quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Prenúncios

Se me amares como eu a Ti
seremos o Amor renovado
nos corpos nus das árvores.

Quando me sentires
nua e tua
concebe-me com o sémen
d'óiro lançado à terra.

Na passagem do tempo
as almas irrompem tais fogos estrelares
no leito materno

Se me quiseres como eu a Ti
seremos o manto esquecido
da Primavera
ainda sobre os nossos corpos

Se me souberes como eu a ti
saberemos onde encontrar o pólen
e fabricar o mel na união
dos nossos lábios

Na passagem da noite
a lua adiantou-se à chegada da aurora
e nós dois um sobre o outro
na terra molhada

Quando ouvirmos os presságios
das águas
saberemos onde encontrar
a última estação do tempo do fogo

Seremos simplesmente
um novo prenúncio do tempo
a balançar nas folhas ainda livres
na longínqua esfera azul
de um olhar sem medo

dm/ONIX
Sabes como é imenso 
o caos interno de cada ser

É na imensidão desse mundo caótico
que por certo alguma alma ali se acomoda
para encher de luz, esse vazio

É no caos do mundo da solidão
que alguns poderão encontrar 
alguma paz

E há quem não mereça a guerra
tal como não merece a paz
e, por isso, atrofiam-se no caos onde vivem

E quando a porta se abrir
nem toda a guerra poderá ali entrar
e nem toda a paz poderá ali ser consolidada 
em mundos à parte

E é por isso que os mundos internos de cada um 
se dividem, 
e na dúvida se multiplicam

E é por isso também 
que nem sempre o caos é um caminho a esquecer

O caos interno pode ser um dos caminhos
até se saber qual será o eleito 
na infinita vastidão do deserto 
onde somos nada mais do que partículas de luz 
a tentar sobreviver


ÔNIX /DM
Foto em Luminati - Cascais.

Caminhos de Deus


Percorrer os caminhos de Deus, sem Deus no caminho, é como um náufrago no mar alto sem uma tábua de salvação por perto.
Por isso não caminhes atrás de mim, que não serás tu que me guardarás os passos, e, tão-pouco à minha frente que não pretendo ser a guarda dos teus, nos caminhos guardados por Deus.
Encolhe-te mas não percas a voz. Em caso de desespero grita para dentro, que será esse som que me descobrirá no teu caminho. 
Sabes que eu existo para que algumas pessoas não sintam que estão sozinhas no mundo. Não vá alguma delas querer ser dona do mundo, e nesse caso ser dona de nós os dois.
Por isso grita também tu, porque os teus gritos descobrem mundos onde te encontras na sombra de Deus.

onix, Dolores Marques

Nada vs Tudo

Simplesmente contagiosos os momentos, quando exaltados por fragrâncias mordiscadas pelo medo. 
A delinquência do pensamento que passa revista a tudo o que salta de mão em mão.
A ousadia de se projectarem das alturas, por saberem ser a única saída para o mal de que sofrem com os pecados engasgados.
E continuam a sua saga, apesar do antagonismo da cruz ao peito.
E crescem num matagal, onde as raízes se acobardam quando se perdem no passado de um pensamento entrançado.
Simplesmente contagiosos os momentos em que batem com a mão no peito, e a cruz se desfaz por entre os dedos.
Sonham com um céu de divisas nos olhos.
Simplesmente ousados serão os momentos futuros, a existirem neste burlesco cenário.
E quando o céu cair ao fundo dos seus pecados, saberão como começar de novo, a tocar harpas no seu abominável sono.
E quando o céu se abrir, saberão dar vivas à noite, cujo altar lhes devolverá a sua única e verdadeira razão de existirem. 
E quando a razão se fechar, saberão ser a única razão possível, para subirem de novo.
Mas saberão que:
Terminaram os precipícios
Cessaram as vertigens.
Deixaram de existir alturas no céu.
Migraram as fragrâncias terrenas.
Nada existirá, mas Tudo terá como ponto de partida, o nada, que sempre presentearam com um pensar obstruído.

ONIX, Dolores Marques


Nada esperar das pessoas, enquanto buscam fama e glória. 
Nesse tempo não têm nada para dar, somente receber.

Dolores Marques (ONIX)

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

ÔNIX - Poema: A luz

Prefiro-te

Prefiro-te um espaço aberto 
ainda que na futilidade 
de um verso 
em cima
ou em baixo 
com ou sem rima
tanto faz

Sabes que me apraz
ser-te fidedigna
ainda que na má sorte
até à minha morte

Prefiro-te clamor 
....à estrutura mediática
trancada 
nos labirintos de um corredor
sem fala

Prefiro-te um olhar inconsequente 
...ao estrabismo
de um povo
que mata os poemas 
nas vidraças ainda fechadas

Prefiro-te a escorreres-te 
sobre a minha pele 
tal ponta de um aparo
a clamar pelos ventos 
contrários…
os de cima 
e os debaixo do corpo da virgem

Prefiro-te crivo 
da minha vontade
ainda com raízes verdes
deitadas nas eiras

Prefiro-te ao invés dos pensamentos 
onde se afundam mares 
com poemas ali enterrados
depois de estrangulados
pelas mãos do poeta

Prefiro-te um corpo castigado
pelo desejo de se masturbar
diante do céu...
em pontas 
com as plantas dos pés 
sobre os seus pecados

Dolores Marques