segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Aspe(n)





Aspen ,fonte de pureza
Da luz, do amor, do humanismo
Porque me deixas morrer
Cingida num humilde pano de linho
Envolto em ti
Palrando como criança de berço inocente
Que só quer Amor?


Aspen quero acreditar!
Porque me deixas em sofrimento
Agonizante e solitária
Esforço pleno de dor
Para acreditar em ti?


Este corpo empobrecido
Semi-despido
Apodrecendo
Transformando-se
Na aridez da mente
Seco, ressequido
Toscamente se destruindo
Num deserto de cinzas


Aspen, acende uma vela!
Mostra-me o caminho
Perdi-me nas trevas
Da impunidade
Nos desígnios
Do egoísmo
Autoritarismo mesquinho
Vil e satânico


Aspen preciso acreditar!
Preciso da tua força
Para que nos unifiquemos
E sejamos UNUN

Ser Um ser

Revolta-me ser um ser
Um ser pequeno e medonho
Ser um ser
Náufrago num mar qualquer
Revolta-me ser um ser
Um ser racional, racionalizando tudo
Quando o outro, o irracional resolve irromper
E até me dizer:
- Tu que me trais e me deixas louco e me trazes dor
Deixa-me num lugar qualquer
Onde os corvos também têm voz

Revolta-me rebolar nas palavras todas
Ser só uma voz que fala de todos os seres que rasgam os céus
(As escritas, as inscritas, as malditas, as paridas, as nascidas num pomar qualquer)

Alienados são todos os frutos que saciam a fome de todos os corvo
Essses loucos varridos dos céus, excomungados por um deus menor

Deusa sou eu em todos os quadrantes do meu universo
Este universo que me tem, enquanto Deus não me sabe

Ele não me conhece, porque povoam os céus, todos os corvos
Enquanto não se projectam em queda livre
Para se ajoelharem no chão
Essa fome negra que os conduz ao ventre de um deus qualquer

Deus não sabe que os voos dos corvos semeiam prantos
E deixam caídas no chão, as sementes para o último dos banquetes
Que venha então para o banquete final…
Deusa sou eu!

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Mar Nostrum




Mar alto
Mar de todas as cores
Mar calmo
Agitado
Amigo
Tenebroso

Mar que me habita
Ondas que s’ enrolam
E formam
Castelos de espuma branca
Da cor da tua pele

Ondas de um mar
Que vêm e vão
M’ envolvem
Nos teus braços
Feitos mantas de lã
Quentes
Reconfortantes
Meigas
Carinhosas
Palpitantes
e
Ofegantes

Mar que m’ abraça
M’enlaça
Nas suas marés calmas
E deambulantes
Mar que m’ afoga
Me mata com seus beijos
Gritos de dor

Fonte da minha energia
Mar do mundo
Mar Nostrum
Mar...

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Foto D.M.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Ocaso







Terra que me deste o ser
Que m’elevas
Ao pico da minha existência
Que me dás tudo
E me tiras
Terra que te destruo
E consegues te reerguer





Terra que sabes
O quanto te magoo-o
Destruindo-te
E és corajosa
e
Sábia

Terra que consegues
Renascer das cinzas
Da mesquinhez
De seres porosos
Que te renovas
E m' inovas
E me vais transformando
Do teu jeito

Terra eu te liberto
Porque és
Sincera
Robusta
Misteriosa
Leal
e
Bela

Terra que um dia me levarás
A passear junto das estrelas
Perdoa !

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Enquanto os grilos cantam nos jardins





De que adianta encontrar nas palavras:
os gestos
as cores
os cheiros
as formas
as caricaturas
os mediatismos
os formalismos
e todos os vocábulos que existem para as diferenciar umas das outras
se muitas delas me apresentam silhuetas vazias
a rodopiar num frenesi encapotado
de grinaldas de várias cores?

(Um céu sem cor
a encher-me de todo os predicados
e eu nem sei como ordená-los um a um…
Talvez seja a forma única a encher num frasco de vidro
e transformá-lo em forma de lente de aumento)

De que adianta servir-me delas, para te dizer quem sou
de onde vim ou para onde quero ir
se nem eu sei…nem eu sei como acabar-me no meio delas

Não, não sei que faço com elas, quando se apresentam carregadas de dor
Não, não sei que faço com elas, as palavras soltas a encherem um mar de sonhos
Essa ilusão a criar efeitos especiais parafraseando os momentos de cada cor
ou dando nova cor e movimento a cada palavra

Essa loucura que se colhe logo pela manhã
enquanto os pássaros cantam nas copas das árvores uma canção
a embalar os sentidos todos

Não, não sei como me apresentar a elas
pois se nem elas entendem este meu jeito atarefado
logo pela manhã

Prefiro a noite
a noite que me aconselha enquanto os grilos cantam nos jardins
e a minha voz se remete ao silêncio
aquele silêncio que me acusa de não passar de “fala barato”
uma coisa a adornar outra coisa

Será um dado adquirido
este que me diz que a noite é um composto de todas as palavras
que absorvo durante o dia
para as transformar em sonhos
sonhos a camuflar as cores de um dia…um dia perdido


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(foto: DM)

Odor das Palavras

( Foto: São Gonçalves, uma amiga e poeta)



“Se souberes , aspira o odor das palavras e sente a paz que nasce no tempo dos silêncios “ (Sao Gonçalves)


Odor das Palavras

Se todas as palavras nos amaciassem a dor com aquele aroma que as caracteriza, enquanto palavras sentidas, aquele sentido único a domar todos os sentidos e a admoestar todas as vicissitudes que nos levam por vezes a sair de órbita, todos os silêncios teriam a paz que os nossos sentidos merecem. No entanto, há palavras que são ruídos a mais para os meus ouvidos, e há silêncios que trazem com eles todas as palavras sentidas e amadurecidas pelo tempo (…)
- Quero que todas elas me digam a verdade e não me sigam a vontade.
- Quero que todas elas me saciam esta minha vontade de viajar por elas e com elas por todos sentidos únicos.
- Quero-as assim frescas como a água que bebo pela manhã - este liquido transparente a limpar-me os pontos negros pelas poeiras acumuladas ao longo do dia e são nada mais do que sombras a vaguear na noite.
- Quero-as todas como quem quer seguir-lhe os trilhos e saltitar de pedra em pedra pelos montes em busca de rosmaninho – esse perfume que abunda nos mais altos cumes, onde todos querem ir mas poucos conseguem sentir, cheirar, ou ceifar esse aroma quente que brota da terra e sacia todos os montes possíveis, aqueles que nossos olhos vêm e os nossos braços alcançam.
- Quero-as todas a cantar pela manhã, um hino a todos os feitores de palavras – não aqueles que as usam para de seguida caírem no desuso da sua própria palavra, mas todos os bem aventurados que as têm porque sempre foram aventureiros na descoberta do seu próprio mundo, onde as palavras são um meio para chegarem a todos os sentidos obscuros que os movem num sentido único.

Se todas as palavras me conduzissem por caminhos novos e me mostrassem que há muito mais além do seu sentido único…
Sinto-as assim, tal vibração a inundar-me os sentidos todos; os únicos e os compostos de todas as matérias gordas que se entregam ao regime de emagrecimento por nada, principalmente se esse nada for uma substância anafada a engrossar todas as letras, para depois caírem em desuso por serem só matéria orgânica e nada mais.

ÔNIX – Dolores Marques

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

(Escultura de Ricardo Kersting)



Na esperança de encontrar algo que me diga onde e como chegar lá!

È lá o sitio onde vou morar por tempo indefinido
É lá o sítio onde me irei encontrar, mas enquanto isso desespero, numa espera vã
Mas o tempo já não me espera e eu sou só a esperança que este tempo não termine, que este enigma se transforme em algo mais definível que me transforme e me leve ao ponto mais alto onde se dão todos os encontros…..lá!

Na esperança de me encontrar, encontro em todos os tempos um modo de encurtar o meu próprio tempo
Este tempo que me marca
Este tempo que me encolhe no fundo de um baú onde guardo todas as memórias
Este tempo que arrasta o vento
Este tempo que faz transbordar as correntes de todos os rios
Este tempo que colhe todos os frutos
Este tempo que m’engana
Este tempo que simplesmente me faz perecer em noites de temporal
Este tempo que entra nos meus sonhos e me afronta enquanto durmo
- Ouves, sentes, imaginas, ou simplesmente te limitas a correr contra o tempo?

E eu acordo sempre com uma nova esperança que me diga onde e como chegar lá

Ao fim do tempo!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Tempo

Tudo tem um tempo
E todo o tempo encerra a sua verdade
Quando me tem
No amor
Na dor
Na alegria
E na vontade de estar ao lado do tempo

(Tão simples e tão complexo
Até na forma humilde que o próprio sentimento transmite)

Não é o meu tempo
Mas sim aquele que eu sei que ainda não chegou
Para me falar do mundo que o conquistou

Não sou mais nada além do que o tempo me dá

Utópicos sentimentos



Que amor é esse que maltrata, subjuga reduzindo o outro a pó?
- Que má formação
- Que má orientação
- Que maléficos gestos que sobrevivem não só das pegadas que deixam no pó, mas de todas as partículas existentes no pó do caminho e não lhes sabem:
- Nem a cor
- Nem a forma
- Nem a ordem vigente

Sei de uma viagem que não termina
Sei de utopias que mais não são do que a vontade não assumida de sermos verdadeiramente nós
Sei de uma longa jornada que tem como ponto de partida o AMOR, quando nos consentirmos ser a única verdade a formatar um sentimento que se iguala ao Ser, e ser só unicamente o AMOR

Simplicidade

Os enganos existem...


e a simplicidade anda muitas vezes de mãos dadas com os equívocos....


a vida é feita de gestos simples mas nem sempre a simplicidade é simples...

Variações do tempo

Espero que o tempo acelere a nossa vontade de mudança e que ela se faça como é costume, através da mesma fonte onde bebemos a certeza de sermos a própria mudança a mudar toda a aceleração do tempo. Se ele se virar contra a minha vontade de ser eu sentindo que há mudanças que precisam de ser varridas pelo próprio tempo, então ao cair nas armadilhas que ele próprio cria, sujeito-me a ser só uma pequena fracção de um momento. Já não sei como partir sem me imiscuir nas verdades que se ouvem com o passar do tempo, só sei que ao sair para a rua, sujeito-me a ser mais do que a verdade dos meus olhos ao focarem com maior nitidez todas as mudanças a acontecer ao mesmo tempo.

Este figura que crio sendo só a minha verdade, não passa de uma abstracção quando tento e não consigo criar nada de novo. Espero pelo nascer do sol para que ao esquentar-me o corpo me molde uma nova personagem ao encontro de um momento figurativo mais real. Há figuras que se escondem na verdade enigmática de todas as estrelas que também morrem com o tempo. Já lhe soube as cores e os tons e até os sons que emitem na noite sempre que as olho de longe, mas não sei como vivem nos meus olhos sempre que se trancam para mais um voo na direcção de todos os momentos em que o tempo cai.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Flor de Lotus




Imaginar ou simplesmente
Deixar-se levar pelos atalhos
Onde se descobrem
Novos movimentos
Esteticamente imperfeitos
Ou eticamente dignos
De uma figuração
Que caiba nos olhos todos
E saiba onde encontrar um dom
Que se sabe a equilibrar a força
Onde residem todas
As vontades do mundo

Simples e concreta
Discreta, até na metamorfose
De uma simples flor
A força deixa de ser obsoleta
Quando se encontra a génese
E se coloca a alma a criar
E recriar novos mundos
E ainda outros fundos

È saber sentir como uma flor
Um bom compositor
Que ao deixar cair as pétalas
Nas suas mãos
Aguarda pelo doce embalar
Sequência de cores e luzes
A embelezar todos os quadrantes
De um Universo composto
Que também é verso e reverso
No seu caminhar

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Vida Sobre Vida


(Foto: DM - Rio Paiva)


Quando os meus olhos se fecharem e a minha voz se não ouvir
saberás como e onde me procurar
Revisita outros mundos internos e faz do teu templo um lugar para eu te encontrar

Não chores! Não sofras!
Não grites pelo meu nome, mas pela história que se fez vida enquanto ser vivendo em ti

(Há poemas tão frios como a morte de um jasmim.
Lê-os todos mas não faças das palavras um meio para me encontrares
Há palavras que fazem da história uma verdadeira história, mas saberão elas distinguir-me no meio de uma multidão?)
Não faças do meu túmulo um jardim quebrado
mas do meu corpo…um verdadeiro túmulo

Oferece as cinzas que restarem a todas as partículas que povoam ainda os jardins
Avulta com elas as ondas do mar
Alimenta com elas as correntes mornas de um rio, mas não deixes de me dizer de ti
Fala-me em pensamento, para que todas as estrelas saibam o meu nome, e através dele, a razão pura e simples da minha existência

(Tão simples como todas as flores que nascem em todos os jardins quebrados
Tão simples como todos os olhares que alcançam um novo céu
Vida sobre vida
Morte que é só morte para conseguir atingir a verdadeira luz)
Por isso,
não faças sepultar o meu corpo junto do breu
não me encolhas na terra fria
vela-me na derradeira noite, mas não me tapes o rosto com um véu, e tranca...
Tranca o meu caixão
Forra-o com um poema nu, ou um verso que sempre me fez ser Poema, e faz...
Faz do meu rosto um ritual pleno onde possa perpetuar um novo olhar

SOU SÓ EU MAIS EU