segunda-feira, 27 de julho de 2015

Miradouros


Transformações


Imaginação ou sonho
Ou só libertação da lua
Quando se deita no meu peito
E me diz de um foco
Invertido no meu corpo

É noite
E eu sou dia
É mar
E eu sou rio
É montanha
E eu sou céu
A cobrir-lhe as partes
Mais íntimas

Aquelas que se deitam
Sempre comigo
Quando fecho os olhos
E a sinto
Corpo no meu corpo
Alma na minha alma
Sangue no meu sangue
Vida na minha vida

Imagino-me assim:
E toco-me
E sinto-te
E m’enlaço
E desfaço estes nós
Que se manifestam
Ao acaso
Pelas mãos de um ocaso morto

Dolores Marques 

quinta-feira, 23 de julho de 2015

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Está aí alguém?


- Andam todos à minha procura? Mas eles não sabem que me fui embora? Eu avisei. Não avisei? Terei ficado algures parada no tempo e não sei? Preciso saber o que se passa com os meus passos. Descompassados andam eles de tanto caminhar e rodar em sentido contrário. Poderá ter sido do vento que caiu esta noite a arrasou tudo. Nem pegadas ficaram no chão. Preciso alertá-los, para a minha ausência…. que me fui. Vivo na mortandade adversa da minha pele. Mas como poderei estar nesta área, se não vejo aqui ninguém?

- Se te mantiveres num propósito maior e fizeres da fé a razão da tua existência, terás todas as respostas.

- Mas, podiam pelo menos aparecer. Aparições acontecem nesta vida.

- Pois, já entendi! Na outra vida não há aparições, mas sim revoluções internas, insinuações, pré-aparições, ou serão premonições?

- Alguém falou comigo? Está aí alguém? Mas, de quem é esta voz? Acho que preciso ir ao médico, sim ao médico. Fazer uns Raios X à cabeça, uns electro... ao coração, enfim fazer exames médicos. Radiações que me são favoráveis neste meio.

- Mas aqui não há disso.

- Estou pior, sim acho que piorei. Terei que me esconder. Não quero voltar àquele hospital
....(cont)

Epifania & Ainafipe, pseudónimo de Dolores Marques
("Ao Espelho", um livro em projecto de edição)

Lágrimas

Enquanto ainda houver lágrimas,
elas darão conta de um mundo que chora,
porém quando elas secarem,
veremos a encher-se de prantos
um fundo vazio
...não poderemos ver o mundo a chorar

Dolores Marques

terça-feira, 14 de julho de 2015

Prosa vs Poesia


Eu Sou Dolores Marques, Coração da Terra

Eu Sou Dolores Marques, Coração da Terra - o primeiro elemento

Natural de Moção, uma aldeia em Castro Daire, e a viver em Lisboa, desde os 10 anos. Interessou-se pela escrita com cerca de 40 anos, tal como pela fotografia, com grande incidência na Zona Oriental de Lisboa. Atribuiu a esse conjunto de fotografias o título de “Aldeias da minha Cidade”, quando por becos e ruelas, se deparou com vestígios de uma aristocracia dominada pela indústria, cuja mão-de-obra se deveu aos movimentos migratórios provenientes do Montemuro, assim como os seus usos e costumes, agora enraizados na cidade. Mas, é lá nas Terras Altas, a fonte de grande parte da sua inspiração. Tem uma forte ligação às suas origens e não abdica da energia proveniente da Serra, assim como do Rio Paiva.

Publicou em 2008 o livro "Olhares", e em 2009 o livro "Subtilezas da Alma", ambos de poesia. Em 2011 foi publicado o seu primeiro romance, “Às Escuras Encontro-te”. Participou em diversas antologias poéticas desde 2009 até à data. Um poema seu recebeu menção honrosa no concurso de poesia da APPACDM.
Escreve e publica na internet sob três pseudónimos, Sendo Ônix, o segundo elemento, Dakini o terceiro elemento e Epifânia, o quarto elemento, perfis registados em sites de literatura, como forma de desagregar os estilos de escrita que entretanto surgiram. O primeiro livro de poesia “Uivam os Lobos” de um dos pseudónimos, Dakini, foi inspirado na serra do Montemuro e editado em 2014. 

Ligou-se às novas terapias e foi praticante de taichi/chikung, uma actividade que ainda mantém como fazendo parte dos gestos diários.

Tem duas filhas e três netos, com os quais aprende um pouco em cada dia. Considera-os almas da terra, fazendo parte da geração futura que cuidará da terra para bem da humanidade.

Os seus blogues:
http://novoolharomeu.blogspot.pt/
http://terrasaltasdogranito.blogspot.pt/

É correspondente do Jornal Notícias de Casto Daire.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Voz do fado


“Com que voz chorarei meu triste fado/que em tão dura paixão me sepultou/Que mor não seja a dor que me deixou/o tempo, de meu bem desenganado”
(Camões na voz de Amália)


Voz do Fado

Não se sabe se foi o destino
que no miradouro
se fez rogado
ou se Camões fez cair o pano
quando  Amália cantava 
ao som  de um piano

Chorava a alma da cidade 
a ensaiar nos muros
 gritos frios e desalmados
afundados em lamentos 
chorados…tornados vivos 
nas correntes do Tejo

Abria-se o corpo da guitarra 
em  refrão zangado
encolerizado às portas da Sé
por quanto  São Jorge 
com o coração magoado
 abraçava as colinas com fé 

Ecos fundos
em tempos áureos 
intemporais os imortais 
canonizados
embarcações fortuitas
no cais de pedra
onde ainda se lê:

- Camões já foi nosso fado

Dolores Marques