexo.

Raios...


Dakini, pseudônimo

quarta-feira, 2 de agosto de 2023


 Lá

Na esperança de encontrar algo que me diga onde e como chegar lá!

É lá, o sitio onde vou morar por tempo indefinido

É lá, o sítio onde me irei encontrar. Enquanto isso desespero numa espera vã

Mas  o  tempo já não me espera. Sou só a esperança que este tempo não termine, que este enigma se transforme em algo mais definível que me transforme e me leve ao ponto mais alto onde se dão todos os encontros…..lá!

 Na esperança de me encontrar, encontro em todos os tempos um modo de encurtar o meu próprio tempo

Este tempo que me marca

Este tempo que me encolhe no fundo de um baú onde guardo todas as memórias

Este tempo que arrasta o vento

Este tempo que faz transbordar as correntes de todos os rios

Este  tempo que colhe todos os frutos

Este tempo que me engana

Este tempo que simplesmente me faz perecer em noites de temporal

Este tempo que entra nos meus sonhos e me afronta enquanto durmo

- Ouves, sentes, imaginas ou simplesmente  te limitas a correr contra o tempo?

 

E eu acordo sempre com uma nova esperança  que me diga onde e como chegar lá

Ao fim do tempo!


Dolores Marques 

quinta-feira, 27 de julho de 2023

Momentos de calma


 Porque não estou disponível no momento de calma, quando ela chega mansa e leve e me sussurra ao ouvido coisas de um mundo que mesmo perto está tão distante, como o céu o está, ali tão alto, ali tão fundo apesar da dimensão para cima, quando me estico toda a querer tocá-lo com as pontas dos dedos.

 Porque me apego demais a este chão, porque sou pesada demais, densidade obesa, e presa fácil do destino.

Porque só o sono é um bom companheiro, quando deitado comigo me afaga o ventre, agora mais alongado, agora sem rumo, não sei se chegou a ser um potencial vencedor, já que eu não me dou por vencedora nem por vencida.

Ele não. Ele é o meu Eu mais profundo, o ventre agora mais alongado, e que não seja o  Amor, tarde na hora do adeus que dali nasceu e cresceu...


Onix

Silêncio absoluto


 Já nada se move nas ruas...

Silêncio absoluto 

a reclamar um sonho 

que sabe ocupar 

o seu devido lugar.                                    


Este zumbido noturno

a querer entrar, 

a querer entrar, 

sem mesmo saber 

se neste lugar

habita um outro silêncio 

capaz de o enfrentar


DM

Sigo-te


 

Um ritual que apetece seguir

este teu caminhar sobre as águas

incentivando a volta das marés claras


Há na força dos ventos

uma brisa que te acalma 

nas manhãs submersas

e eu sou tudo o que disseres

quando já nada quiseres 

ser em mim


Dolores Marques 

Simbioses Montemuranas um livro de Dolores Marques


 

segunda-feira, 24 de julho de 2023

E só o amor nos seja liberdade


 Vamos para algum lugar

onde o tempo não nos encontre

e só o amor nos seja liberdade

a ver pelas últimas chuvas caídas

que sempre foram eternidade


Entregam-se ao tempo sem idade

a desejar amar só porque  

o  amor é saudade 

mas a noite é pesada demais 

para um amor antigo

que faz da imensa solidão 

grades de uma prisão


Vamos ser amor às janelas

e fechar as portas ao vento

que traz consigo as correntes

da idade do amor dorido

castigado pela não idade


Sinto a fragilidade das horas

a passarem junto dos meus cabelos

e os olhos entregues às lágrimas

que se perdem no caminho da boca 

e se afundam como se fossem 

gotas de orvalhos 

esquecidas nos prantos


E eu amo assim de um jeito 

meio arcaico, às vezes laico

frágil neste espaço fechado

da noite, onde nem sempre 

a Alma dita  a palavra certa


Mas como se ama então 

o Amor sem ter que pedir perdão?


Estará o Amor escrito 

nos manuais antigos do tempo ?


ONIX. DM

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Apocalipse


 Limitei-me a contradizer os meus pensamentos e quando dei por isso, já se tinham reduzido a pó. 

Sucumbiram perante o Apocalipse 

(DM)

Fragrâncias nocturnas



Será na penumbra da noite 

Que os sons se perderão 

Será no silêncio de mim 

Que os tambores soarão 


Serei eu 

Sempre a Mulher 

Com um destino a cumprir 


Colherei as fragrâncias 

Nocturnas 

No colo das rosas 


Procura-me em todas elas 

Um canto, um poema 

Ou a última prosa 


DM

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Cativeiros



Há olhares amofinados

Arredados do único ponto

Onde se abre a Luz


Efémeros os gestos

E os olhares que se tocam

Sem a nudez da alma


São de muito longe

Estes cativeiros

Lembrados ainda hoje

Sempre que se abrem

E fecham cegamente

Ao encontro

De um qualquer ponto

De passagem


DM

quinta-feira, 13 de julho de 2023

Almas


 Folhas soltas por escrever, e o rio em puro manifesto...

Levantam voo no momento do beijo, quando o dia se anuncia com uma mão cheia de rosas....quem sabe. Comecem pelas brancas, para abrir caminho à paixão, e depois, claro, está o Amor. Não se atrasem na semana como se tudo fosse um jardim, incluindo a mulher. 

Depois, o mar, o melhor dos dois mundos, o dele e o dela sobrepostos em ondas multicolores de paixão.

Às vezes, encontrar a alma gêmea, é um ajuste de contas para o bom, ou o menos bom.

Dm


Maria


 Saibam que a minha melancolia, é fruto de um passatempo nostálgico, duvidoso até, mediante certas verdades noturnas. A noite é a protagonista de um poema antigo, ecos a difamaram os dias, que de algum modo esqueceram a inspiração, só porque nasceram dias.

Às claras, todos os vultos sao passageiros incógnitos. 

E eu...não sei bem. 

O homem é nome próprio, representativo da humanidade. 

Eu sou Maria

 Se quem me representa, é mulher virgem e imaculada....

E eu....não sei bem...

Já pequei, porque o homem adormeceu no meu colo?


Dakini

Vaguear no tempo


 Penso que ando a vaguear no tempo....(sei lá). 

Um dia sou eu, outro nem sei se sou tu, e outro ainda, talvez seja mesmo um espaço vazio no tempo, quando com ele falo, como se comigo falasse. 

Nem sempre há tempo para tudo, como se nos volvessemos à terra tais sementes perdidas nos sulcos ainda secos.

DM

terça-feira, 11 de julho de 2023

Espaço vazio


 A subtil 

mutação dos corpos

inscritos na quietude 

dos olhos

sonega a respiração

acabrunhada

à semelhança

de um momento tripartido

da alma 

que se achega 

sem conhecer o espaço vazio

do tempo


Regressam as sombras

nascidas do ventre 

onde o silêncio geme

por achaque 

de um prenúncio


Dm

domingo, 9 de julho de 2023

Incomum


 Incomum


Quando à Vida ficares a dever

o sentido orientador de uma vida

não saberás se quaisquer mudanças

ocorrerão enquanto respiras 

ou se o império da morte será 

o vislumbre secreto do eterno abismo, 

onde jazem  os teus pecados mortais


Quando a Alma se ancorar

às correntes mais densas do corpo

escrever-te-á um pequeno trecho

do que ficou da tua história, ainda viva


O princípio dos actos

primeiro e último, marcados 

no contraponto de uma escala infinita,


esses sons indubitavelmente melodiosos 

a ocorrerem nos anais da tua inspiração devida


Um sopro resgatar-te-á ao tempo

e a ele volverás inteiro…


Incomum


Onix

Abstinência


 A abstinência chega sempre tarde, 

quando sem se saber direccionar os castigos, 

se sobem todos os degraus de uma só  vez, 

para se chegar mais depressa ao céu.., 

Onix.dm

Viva-se um dia de cada vez


 Viva-se um dia de cada vez 

e tome-se-lhe o gosto, 

esse sabor de puro mel 

a escorrer-se ainda

na face de todos os dias

DM

sábado, 8 de julho de 2023

Um fundo



Quero a morte, mas nem por sorte 

Se apresenta como pano de fundo

Não é minha, e nem é tua, a morte

Apenas e só, um ser moribundo


Vejo agora um fundo, que ao fundo 

Já nem sei se é luz ou se reluz 

Mas por sorte, será a morte um mundo

À parte, que me quer só, na sua luz


Já disse!Quero a morte que nem por sorte

Já não é minha, e nem é a cruz

Neste fundo, já nem s’afunda a morte

Ou se lamenta, ou sequer, se traduz


Dolores Marques - Eventos 2013

Um sol a encher-me a boca


 Um sol a encher-me a boca quando te digo que o desejo mora em todos os meus sorrisos.

dm

sexta-feira, 7 de julho de 2023

Luz


 A luz que emanam pode ser arquivo de memória

Os equívocos são muitas vezes derivados de uma luz fictícia

A luz da qual se fala nem sempre é luz

As vezes é um reflexo, uma miragem, um engodo de um mundo à parte...e em partes

A luz agora é a protagonista de um destino, como se tivéssemos saído de um abismo profundo

Nós somos o maior abismo onde nos afundamos tantas vezes com a luz que julgamos ser

....

Onix

Que é de todos?


 Onde estão os olhos que desnudam as formas?

Por onde anda o olhar circunscrito no centro, no maior centro onde o tempo é rei?

Que é do corpo, quando os olhos se entregam à maior lua nunca antes vista no céu?

E nas mãos abertas, os traços do destino ainda em aberto? Onde estão?

Que é de Ti, quando sobes ao cume mais alto da montanha e gritas por mais céu?

Onde estamos nós na abundância dos abraços semi-abertos na escuridão?

Que é de todos à entrada do Portal aberto à luz?

Onde estão todos, os que na noite não se sentem porque as portas e as janelas trancadas, fazem do espaço onde guardam os sonhos, a sua maior prisão?

Que é das mãos, quando dadas e não aconchegadas no peito, o lugar eleito ?

Que é da consciência límpida na arquitectura de um pensamento livre?

Que é do mundo?

Como será o nosso pequeno mundo, quando aberto num caminho deserto?

Como será a esperança ainda entrelaçada à espera das maiores conquistas do nosso pequeno mundo?


Dolores Marques(ONIX)

quinta-feira, 6 de julho de 2023

A noite caiu sobre os meus olhos




A noite caiu 

Sobre os meus olhos

Nascente afrodisíaca

Das muitas estrelas

Diz-me que há vida

A brilhar no escuro

E de muito a descobrir 

Para lá do rio

Quando chegar a manhã

Reafirmando a cor

Do movimento das águas


DM

quarta-feira, 5 de julho de 2023

É quase Setembro


 Quando não souberes de mim, estou por aqui no enredo de um poema serrano.

Quando não me ouvires chamar por ti, procura pelos ecos que são ainda poesia serra acima

Em baixo, o rio é meu companheiro, talvez me ame como eu mereço, quando a lua baixa ao nível dos meus sonhos

Queres vir comigo dourar o tempo das searas?

É quase setembro!


ÔNIX

As vezes invento o Amor




 As vezes, invento histórias

Para poder sonhar

E trazer-te para dentro delas


Outras vezes, os sonhos

Ficam presos nas vielas


Às vezes, invento o Amor

Outras, és tu

E algumas elas


Dolores Marques 

Amor


Às vezes penso que te amo. Outras, não sei se é uma ideia, cujo sentido está em concordância com o Verbo. 

Mas, que penso em ti, sempre, como se fosses o amor, é verdade.

Dolores Marques 

segunda-feira, 3 de julho de 2023

Queres?


 Sinto algo... aflora 

estranho dentro e fora

num círculo inacabado


Não é fogo

Não é tesão

Não é fluxo de paixão ardente

o teu ser inteiro granjeado em mim 


Vem comigo

até aos confins do meu corpo 

ainda virgem

desbravar o que é teu

amor meu


Sinto-te eu mais eu

em nós e sem nós

Somente um curso de água corrente

nos poços fundos de um rio


Nao sei como é nao saber de ti

tudo me passa através desse olhar

irrequieto

estrangulador do que nos afasta


Tudo é aniquilado... 

o tempo

o espaço

os medos dos não-eus

os sonhos a preto e branco

abandonados nos lençóis


Tudo és

inteiro e somente tu e eu

chama intacta no meu ventre


Nasces do tempo incerto das águas

 roubadas à fonte primordial do desejo


Escrevo agora para ti

Amor roubado aos quarto elementos

um poema do tamanho do teu sexo...

inspirado em outra dimensão


Agora inspiram-me erotismos 

da paixão

poemas ou não, impressão minha 

assinada por um grito que nasce agora

da garganta


Firme esse corpo todo suado

ainda embaixo...encimado 

e na boca expirado 


Sim ou não?

Queres?


Eu não tenho mais nenhum pudor

sobre este quinto elemento

Ritual ....porque o são

todos eles  


Dakini

domingo, 2 de julho de 2023

Luz


 Alguma coisa neste espaço 

Me seduz

Não sei se é a noite

Ou se tu, apenas

O que resta de um dia

Que ainda é luz que reluz


Tudo pesa ao fechar os olhos 

E sendo a noite

Toda ela um pouco de ti

Fica sempre aquele doce encanto

Tu, a noite, eu e a madrugada


Tudo me é permitido

Na nudez clara 

Desse manto sombrio

Sendo nostálgico um beijo 

És tu a boca, eu a língua

Mel nos lábios obcecados

Por mais de tudo o que És


Luz 

Dolores Marques 

Débil morte do homem


 Não sei quantas gotas de orvalho  

serão as perfeitas lágrimas caídas 

ainda que sob o disfarce da lua

evidência da sua face negra

com previsão de chuva dentro 

e não fora de mim 


Não sinto a causa disso tudo

nos beirais, nem o nostálgico choro 

se abeira das vidraças ainda fechadas


Sou eu, o silêncio, e uma lágrima antiga

nos telhados

somos nós, eu e o homem

que sem nos vermos

colhemos chuvas intemporais 


Na dúvida espera-nos um livro

na história, repetimos os amores 


Ao longe, ouço o rebuliço das águas

que nunca são demais

quando percebo o quão me saciam

breves, mas densas nuvens a pesarem ainda

sob um céu brando 


Caiu sobre o meu corpo 

todo esse temporal assumido

e nada faria sentido se assim não fosse

essa débil morte do homem

nos espaços fora e dentro


D'Onix

sexta-feira, 30 de junho de 2023

Terra de ninguém


 Avistar o horizonte

e querer ver o mundo do além

é saber-se eterno

doado à terra de ninguém


Trespassar o véu e cair no céu

essa dor(mente) queda abrupta

que é sair-se de órbita

e ser-se um mero sinal no Espaço 


DM

poemas 2010

Lantejoulas


 

Procura-me na estação das flores

e na dança dos ponteiros 

do relógio…


Encontra-me em casa

onde arrumo, às pressas...

a noite 

nas lantejoulas 

dos vestidos que não uso

e que o tempo pare


Encontra-me hoje !


Amanhã é às vésperas 

do seu longínquo espaço

ainda não arrumei lá 

o meu lugar


Não me percas agora

que me esqueces

no bailado das asas

de todas as aves

que sobrevoam o Vale


Marta do Vale, pseudónimo


quinta-feira, 29 de junho de 2023

Vamos os dois, Amor




Vamos os dois, por aí acima

pelos ramos das árvores 

no tempo dos ninhos 

e dos frutos a florescer 


E depois, 

ao ouvirmos os presságios das águas 

nascentes da boca da fonte

saberemos ver nos espelhos de água:

um reflexo 

um caminho novo

uma existência ainda por nascer


Vamos juntos

subir às copas das árvores

a ver se avistamos os dois 

o mesmo Vale…


E depois, 

por sentirmos nos corpos, 

a estação nova das aves a cantar


Vamos os dois, AMOR


(Marta do Vale, pseudónimo)

Muros


 Já não me quero

em espaços fechados

onde os muros são frios

e os meus olhos

fundos inexistentes

onde o meu corpo descansa


Há a livre vontade de ir

e não voltar

a ser terra á vista

nos mares

onde a saudade se colhe

na linha do horizonte

e a tristeza se reúne

nos céus


Há estios desgovernados

e colheitas tardias

nos meus braços 


Dolores Marques

Partos


 Partos

.....

Tenho algum receio de voltar àquele chão

O silêncio ali sepultado, arrasta-se ainda como se fosse um manto antigo, agora rasgado, ensanguentado.

Ouve-se esse ruído, cujos ecos ferem os Santos ainda adormecidos. Elas, as santas estão todas vestidas de noivas. Nunca vi nenhuma grávida. Eram santas, por isso mesmo,  não tinham gerado vida. Controverso todo este cenário de água benta. Também não poderia ser de outra forma, o rio leva muita, e é  paredes meias com a igreja.

 Estou em crer, que pelo andar destes Santos, o rio Paiva estará prestes a desaparecer. Quando secarem todas as nascentes de água das encostas da serra do Montemuro,  ficamos limitados à água benta das igrejas. 

O tumulto começará aí....decerto.

Não há forma de dar Vida a algum santo. Era só para ele ou ela saberem como se irá viver sem água benta no futuro. Talvez possam dar à luz, o elemento água.

A minha mãe parou 3 filhos.

Eu fiquei no meio de dois homens.

Dizem que no meio está a virtude.

Não me seduzem alguns conceitos, resultado de frases feitas, cujo sentido é de manipular a opinião que temos das coisas 

Mas sim, nasci virtuosa porque virgem, dizem ainda os homens de hoje. Onde andará o homem de amanhã? Preciso encontrar a minha cara metade.

Virgem...preciso ser virgem...


Quem inventou que a virgindade era só um detalhe atribuído ao gênero feminino, devia ter sido castrado.... e pronto, sumia com todos os conceitos filosófico-religiosos, que desenham ainda  tiaras de flores secas nas paredes do confessionário.


Isto começa a alongar-se muito, digo o ventre.

Engordei, é isso.

Sim porque só por um grande milagre, eu podia ficar de barriga.

Virgindade, dizem que já a perdi. Eu acho que não. Sou até, "Maria e tudo", Maria Dolores é o começo do meu nome.

Como não me deixaram um resto de Virgindade, inventei um novo baptismo no rio Paiva.

Quem disse que só um homem da Igreja o podia fazer?

Se fosse uma mulher até seria interessante.

Mas as mulheres não podem dizer, rezar missas nem confessar ninguém, muito menos homens.

....mas isto já vai longe....este tipo de alarme diurno é esquizofrenia a deitar por terra todos os silêncios rasgados, partos nocturnos gerados pelo próprio.

Progenitor é ele...e não precisa do sexo oposto

Um parto de silêncio não é o mesmo que um pacto de silêncio.

Por isso escrevo. Sou livre ainda, apesar de não ser virgem....

.....


Dakini

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Gemidos


Passou agora aqui o canto das aves

Trazia rasgado um sorriso

Como quando se ouve a Norte

O timbre do vento

Com as cores de alguns pingos de chuva


Gemido quente entre o tinir das lâminas

Amolador quedo e sisudo… pensa


Enquanto espero que um tom diferenciado

Amoleça o eco das minhas têmporas

Recebo na palidez do meu rosto

Uma asa ferida…


DM

Uma era da cor do sol



Eram dourados o céu e a terra

era um olhar cor de bronze

nascido numa era da cor do sol


Dos olhos soltavam-se faíscas

tais pirilampos a cobrir a noite


Na boca nasciam rios

à semelhança de outras eras

propícias à nova estação


No corpo germinavam 

as novas sementes

de onde nasceriam as novas flores


Nas mãos nasciam 

outras brisas ressequidas 


Nas pontas dos dedos

havia ventos ciclónicos

a separar os raios solares


Via-o sempre nos meus sonhos

esguio o corpo...felinos os gestos

olhos fixos no mesmo local

onde me encontrou


Caminhava breve

soluçava em prantos

movia-se como se fosse

uma nuvem de algodão


E foi então que se lembrou

de como as noites baixam

aos meus olhos


Sendo livre o meu sonho 

é-o na forma abstracta

dum pensamento 

a dar novas formas ao corpo 

nascido e criado no mesmo lugar


É agora a hora de mudar as cores

que nascem nas quedas de água cristalina


Os olhos tombam 

as mãos descaem

o corpo amolece

o olhar sucumbe


O pensamento quebrou-se

nos momentos em que nada

lhe pareceu igual à cor do céu


ONIX Poemas 2013

Intervalo de tempo


 Nasci num intervalo de tempo

Tempo que passa por mim como se eu fosse um dia de Inverno

Ainda que esse encontro seja marcado por um dia gélido de Dezembro

Ainda que a noite seja um resumo poético à lareira 

Serra, terra minha, mãe de todos os tempos passados à janela

O rio ao fundo

As águas passadas

As correntes de ar, agitadas no telhado

Xistosos os momentos calados


E eu deitada

os olhos no tecto

e as marcas do tempo do fogo nas mãos


ONIX. Dm


Habitantes de um lugar


Dizem que o sonho mora perto de ti

mas eu não sei onde moras

dizem também 

que tudo se move em direção ao sonho

mas que sonho é esse 

e em que lugar da noite se guarda

irrelevante caminho ?


Assombrado por silêncios malfadados

vento forte uma noite

perfil enigmático em cadeia


A monte, não é um lugar seguro


À imagem dos dias, somos

indubitavelmente

esculturas de anjos 

metade, em busca da outra metade


Um poema mentiu-me a vida inteira

Eu julgava ser a sua autora

Ele supunha ser o meu dono

para sempre 

Sempre que eu ousasse ser poesia


Soube sempre ler estes versos  

contrários a tudo o que sabemos 

ser verdadeiro ou falso 


São só uns versos curtos

que o elegem meu 


Mas, meu quê?


Não possuo esse domínio, ainda

Eu ser ele

Ele ser eu

Ou quem pensamos ser no mundo da ilusão


E tu

quem raio pensas que és, neste poema?

Deus?

Os deuses vivem no paraíso

E o paraíso

é muitas vezes o corpo de uma mulher nua 

deitada numa praia deserta 


E nós

habitantes de um lugar 

não podemos saber tudo


Mas que lugar é este?


Dakini,dm

terça-feira, 27 de junho de 2023

Eu era feliz, dizem

 


Quem diz que eu era feliz, 

não sabe nada, 

sobretudo sobre a felicidade 

ser um ser vivo

 pronto para entrar em mim 

a qualquer momento


Tu és a felicidade...

Sinto-o cá dentro, esse caminho longo

Onde tudo é possível, 

quando caminhamos Juntos


 Eu era louca dizem….

Loucos os poucos versos 

que nos definem

não sabem da loucura 

de quem nos lê


Sem poesia sou nada 

Uns parcos sonhos nascidos 

Ainda eu era menina


Nunca soube porque o era

Se pensava, falava, sonhava


Sonhava os meus sonhos

Às vezes os teus, os nossos


Eu era feliz, dizem… 


Dakini, pseudônimo 

Universo tântrico



A somar ao silêncio 

mais silêncio

mais ausência

mais dor

mais os violentos ventos do norte 

quando o meu corpo é bramido silencioso, 

templo de um único sol


(Quando o sol se põe todo o silêncio é rei)


Trajada a noite para uma longa viagem, 

tudo pode ser invertido num espelho, 

ocasionalmente ...

escrevendo um poema com a luz que desenha 

uma sombra deitada,


(Só para saber dela e de mim)


Eu sou do tamanho dela

Ela não tem tamanho 

Talvez por não ter nenhum tamanho

 não sabe como ficar colada a mim… 

despida


Num universo feminino 

o homem é dono de uma sombra decepada.


(Sobe por ela acima, esse modo único de prazer )


O dele é um caixa aberta para o mundo artificial

Os orgasmos ponderados

Soberbos os metódicos tempos 

Os gritos mudos

Os fluidos na demanda do prazer, 


(Indomáveis em gênero oposto ao real


Ao real lobo faminto   

Tudo lhe é 

Tudo lhe é concedido

Tudo lhe é farto, devido

E ele tudo concebe nos agrestes picos montanhosos


O longo disfarce da lua a debruçar-se sobre o meu corpo 

pernoita em mim, devagar

É dono da minha solidão, nunca de mim será, 

enquanto sóbrio


Terá que albergar o céu e a terra no dia a dia 

dos seus passos

Terá que erguer a taça vazia ao sol

até que do céu cheguem baptismos sucessivos

que o meu nome não deixará de ser rio

ou mar 

ou vento a soprar no vale 

onde descansam das intempéries,

os guerreiros 


A noite passada uivaram os lobos

Eram uivos cegos, famintos de desejo

Esta noite nasceu um novo cântico nocturno 

com a força do másculo 

deitado ainda sobre uma das sombras


Ontem dormiu ela, sossegada, não acordou

Hoje não sei se acordo eu, 

desassossego-me no sono

dono deste vai e vem sombreado


O Universo tântrico é um denominador comum


Dakini, “Onde Está o Homem?”

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Verbo


 Verbo


Nos bastidores de um cenário 

onde o poema contracena 

com o Poeta

os versos são meros viajantes 

em concordância com o Verbo


O corrupio é uma variável

a contracenar com os ecos 

de um silêncio mordaz

que faz conjugar os verbos todos

enquanto o verdadeiro Verbo 

se limita a ser só Poema


Dakini, pseudônimo 

Ilusão


 Ilusão


São sorrisos que inspiram 

sentimentos cristalinos

burburinho de silêncios 

na dança das águas

seguimento de um temporal

a ser domado por causa única

e singular 


(Há quietude nos teus lábios

colados nos meus)


Existo na segunda metade do tempo

imperfeita leitura nas páginas

por ti redigidas

a paixão era a de um livro

e o amor esse intocável sermão 

no altar da noite 


Mestre de silêncios

escritos antigos na solidão 

em queda livre me lanço 

sobre todos os ventos


Serva de um sentir livre

no tempo preso às marés

esse senhor fado, corpo esbelto

nascido de um furacão


(Há sorrisos que inspiram a ser eu

única até na morte lenta de uma ilusão


Onix.dm

Noite


 Noite


Agora que não sei 

em que morada da noite, 

o dia se fechou.


O agora é só um momento, 

quando eu e tu, longe ou perto

nesse habitável circulo da noite.


Só um som me fará 

despertar deste lugar

(Inabitável…)


Só o cair da noite 

nas folhas da tua árvore,

me dará um único fruto

dos colhidos no dia 

em que fomos muitos


Marta do Vale, pseudónimo

Foto tirada na serra do Montemuro

Ao centro


 Ao centro 

Nada mais do que um verso

Define o vôo de volta a casa

Onde o silêncio se propaga 

Até ao amanhecer 

Tal mendigo sem tempo certo


O prazer existe ao fundo

Onde não existe tempo

Todo o silêncio é humano

Menos o tempo de cada um

Trancados num aquário


Os olhos vidrados 

Vertem lágrimas douradas

Lampejos fúnebres

Por tão pouco tempo de existência

Nesse fundo alegórico

Onde o prazer é uma metáfora

Alheada do poema 

Ao centro 


Onix.dm

domingo, 25 de junho de 2023

Só quero não ser Eu


 Só quero não ser Eu


Porque me doem ainda os sonhos distantes...

Porque não sei como sonhar longe, assim tão longe, sem sobrevoar o Vale.

Porque sou como um veio de sangue que corre louco sem um pedaço de ti.

Porque há suores frios no meu corpo, como são os dias em mim.

Porque já não sou a mesma corrente inovadora, à procura de alguma porta aberta.

Porque sou eu toda, fechada em mim, com um pouquinho de nós.

Porque me doem os olhos nas noites em que não chove.

Porque espero pela melhor hora da coragem a encher um copo vazio

Porque sinto que morro em cada instante nosso, que vive em mim.

Porque já não sofro quando viajo na noite sem um sonho por perto.

Porque…

Porque tenho dias que me dói a loucura, outros a lucidez, e outros, a exclusão de mim.

Porque não sei ainda para onde vou.

Porque a cada passo em frente, mais caminhos se abrem.

Porque, agora só quero procurar um espaço da noite ainda em sobressalto…


Só quero não ser Eu.


Marta do Vale, pseudônimo

Ontem escrevi-te um poema


 Se o pensamento voasse


Ontem escrevi-te um poema

Só um que te pudesse falar baixinho

Da Alma ainda a desabrochar nesse jardim

Construído à beira-mar, por nós dois


Esbocei num papel rasgado

O resumo do poema 

Para que te soasse inteiro

Tal como tu és o meu primeiro


Pensei nas melhores imagens

Imaginando-te simplesmente, Amor

Ainda que numa escala invertida 

Mas, consentida pela simbologia 

De uma grafia antiga


Projectei sobre esse momento, um nome

Que me lembra ainda 

Uma mensagem singela em aramaico


Se o pensamento voasse

Resumido numa só palavra

Que nos libertasse deste caminho

Que percorremos, solitários


Marta do Vale (dm)

In Yang


 In Yang


- Não, não sou poeta. Escrevo poemas, dizes?

- Nao sei se assim os lerão.

- Lê-me um poema meu e dir-te-ei se sou poeta, ou se porventura, serás tu o poema.


- Em que ficamos? Preferes ser poeta ou poema? 

- Vou beber água à fonte que resiste ainda na casa de cima.

- Eu tenho fome. Sinto um desejo a crescer nas mãos. Acho que prefiro colher frutos do pomar. Das romãs, sugo o primeiro elixir do dia, como se fosse o último da vida desse arbusto florido.


- Os meus pés dão sinais de um cansaço estranho, como se o meu corpo os largasse, condenando-os aos subúrbios de um céu a preto e branco. 

- Enquanto isso, o meu corpo assume-se esquartejado, resistindo somente a alma, como se fosse a casa de Deus.


- O meu coração dá sinais de euforia, enquanto tombadas, as romãs se achegam perto da boca.


- Procuro rimas para um poema sem voz.


- Nada me importa, desde que sejam libertas todas as aspas que alguns poetas têm ainda presas, na garganta.


- Não, não sou poeta, escrevo poemas, dizes? 


Epifania (pseudónimo)

Sombra

 

Sombra


Não me queiras mal

que eu também não


Não te sinto perto 

nem longe  

transferência incolor de néons

cintilante desvio de vidas passadas 


Sombra...sombra...sempre tu 

equivoco rastejante  

fria

madrugada além do dia

não me digas nada hoje

talvez amanhã sejas poema

um corpo

a alma que sorri


Não sei como avançar sem te levar

sombra inquieta

melódica

metódica

amante da noite

rastro de sangue 

quebranto de um santo

ainda vivo


Herege…herege…herege

é este pecado meu


Não me queiras mal 

que eu também não 

o vento, agora companheiro

varre as sombras dos caminhos…


Guia incompleto

replecto de mistérios

não me sei noite 

nesse cruzamento de dados...

não me sei dia

nesse limiar da tristeza


No limite serei eternamente nós 

sabias disto

ser um dos maiores… nós?


Não….

decerto não

eu e aquela sensação 

clareza de um rio veloz 

corrente insidiosa 

toma-me…inerte…

sempre inerte este invólucro da alma


E tu, sombra 

que vives à sombra de mim

pára

não me afrontes 

enquanto durmo


Que sonho


Dakini, pseudônimo

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Mulher


 Despida para a maior parte,

sou a loucura de uma noite fechada

em nós 


Sou a mulher 

que te ama como se fosses o Amor

nascido do meu ventre


Nua nas tuas mãos, serei 

a luz que emanam

esses transeuntes noturnos

a procurar a justa causa

disto tudo


Depois nada és

quando dentro de mim

souberes que somos nós

um e outro 

na procura da verdade

....

Marta do Vale, pseudônimo de Dolores Marques