sexta-feira, 25 de março de 2016

Rumores

Ouço rumores quem vêm da muralha 
Mas eu confesso-me em desespero
Por não saber que a última mortalha
É de linho, ou pano cru em puro zelo

Há uma cancela semiaberta
Há um retoque na minha entrada 
Há um acto que me desperta
Há a última relíquia ali encontrada

Tomara ver uma só janela
Que me abrisse à luz que é tua
E me vestisse dos trajes de outrora

Quisera ver uma imensa estrela
Que me quisesse tão nua e sua
Que me levasse no tempo, sem hora

(Dolores Marques, Poemas de 2009)

quarta-feira, 23 de março de 2016

Crepúsculo


Será o teu Verso, voraz 
do sentido terno da corrente
que se derrama sobre mim
quando te descrevo
e te sinto corrente poética
no meu corpo
quando o poema 
se limita a discorrer 
sobre um ponto limite  
no crepúsculo da memória?

Será o teu poema
Um único verso
Onde acomodar  
O último crepúsculo
Dos meus olhos?