sábado, 29 de maio de 2010

Só Mínguas de Sonhos

(ÔNIX - imagem google)

Amortalhar os sonhos que nos dizem
Que há momentos que se guardam
Por tempos indefinidos
É não tentar por um só dia reescrevê-los
Seres viventes nas memórias de uma vida

Sentir que há nestes paralelismos
Uma forma abstracta
Quando nos exilamos do mundo
É darmos vida a outras vidas
Perpetuarmos os nossos corpos
No além vidas
E reeditá-los num espaço
Que se enquadre num novo tempo

Vivo ainda para te dizer
De um marco da nossa história
Que marcou a nossa presença no infinito
Mas não guardei na memória
Os caminhos que me fizeram seguir viagem
E estou aqui numa prece inigualável
Fechada dentro de um aquário dourado
Mas vazio por dentro

(Só minguas de sonhos
Que se transformaram em elos equidistantes)

De lá poderás extrair todas as almas
Que me pediram guarida
E se deitaram comigo
Mas já todos os amores caíram
Quando me perdi neste labirinto
E me deitei num leito de águas pardas

Mas se quiseres
Poderás visualizar as cores que eu inventei
Só para nós
Brilham agora além da minha mente
Num imaginário desfocado
E ensandecido por todos os momentos que perdi
Quando atingi o novo arco íris
E nada vi….

terça-feira, 25 de maio de 2010

Loucos São Todos os Loucos


Loucura…
Sim esta loucura viva
Tenaz, forte, metálica
Reflectindo ideias
Ao anonimato
Em frases feitas
E moldes disformes
Contagens…
Recontagens ao quadrado
*
Multiplicam-se
Nas bocas do inferno
Esfomeadas do mundo
Mas não da vida que lhes escorre
Pelos cantos da boca
*
Loucos, são todos os loucos
Que chegaram de novo
Porque os outros
Já voaram alto
*
Tão alto
Que rodam em torno de si mesmos
Na subtileza das palavras de ordem
Que lhes fornecem
A ordenação pronta
Quando espreitam do alto
De suas cabeças
E gritam…
*
Por aqui há muito que contar
Começando pelas estrelas do céu

segunda-feira, 24 de maio de 2010

É Urgente


É urgente
Sair desta forma continuada
Incapaz de me enrolar
Numa mortalha acabada
*
É urgente
Refazer caminhos
No silêncio da noite
*
Não tenho flores no meu colo
Para te pintar coloridamente
E sinto-me colada ao chão
*
(Uma ave espreita-me
Por entre os telhados vazios das velhas casas)
*
É este voo lento
Um vento quente
Que me sacode o vestido
*
É este pobre algeroz
Já esquecido
A escorrer-se na noite
*
(É este peso nocturno)
*
É urgente medir as distâncias
E partir o tempo
Pela metade

terça-feira, 18 de maio de 2010

E Nos Tomaremos Meio por Meio


O amor é como uma urze estendida ao sol
Ama-se logo ali...
*
E se das flores silvestres
Fizermos um manto singelo
A afagar-nos as partes mais íntimas
Onde o prazer se descobre
Nas suas pétalas coloridas
Chegaremos de mansinho
E nos tomaremos
Meio por meio
*
À tua boca me ofertarei
E serei céu virgem
Cativo de um olhar rotineiro
*
Há uma flor no entremeio
Que me aparta os seios
Sempre que te sinto inteiro
A beijar-me
Os contornos cheios
*
Há um doce embalar
Numa corrente
Que se acaba
No meu corpo
Mas que irá desembocar
No rio crescente
Dos teus beijos
*
(Foto retirada da Net)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Imenso, Imensamente, Adequadamente


Prontuário imerso numa plataforma diurna
Confusa, demente,
Medi usa, platina,
Morfina
Coloridamente alucinada
Conspurcada
E retalhada
Na imensidão de ideias mortas e enterradas
Jaz por fim a mente desfocada
Desnorte, sem sorte
Acabada na imensa planície onde mataram a dor
Que por muitas mortes já ter
Se deixou enfeitiçar
Nessa margem escanzelada e esquartejada
Por muitos dos castradores seriados
E tão delicadamente mestres
Do tudo Imenso
Imensamente
Adequadamente

Encontros e desencontros
Poetizar, conciliar
Amansar
E desmembrar o que pertence
Ao mar
Sem no entanto se empoleirar
Nos cadafalsos
Migratórios, exímios
Em escoriações vs retaliações

De que vale amar
Se o amor se perdeu na estação que ficou
Para trás
Há tanto tempo
Já esquecido
E lambido por todas as línguas de fogo
Desajustadas do mundo
E das pontes erigidas no nada

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Urge Saber


Amiúde vejo rostos que sofrem tanto por não saberem dizer sim ao acto
Àquele acto bondoso que se apresenta
Actuando num frente-a-frente descomunal
Cruzando-se e entrecruzando-se sôfrego de dividendos
Por não ter no corpo os restos mortais de um acto carnal

Sem ter que partir para os anais da bibliografia morfológica
De um poema ou de um texto original
Encontra-se a palavra morta por um par de asas soltas
Sempre que se vê o efeito voador de um objectivo morto atingir o clímax fatal

Dizia-se de si e de seus prazeres ocultos
Vinha num tempo que precisava encontrar-se no seu apogeu
Mas desfaleceu…
E não mais se viu a boiar nas águas do oceano pacífico
Pacificou-se nas águas lamacentas que banhavam os corpos ainda quentes
Sob o ar ameaçador e castrador de um odor fatal

Quase sempre em horas impróprias escorria-se para o corrimão das letras
Que por tão negras se apresentarem
Tentavam-se sempre umas às outras numa história triste e banal
Mas nunca por nunca, se apresentavam medíocres
Nem tão pouco na lonjura imposta pelos movimentos alicerçados num poder ex- comunal

Maleitas que o mundo tece
À roda de uma fogueira que arde sem razão
Não fossem as léguas que ainda têm que percorrer até chegar ao ponto central da questão.

Urge saber onde pára esse ponto na atmosfera densa de um conjunto de palavras
Que se afogaram no seu próprio líquido amniótico.
Urge descobrir porque se fechou o saco
Quando já restava tão pouco tempo para a transmutação

Urge….saber onde e como ficou o centro que ao abrir fecundou

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Estreitando Laços

(Tela Salvador Dali)


É no silêncio que ouço o meu próprio canto
Mas é aqui neste palmo de terra
Onde repouso a minha voz
Que te ouço
Que te espero
Que nos remedeio
Estreitando laços
Enlaçando-me nos nossos próprios laços

Mereço-me assim
Nesta sujeição perfeita
Sempre que me sujeito a ti
Numa viagem interminável por caminhos outros
Que nos trazem sempre a paz que merecemos
Silencio-me e vou indo na voz de um silêncio inquieto
Mas acabado num quase início de noite
Onde brilham os sonhos mais distantes

São eles um meio de nos reerguermos
E de nos dizermos das gentes que somos
Das crenças que obtemos
Neste patamar sombrio
Onde as ilusões criam raízes
E soltam gargalhadas matinais
Por sobre a terra onde nascem os sobreiros
E as oliveiras

Quero porque quero
A luz que lhe cobre os ramos
Os da Oliveiras…
Quero porque quero
Os adornos dos ramos gigantes
Os dos sobreiros...
São terminais de uma floresta verde
Onde me endireito e me conserto
Quando faço da cortiça esteira para meu leito
E dos olhos negros das oliveiras
A luz que me guiará…um dia

Há um mundo que desconheço lá fora
E esse é meu sustento
Quando daqui me for embora
Mas por enquanto deixem-me aqui ficar
Preciso ir-me num sono lento
E ficar
E sonhar que me fui num momento