sexta-feira, 29 de julho de 2011

Um nada somente

(imagem Google)



È um nada somente
A encher este mar que me tem
Melodia que m'acolhe
M’alimenta o querer partir
Sem nada a pedir

(Nas serras ouvem-se os ecos esquecidos
De quando éramos somente nós)

Tormenta que me leva
Lá onde o mar é azul
E as algas são verdes
E o horizonte não chega

(Estradas cobertas da poeira
Que meus pés pisavam
Enquanto o sonho

Se diluía no azul dos teus olhos)
*
È só um nada somente
Que m’arrasta para longe
Encaminha as lágrimas
Que desaguam na foz
De um rio demente
Sem afluente
Mas crente
Num nada somente

O fim de nós!

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Viagem


Encontros numa casa vazia
A divagar nas certezas
De um tempo já morto
Quando as luzes se apagam

Tão cheia de nada
Essa dose de loucura
A encher as paredes nuas
Numa viagem nocturna

Expõe-se sem medo
No meio de tanta luxúria
Onde habita uma só imagem
Num fundo inexistente

Ao centro, estão já
Todos os frescos desejos
De uma santidade absurda
A crer na metafísica existente

terça-feira, 26 de julho de 2011

Do outro lado do mundo

(escultura; Ricardo Kersting)


Nem sei quantos anos

Por mim passaram

Ou quantos deixei passar

Porque me deitei na terra húmida

E simplesmente me deliciei

Nas suas extravagâncias

Enquanto menina

A deixar crescer as ervas tenras

E assim fiquei

À espera de uma lufada de ar

Que me levasse ao encontro

Dos rios perdidos

Do outro lado do mundo

Onde as idades são carimbos

Nos meus olhos

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Abandono




(Esculturas; Ricardo Kersting)




Não sei onde me perco
Quando me levanto do chão
E vou sem saber o caminho
Que me irá trazer de volta

Esqueço as horas que passo
A tentar erguer-me de novo
Para te mostrar que há vida
A germinar no meu corpo

Onde deixei os olhos
E porque não agarro o sonho
Que me fará chegar a tempo
De conseguir um novo destino ?

Saudade




Saudades do sol
Que se passeia lá fora
Numa rua sem nome
Numa casa sem tecto
Essa montanha silenciosa
O mar dos aflitos

Em processamento de dados
Empirismo da mesma razão
Que me leva a estar aqui
E não num campo
Onde nasçam as papoilas
Sem sol, chuva e vento

Força de expressão
Expressando a vontade
De ir ao encontro da luz
Qu'alimenta o lado de fora
Enquanto interiormente
Há um universo, onde reina
Esta saudade de ti

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Um todo


Sei que tudo foi em vão
Não tinha a verdade nos meus olhos
Agora que te encontrei, sei de tudo
Um todo a dominar-me a vontade
De me ver nos olhos teus
Como se a minha verdade
Fosse uma só, sem vaidade
Um crer em demasia
Bem-querer, sem mais nada

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Alva Espertina

Mandala de Andradarte
http://andradarte.blogspot.com/



Vem com graça a madrugada
A clarear o meu tempo morto
Sol madrugador
No meu mar de cetim
Alma em chamas
Que m’anima
Tal dimensão d’ Alva espertina
Onde se põem todas as estrelas
Que vêm morrer nos meus olhos

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Se...

Se o tempo marcasse todos os momentos que não pode estar em si, (como se o estar, fosse só isso - estar em si próprio), haveria de haver mais tempo para lembrar todos os caminhos percorridos e ainda por percorrer, até ao verdadeiro encontro com o tempo em que caminhou só...

Espaço....Tempo




Descansa esses olhos
Nos meus
E aviva a tua vontade
De me teres só para ti

Tu que és meu
No tempo da vontade
De todos os povos
E eu sou tua
No tempo da sublimação

Assim seja o além
Um espaço digno
E o aquém
O lugar condigno
Onde se nutrem
Todos os desejos
De continuarmos a ser
Um só!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A Noite

(imagem google)


Fui amante de um sonho
A calibrar um ponto luminoso
Onde o luar se fez corpo e alma
A deambular pelo cerrado da noite

Foi num lugar da terra
Agrupando todas as estrelas
Que fizeram ninho
E amansaram os pirilampos
Nas enseadas

Foram as pálidas noites
Que cirandavam
Nas vidraças quebradas
Onde guardo todos
Os choros requentados
De um dia de verão

Um presente que me é legado
Omitindo ausências
E presenças


Derivados de uma espécie anémica
A unificar todos os momentos
Que tardam na noite

As especiarias avizinham-se
Num mar longínquo
Abrilhantando as ondas bravas
Que vêm morrer numa praia deserta

Foi lá
Que deixei um corpo moribundo
A querer renascer
Nas funduras de um sentimento
Quando o luar consente
E não desmente
A noite

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Grãos D'Ouro

Painel de Andradarte:


http://andradarte.blogspot.com/




Aconcheguei-me a ti
E vi que nada me falta
Só quero ficar
Mais um pouco
No teu colo
E deixar-me ir
Sem me prender a nada
Que me faça cair

Serei talvez a luz
Ou quem sabe a escuridão
Mas serei sempre aquela
Que te viu nascer
E palmilhar o mesmo chão
Que eu piso

Na terra de ninguém
Há um solo a arder
E as cinzas ficaram
A adubar a terra virgem
A querer renascer de novo
Na sementeira
Onde estão todos
Os grãos d’ouro