terça-feira, 31 de março de 2009

Ouve-me!


Sou um sonho errante
Que se deita no teu corpo
Sem vida…
Já não te sinto
O peito ofegante

Este é outro ar qu’inspiro
Sempre que me sinto perdida
Encosto-me ao teu sopro
Que me beija sempre
À despedida

Casuais encontros
Expostos ao mundo
Só eu e tu…
E os efeitos lunares
Na terra que se quer viva

São as causas nas encruzilhadas
E certezas re-lembradas
Na palidez triste...
A marca da aliança
Que morreu de pé

Ouve-me!
Já nasceram os rios
Que em ti naufragaram
Lembro-me ainda dos temporais
Que irrigavam os teus olhos

Galgaram as margens ressequidas
Tornados afogueados
À roda de mim
E dos mares esquecidos

E eu parti à descoberta
De outros sóis
E umas quantas marés
Me levaram…
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quinta-feira, 26 de março de 2009

Preciso de Um Sitio Para Morrer


Preciso de um sítio para morrer...

Aguardo por uma hora para vencer o medo
e de um momento para SER
através da morte,
mais que uma capa que tapa
e outra que destapa...

Este frio que me domina a mente...

quarta-feira, 25 de março de 2009

Depois a Vida...

Relembro-te...
Sentindo-te o gosto
Sim, aquele terno frio na alma
De te saberes por aqui
E o prazer de seres também aí

Criaste raízes fora de ti
Bebeste da seiva pura
E nas gotículas de orvalho
Foste à transparência
Flor caída pelo chão

Relembro-me...
Comigo também foi assim
Quando me vi ligada
À minha Mãe...
E a tocar nas alturas
Os braços de meu Pai

Sou aquele vento que suspira
Nas (en)costas do passado
E se lembra sempre
Do avesso do mundo
Preso ao futuro...
Depois, a corrente (vi)vida!

Fui nascente perdida
Nas águas dos oceanos
Saciei-me de ti
Esta sede...
Esta fome...
Nos lençóis da vida

Mortalhas caídas a teus pés

terça-feira, 24 de março de 2009

À Espera...

Perco-me sempre nos meus sonhos…

Quero ser em tudo
E esqueço quem sou
Nesta que é, a terra criada
À margem de ninguém
Onde as quimeras se gastam

Procuro-me por aí fora de tempo…

Ando desnorteada
Atempado é o meu posto
E encontro-te sempre algures
Mas não me vês daí
Quando sorrio para ti

Há uma página em branco à espera…

Lanço-me daqui...
Este é o último voo
E as palavras escorrem-me
Pelas pontas dos dedos
Arrumei o último capítulo

Partiu em dois...
Os dias
Que me levaram a mim...

segunda-feira, 23 de março de 2009

Surfando


Assolam-me ondas de cristais
Sou um equilíbrio forçado
Latejando...
Deslizo por teus ombros
Sugo-te a força das marés
E tu sentes o meu bafo quente

Sou na onda que me quer
Bem ou mal
Não sei!
Mas vou surfando
À luz do sol
Até embocar na noite

Aí...Adormeço na lua
Qual feitiço me toma sua

segunda-feira, 16 de março de 2009

Um Cheiro a Terra Na Suavidade do Alecrim do Monte

Renovo-me sempre
Quando me perco
Nos caminhos da incerteza

A morte que cai por terra
Desfaz-se em pedaços
E a luz que anda a monte
Traz paisagens
De um mundo triste

E a solidão chora!

Chora pela terra agreste
Que a viu nascer
Antes do tempo

Eu quero um sorriso nu
Onde a desgraça se perde
Em avenidas estreitas
Quero a livre vontade dos povos
Saciada em ti

E a voz canta !

Canta nos rios
Que ficaram perdidos
Na terra de ninguém

O sonho é colorido!
Na face rosada
Há um rosto magro
E plantado na tez
A suavidade do alecrim do monte

E a boca sorri !

Em lábios fartos
Deitam-se os dias calmos
E cobrem-se da cor da paz

Busco-a inteira
Na esperança de cair
Por sobre a terra
Uma flor do monte
Que se abre a nós

E a nudez é plena!

Tem no olhar a plenitude
Volúpia escondida
Sobre o mar

Quero penetrar-lhe
Sem saber quem sou
Límpida da cor das águas
Plantarei nas ondas
Cascatas guardadas nos meus olhos

E o corpo é um ritual!

Dança sempre
Na esperança de ter
Um mundo a sorrir

E ele sorri sem parar
Busca-me um corpo nu
Um cheiro a terra
E um rio que se esquece
De dançar no mar

terça-feira, 10 de março de 2009

A Morte


Nada como falar da vida e o do que nos faz ser em liberdade, através do despertar de consciências, quer individualmente, quer no colectivo, (que são uma só), para nos levar a falar da morte.
A morte que chega de mansinho, sem bater à porta, sem fazer barulho, sem grandes desassossegos para uns, e com grandes perturbações para outros, mas que nos priva dos que mais gostamos, dos que nos são próximos...

Enfim, e por fim... que nos priva de nós!
Somos o reflexo do que ficou do outro em nós e nada nos pode aniquilar essa pertença. Por isso o que é a morte, se o outro continua em mim, através das vivências, das alegrias, das partilhas, das amizades.... e por fim o AMOR. Essa palavra que anda na boca de toda a gente - é quase como aquela célebre frase "como evocar o nome de Deus em vão". O Amor opera mudanças drásticas no ser humano, se ele se abrir ao amor. Porém essa abertura é lenta e dolorosa...

Se soubermos como olhar a morte de frente, e aprendermos a conviver com ela, daremos mais um avanço naquilo que é a nossa passagem por este mundo.
A conquista de outros mundos se avizinha sempre, quando iniciarmos a grande jornada solar, até ao infinito de nós, passando pelo infinito mundo das estrelas.
Neste que é um mundo das ideias e dos pensamentos, seremos um mundo a descobrir sempre que nos descobrirmos, e são esses passos que nos levam para aquilo que eu chamo de jardim da vida.
Neste jardim as flores não se perdem, transformam-se através das mudanças, que se operam nas grandezas de um céu que se expande e nos recorda a todo o momento, quem somos.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Morri Para Ti

Machuco-me por dentro só de nos imaginar
Um mundo ainda por nascer
E pensar que podia eu levar-te a ver as estrelas
Focaram-se na lua na noite finda
E viram-te a sondar um sonho na alvorada

Na lua, há restos de sol caídos no chão
Inundam as crateras que dormem sobre a noite fechada
Os teus ideais soltaram-se nas fragas soltas
E aconchegaram-se no pó que fareja o vento
Mas ele foi-se num suspiro

E eu fiquei ás voltas com o tempo em que via os rios
Os mares tenebrosos caiam-me sobre os ombros
E eu deitava-me e dormia

Dormia tanto...mas acordava nas madrugadas
Os meus olhos secos e as lágrimas caídas
Rolavam pelo chão
Já me afogavam o leito
E num espanto eu dormia...dormia

Mas tu não vês o que o sono me traz
E choras lágrimas que se prostram aos pés do vento
E o vento rasgou as vestes que trazia
E tu ficaste só ao relento

Que há a haver....a não ser esperar por mim
As marés calmas abalroam-me sempre nas tristes madrugadas

Não vês que não nasci para ser
Nus versos...
Que se curvam ao vento que passa?
Eu sou o que desejas na lonjura dos teus caminhos
A tua busca interminável

Mas já morri para ti
E não me queiras germinar de novo
Quero renascer num poema só
Que me leve...
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