sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Dimensões VII – Fuga


E porque a vida me toma de assalto
Eu fujo 
Entrego-me à solidão dos tempos
Num tempo meu, e encontro-me

Lá, onde o mar é azul 
E as ondas são verdes
Lá, onde tudo morre 
Aos meus olhos cor de prata
Lá, onde a dor é mais leve 
Lá, onde o silêncio é um sol dourado
Ao cair da noite



Porque me quero ausente da terra 
Faço do céu um novo caminho
Onde o azul é forte
E as estrelas meu norte
E minha sorte
E o sol me diz de mim
Quando ainda era uma criança
E em teu colo chorava
A dor da partida

Porque a minha ausência 
Me traça um novo destino
Eu vou a par do teu fogo
E caminho contigo 
Até ao fim do mundo
Deste mundo
Que tomo para nós
Num corpo são 
E desesperadamente
Belo…o seu rumo

Trago-te um tempo de abraços
Uma cesta de beijos
Um regaço, ajustado a nós
E não me quero ir daqui
Sem me rir contigo

Quero um corpo onde me deitar
Uns olhos onde me afogar
Uma esteira onde me enrolar
Quando daqui me ausentar
Mas tenho medo da fuga
De me ir sem te encontrar

Quero fugir, mas não, sem antes 
Me desocupar da desgraça que ocupo
Não, sem antes me consentir 
Não, sem antes me desmentir
Não,  sem antes me despedir daquilo que sou 
Da minha realidade, quase, quase inacabada
No ar que respiro

Não sem antes me encontrar 
Verdade na tua verdade
E acabar recomeçando
Por ti…Amor
Só por ti
E que a tua força 
Me tome esta minha vontade 
De fugir, fugir, e ficar
Lá onde o mar é azul
E as ondas são verdes


Dolores Marques - ÔNIX (A Voz do Silêncio)

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Novo movimento estrelar

Existem sempre outros mundos que são correntes em estado de abstração. Dá-lhes da tua cor! Servirá para renovares dentro de ti, os rios passados, transformados em lodos e lamaçais.

Ao fundo, há sempre outras ruas em outros mundos e um novo movimento estrelar.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Já se aventuraram num passeio à cidade dos mortos?

Já se aventuraram num passeio à cidade dos mortos?
Completamente alucinados andam os vivos, com olhares cabisbaixos, a tentar descobrir na terra, a mesma terra, que irá receber um dia, algum resto de vida que lhes faça reviver os momentos mortos - aqueles que mataram em vida.
Querem agora resgatar todos eles, como forma de se redimirem dos pecados todos que cometeram. 
Nas mãos levam flores de todas as cores. Será para conseguirem renascer mais primaveras, e com elas, as forças que baixaram, sem mesmo lhes ser perguntado se queriam terminar neste amontoado de lágrimas que vão irrigando, pedacinho a pedacinho, a terra? As árvores, algumas estrondosas, com os seus ramos gigantes tentam parar o vento. 
As lágrimas caem como gotículas de orvalho pela manhã. São leves e brandas umas, grossas e violentas outras, que correm como levadas sulcando a vermelha face de quem não pregou olho para velar os mortos. Esta atmosfera que cobre a cidade dos moribundos, tem sempre algo de misterioso a rondar os corpos que vão caminhando em silêncio. Ouvem-se as pegadas de uns, e alguns rumores a tentar saltar fora da cidade onde os vivos respiram ainda sob esta atmosfera turva. O cheiro a terra, o cheiro a erva, o cheiro de todas as flores, fazem-me pensar no que virá depois, quando já não houver espaço para tantas vidas a cair por terra.

Dolores Marques - Dakini