terça-feira, 30 de novembro de 2010

Coisas Íntimas



olha-me sem me dizeres
dos meus olhos
fechados
dita-me dos versos teus
que são como água benta
a salpicar-me o rosto
e déspotas
no meu corpo
a criar efeitos especiais
na minha pele

sou do lado de fora
das imagens
que carrego nos olhos
visto-as de cores diversas
onde coloco os teus pertences
coisas intimas
que gosto de tas saber
em mim

mas ser-te assim...
não sei
se sei
não sei se é bom
se é mau
se gosto assim
de me conformar
só com um pequeno
desfrute do teu corpo
no meu

Nascente dos desejos

(Foto minha em Lamego)


Se por um lado vejo desejos a nascer todas as manhãs, por outro, tenho receio de cair no ridículo, por não saber escolher um só que me satisfaça por completo.


Hoje vou beber à nascente dos desejos novos...Quero um acabado nascer

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Um Gosto

(ISIS - Deusa Egípcia)
*

Não me apetece saber
O fundo das coisas
Gosto assim
Quando mas dizes
A viva voz
*
Gosto de ti
Pelo que me és
Mas preciso
Saber-te mais
Nos sons
Nos cheiros
Nas urzes
Nos medalhões de sol
A regenerar
As encostas da serra
Nas novas flores
Do alecrim do monte
Na minha e sempre
Altivez descomunal
Que desce sobre ti
Devagar
A saber-te no infinito
Onde se esconde
A tua vontade
De me seres
Uma
E outra vez

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Silêncios (dedicado a Da Cunha Manuel)

...onde se encontram todos os longos silêncios
a não ser na solidão dos poetas...
onde as palavras ganham uma força descomunal
os sons se interiorizam
para dar voz a uma melodia interior
capaz de se limitar no tempo
para voltar e ser sempre o tempo
na voz de todos os poetas

terça-feira, 23 de novembro de 2010

De Verão a Verão

(Foto D.M. - Serra do Montemuro)
*


Sou em ti sonho louco
Por todos os mortíferos rostos
A cavalgar na escuridão
A deitar-me nos teus braços
Na procura da longitude do mar
Na mesmíssima terra onde os justos
Se acabam aos pares
As orquídeas fazem levitar os andores
E os santos caem ímpares
No desejo de serem
Os primeiros sacramentos Baptismais

Soberana
Casta
Imagem verde
Nos olhares de quem tem fome
Espécie dizimada no teu corpo
Folha virgem
Nas mãos de quem ousa desafiar o destino
Ramagens a colher as primeiras gotas da chuva

Tenho-me na secura dos montes
Nas pradarias onde a morte é razia
A quebrar as pedras onde deito a cabeça
E gravitam os sonhos
Até à chegada de mais uma leva de conquistas
Para a união das serranias graníticas
Onde o vento uiva
E os lobos se amamentam
Dos odres de uma espécie
A medrar nas minhas mãos

Virgens, eternas e casuais, causas
Na boca de quem não sabe
Que o Verão é fustigado
Pelo quebranto das horas
Em estios Invernais.

Esburacados estão todos os momentos
A quebrar a secura do início do Outono
As jornas, requerem sabores doces sazonais
Pétalas vítreas
Matagais a resvalar por entre todas as vestes
De uma imagem quebrada
Içada pelo toque azul que se esvai
De Verão a Verão

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

ET


E que tal criar uma imagem nova, a pensar nas imagens de banda desenhada do futuro?


Talvez assim os nossos olhos fomentassem uma aproximação dos objectos não identificáveis....até à data


Rostos sem cara



A Cimeira astá a transformar esta cidade, numa cidade fantasma.


As ruas praticamente desertas, os carros circulam em zigue-zague, e o rio até espelhou as marcas, que se preparam, para estratégicamente, cairem em cima de todos os rostos sem cara..

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Este lume


Vi-te como se fosse a primeira vez
Vi-te mas não me viste a mim
Continuavas o teu caminho
Na certeza de um A-deus

Então que Deus te acompanhe
Que eu por cá vou indo na
“forma do costume”
Acostumada a vender ideias ao lume
Este lume
Que acende todas as ideias expostas
E sobrepostas no negrume
Do seu queixume

(Acabei de chegar à via principal
Onde desfilam nomes
E caminham torpes pelas pedras
Amolecidas com o som da minha voz)

Há gritos no escuro
Maremotos nas vozes de aquém
E d’além-mar
Mas eu sou aqui neste infinitésimo
Quadricular de ondas herméticas
A cair-me nas mãos
Nos pés
E no corpo já feito
Para se dar á corrente

(E a corrente é o caminho das mãos
Daquelas que se põem a jeito
De se tornarem fortes desejos
A cair-me dos olhos)

Espaço


Continuo com muita vontade de continuar a pertencer à classe dos marginais do espaço, alienados que são por todos os benfazejos da terra, que largam a pele na terra e comem pirilampos no escuro

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Imagens


Há vontades tão cheias de imagens que até me custa voltar à minha própria imagem...


à anterior, antes de me meterem esta na cabeça...

Jugos

(tela Paula Rego)

Julgo ser uma figura abstracta, sempre que me junto à verdade inteira de todas as figuras molestadas por jugos condutores de um orquestrado ritual de mostradores informes.

É onde os moribundos se recolhem nas paletes de cores, retiradas ao acaso de um fio condutor comum ao mundo dos vivos, comungando hóstias e sopa de letras em dias de Domingo.


sábado, 13 de novembro de 2010

Verdes lembranças




Verdes lembranças
De menina
Dourados os sonhos
Que ficaram presos
Nos salgueiros
E nos amieiros
E que por fim
Se afogaram
Nas correntes
Profundas do rio

Tenho para mim
Que por falta de algum
Meio de me saber
Vou sendo alguma coisa
E outros que com o saber
Vou sendo nada
Nas finas lascas
De uma lousa de xisto

Um doce lambuzar
Até aos cabelos
De amoras pretas
Tão pretas quando a cor
Da pedra onde riscava
Os sonhos todos
E me levantava a pique
Tão a pique quanto o sol
Por detrás da noite

Veio uma luz
A cobrir-me
De todos os azuis celestes
De outrora
De quando ainda era
Uma menina
A pintar na relva
O céu
E a lua
E as estrelas
E eu

Gostava de pelo menos
Ser uma estrela
Aqui em baixo
Com luz interna
Que só eu visse
E me reluzisse por dentro

Dizer-te Amor, Saber-me Amor

(foto Dolores Marques)

Nada sei de mim neste mundo
De personagens inventadas às pressas
Quem sabe, estarei aí numa dessas

Nada sei de mim nesta hora
Quando me deito
Se irei voltar amanhã de manhã
Se irei sair por tempo indeterminado

Amar-te seria um bem
A propor tréguas ao tempo
A milhas de um outro tempo
Já morto e enterrado
Em que me escondi
No vazio nocturno

Amares-me seria um bem maior
Dizer-te amor
Saber-me amor
Fazer amor
De pé, deitada ou em contra-mão
E teres-me assim
Deitada no chão
Beijares-me a mão

Se te amasse e se tu me amasses
Quem sabe
Às vezes penso que ando sem andar
Neste caminho torto
À espera que me descubras
Nas curvas e contra-curvas do meu corpo
Pois nada sei de mim

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Recuso-me a não acreditar


Recuso-me a não acreditar no ser humano, recuso-me consciente de quem temos muito ainda para fazer em prol de um bem maior que é a vida no seu curso lento e sossegado como as águas calmas de um rio...

Recuso-me a não acreditar.

Ler mais:
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=160050#ixzz14yNCFYWu

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Conta-gotas


Há contagens precisas num dia de conta gotas. Se quiserem podem até ir pedir para a porta da igreja. O que não lhes garanto é que estarei lá para as acolher no seu propósito de simples contadores de histórias.


Benditos os justos valores que sabem crer num dia de chuva e bebem gota a gota o que lhes resta…

domingo, 7 de novembro de 2010

Eram rosas os meus olhos


De costas no sobrado,
E o corpo cansado
Com os olhos no tecto
E só o tecto, o mesmo tecto
Onde rabiscam sonhos por alcançar

Com os braços caídos
Os joelhos erguidos
E as mãos sobre o ventre
No ventre, e só o ventre
Concavo lugar de uma lágrima minha
A escorrer nas tábuas lisas
Do meu cansaço

Vermelhos os tempos
Em que as rosas me desfloravam o véu
Rosas, eram rosas os meus anos de menina
A saltar sobre todos os ventrículos
De uma terra vã
Rosas, eram rosas os meus olhos de menina
A desviarem-se dos tempos escusos
A contemplar os templos
Onde descansam os corpos
E desfilam as almas
Por todos os cantos
Onde se guardam os braços
Que ceifaram todos os tempos

Gosto-te, amo-te, mimo-te

(imagem google)


espero-te no encontro
de todos dos dias com todas as noites


sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Sou eu e tu

(imagem google)


Eu sei como ser meio-louca
Sem o ser completamente
Eu sei como amar-te mar
E sentir-te força no meu olhar
Sei-te mar e lua a caminhar
Por entre as gotas de suor
Espalhadas no meu corpo nu

Cheguei a imaginar-te
Dois em um
A cobrir-me toda
Sempre que me abro a ti
E te digo
Vem
Sou eu
Mais eu
E tu
Uma força a brilhar no escuro
O Amor a esgotar-se nas marés cheias
Onde nos completamos
*
Dolores Marques

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Sou tua...

(imagem Google)



Estava aqui a pensar,
em continuar a ser só uma doce lembrança
de quando o tempo caminhava por mim
e eu lhe dizia baixinho:

és vento, chuva, mar, maresia, rio...
e eu sou tua
*

Francisco Coimbra disse...
A SI mesmo ou mesma
1
a poesia
com vontade de ser
sempre outra
coisa
pessoa,
ideia
sensação
ilha
mar
e
cada canção acompanhada à unha
no vibrar de cordas de emoção
2
já necessito
dum outro
número
coisa
ou
apenas e sempre
idade e um momento
para a viver plenamente
3
é quando me desligo
da vontade
e deixo
o desejo comandar
este destino
que... atinjo o tingir
das cores dum arco
íris agora
suspenso
nu
rodando este olhar
rumo ao Céu!
4o
Paraíso existe,
perco o juízo e entro,
onde pertenço!
5a
sensação de pertença
é tão necessária,
tãoimportante que,
poucoimporta se abandonas
o poema deixando-o
entregue a si mesmo
Aqui e agora, deixando uma palavra amiga, onde a emoção aflora.
8 de Novembro de 2010 14:19
*
Um beijo para ti Francisco, Obrigada pela visita

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Longos são os caminhos - um livro de São Gonçalves



Um livro que marca um tempo, um espaço, uma descoberta em prol de uma viagem que não se submete aos passos incertos, que se dão, na procura de um mundo que se sabe que existe, mas que esteve por algum tempo à mercê de outros caminhos, outros desejos, do corpo, outros anseios da alma.

In “A Viagem” este é o mote para a sua leitura: “ Sei lá como vim aqui parar. Foram os cheiros das palavras derramadas em papel almíscar.

O meu destaque vai para o poema que deu titulo ao livro; São longos os Caminhos”, Em que Saozinha diz: A viagem é longa, o corpo cede muitas vezes , à passagem do tempo/È a luz que nasce em mim a cada amanhecer, que me sustém e me guia”…/Tenho sede e fome de infinito.

São, escreve - in Corpo: “As vezes somos corpo nas esquinas da vida perdidos/A alma em transformação”
É esta indefinição que se sente sempre, onde há um todo que emerge e se funde em nós, e nós nem sempre estamos preparados para empreender essa fantástica viagem, nesse caminho que se vai alargando para que o corpo se submeta ao mundo que nos espera, para o encontro final.

São escreve In “Sentimentos: “Há uma esperança de vida que se esgueira da janela/Um novo sonho que renasce a cada despertar”.
E
In “AS Memórias”: “Viajei na estação do tempo, nos sonhos e nas esperas, perdida nas brumas da memória”
Há um misto de emoções sempre que iniciamos esta viagem ao interior de nós. Há calor, há frio, há o toque, há as ausências de nós, há a permanência, há a intuição, há como que uma desfloração do véu que nos envolve e nos liga a outros planos. Estamos a dobrar cada esquina do tempo com o intuito de que na próxima, nos encontremos em escala maior para um acordar suave e delicado em busca da paz, da luz, dos sonhos por achar.

In “A Alma”, Saozinha diz muito mais: “pequena luz nos confins do conhecimento”
Destaco o poema “Alquimia”: “Sei de mim nestes fins de tarde onde me encontro, no que há de mais verdadeiro”

Aqui a porta abre-se lentamente e mostra a luz reflectora de tantos momentos passados. É agora um novo caminho, não tão longo, não um fardo antigo, mas um desabrochar para a vida em estado de migração contínua num doce manjar dos deuses. A transmutação que se quer presente no corpo, na alma, e a mente a tentar derrubar muros, a tentar alcançar o ouro lado do jardim, que espera pela nova plantação de orquídeas roxas.

In “os Sonhos” – “Dos sonhos amadurecidos, faço a monção”
Por fim, a grandeza onde se depositam todas as palavras, todos os sentimentos, todas as agrestes caminhadas em prol de um novo caminho mais de acordo com o que inicialmente a trouxe aqui, Saozinha vislumbra finalmente um novo trajecto, para empreender uma nova caminhada. Os sonhos estão mesmo ali à mão de semear. Resta saber se a terra já está lavrada e arada para que do seu interior nasçam as mais belas flores perfumadas em direcção ao azul celeste.