Pensando nisto tudo, sobrevivi à causa que me empurra contra os muros erguidos por causa nenhuma.
"Deus não é um conceito muito filosófico, é este mundo visto através dos olhos de uma criança" (OSHO)
terça-feira, 29 de setembro de 2015
Causas
Às vezes ando de pedra em pedra a contar os passos, e até que a soma dos dias seja o todo nas minhas mãos, há dias que também me custa caminhar sozinha.
Pensando nisto tudo, sobrevivi à causa que me empurra contra os muros erguidos por causa nenhuma.
Pensando nisto tudo, sobrevivi à causa que me empurra contra os muros erguidos por causa nenhuma.
domingo, 27 de setembro de 2015
Do tempo das tulipas brancas
Não vos posso trazer flores, se no jardim que é de todos, as flores murcharam, dando lugar a arranjos plastificados, matéria orgânica desarrumada.
Enquanto as flores amarelas se mantiverem por aqui, nada fará calar os ecos que as tulipas brancas deixaram, nas nossas mãos. Eram ecos vindos de um além próximo do jardim que ainda é de todos. Lembram?
Sei que já não se lembram das tulipas nem das rosas, e sequer dos arbustos que se alimentavam à entrada do jardim.
Sei que há verdades escondidas nos bolsos, e que os olhos, os olhos se fecharam por haver falta da única vontade que o branco das tulipas trazia para nós.
Agora no cimo, lá no alto da serra, correm brisas sedentas de outros tempos em que as águas eram correntes puras e cristalinas.
Correm ventos em desvarios pelos olhares todos que ainda vêem para lá, sem precisarem de sair do lado de cá.
Lá, já não há condições, nem sequer suposições de qualquer ordem, porque todo o ar se movimenta e desce já pelas encostas. Todos juntos somos um todo e o todo aguarda por ecos passados do tempo das tulipas brancas.
Dolores Marques
sexta-feira, 25 de setembro de 2015
Tal como vós POVO
Há quem escreva
para o povo
do povo
há ainda quem escreva
sobre o povo
mas eu sou simplesmente
um verso
no meio do povo
Por isso
sigo esta viagem
da alma
por caminho incerto
nem sempre
cuidando desta minha fé
enraizada no mesmo chão
onde andei descalça
enterrei sementes
na mesma terra
onde nasci tal como vós
POVO
Brinquei e contei
pedras no rio
o mesmo onde as correntes
são vadias
mas não vazias
Há quem espere
em agonias
pelo povo
porque só ele
é o sustento
de tantas fomes
no meio dos montes
Por isso
eu não escrevo
para o povo
nem do povo
e sequer
sobre o povo
SOU POVO
Que importa isso agora
se tudo o que escrevesse
não seria nada de novo
que rimasse com povo...
Nem sequer serviria para nada
porque o nada
habita nas palavras
e estas por sua vez
já foram
tal uma cesta de vime
VAZIA
Que importa escrever
para o povo
se povo já eu sou
na inverosímil
mas devida
omnipresença
Por isso
escrevo para os outros
que do povo
bebem histórias
e à semelhança do pão
se ajoelham no chão
para a sagração
da sua própria convicção
Não me peçam palavras novas
que do povo nascem sempre
as mais carismáticas
quando por força maior
se quedam junto dos Santos
e estes as inspiram
para a nova ordem das coisas
Escrevo sim
palavras do coração
a linguagem da mãe
e que por ligação
ao pai
fecundam os versos
os poemas e as prosas
Por isso
sou assim
perante a vossa
indiferença
a alma que segue
pelos campos
que no rio se alimenta
quando da chegada
de novas correntes
que são os meus olhos
o meu corpo
e até o meu pensamento
enquanto os outros
tentam decifrar códigos
por entre as palavras
que escrevo
Dolores Marques
Metamorfose Montemurana
Coração da Terra
Metamorfose Montemurana
Coração da Terra
Metamorfose Montemurana
Satisfaz-me saber de um saber antigo, daqueles que todos os ventos trazem quando uivam na noite por serras e serranias, por entre penedos e fundos grotescos do ambiente serrano. Satisfaz-me saber das várias alterações climatéricas que nos trazem novos ventos e brisas, dos quais se soltam novas histórias com mais pés e cabeça, apesar das várias cabeças cortadas com a foice dos enganos.
Os ventos adversos nem sempre trazem acopladas partículas desintegradas do granito. Há dias cuja metamorfose proveniente da junção das duas forças rochosas, se dá de tal forma, que nem o xisto e sequer o granito sobrevivem, quando por força das circunstâncias, há lugar a uma nova força que gravita à roda da presumível nova rota dos ventos.
Não me satisfaz saber, que tudo é como o tempo e com o tempo se apaga. Há melodias que são eternas nestes caminhos íngremes, por entre granitos e xistos. O tempo, tal como o vento carrega fardos nunca antes pensados e sequer profetizados pelos profetas que cantavam ao Deus único, e também o único morador do cume da serra. Inteirava-se ele, sobretudo, de todas as maldades e atrocidades dos humanos, quando por força de alguns mediatismos, se interrogavam, se as enxadas, os forcados e até as foices, seriam a única via para se apresentarem como justos, todos os gestos carimbados nas notas de rodapé de um livro virado ao contrário.
Impressionante é também a forma como se vira a mesa, e depois de virada se lhe cortam as pernas para que na próxima refeição, ela seja, não só uma mesa mas um monte de histórias sem a cabeça e sem os pés. Impressionante como se manipulam as refeições colocadas na mesa, a mesma onde trucidaram todas as pernas dos frangos acabados de nascer. Impressionante o mediatismo catastrófico de uma refeição com pés e cabeça à mesma mesa.
Impressionante a forma de muitos virarem os frangos e os colocarem de fato e gravata, e da mesma forma, sentados à mesma mesa.
Aqui na terra dos justos, a justiça nem sempre anda de mãos dadas com os versículos escritos à pressa por mãos humanas. Impressionante... como, querendo, contabilizamos diariamente os pensamentos e os comportamentos "nazis" que nos cercam. Porém com uma nuance ....agora ainda mais enfeitados com as penas do "anjo dos infernos", que entretanto cresceu.
Aqui na terra que é de todos, nem todos se movimentam em prol do bem comum.
Aqui no planeta azul nem tudo é azul, porque as paletas de cores foram adulteradas com o sangue dos ainda vivos, amedrontados com o poder que vem muitas vezes como um calafrio na espinha.
Os rostos enxangue neste vai-e-vem, onde o granito se desintegrou serra abaixo, e se descuidou num decoro irracional, foram engolidos de seguida sem sequer saberem quem os engoliu. As bocas são muitas e o granito começa a escassear neste ermo em tons ébrios mas distantes de um azul celeste, que também é engolido quando o lusco-fusco chega, e o azul indigo lhe dá conta de um saber que vem de um horizonte acabado de chegar, mesmo ali junto à entrada maior do templo.
Impressionante, como querendo, todos os olhos vêem além do óbvio. Porém, estão todos cegos. Impressiona, que nunca por nunca imaginei um lugar assim com rasgos frontais da memória, a quererem afundar as correntes amontoadas à volta dos olhos. Impressiona este humanismo todo com que se vestem os homens e se deixam nuas as mulheres, todavia, tudo é tão vago e quase um nada, que muitas das vezes o abismo é tudo. Depois, são os braços dos homens a esburacar um túnel que dá conta de mais um templo que na terra cresceu e se desenvolveu. Às vezes dou até comigo a falar com um outro eu que fui criando, enquanto os anjos não desciam dos céus e habitavam o templo.
Era assim um diálogo nocturno, como se a noite fosse o templo que Deus me deu.
Eu sou Dolores Marques, Coração da Terra
quinta-feira, 24 de setembro de 2015
Para sempre
Não sei se a melhor carta de amor será a única via possível para fomentar o encontro amoroso que já existe em nós. No entanto, meu amor, eu escrevo por nós e para nós.
Sei que esse encontro se dá da forma mais habitual; o ritmo dos dias, a cobrança das noites, a fuga para lugares distantes, na espera do mediático olhar que te trouxe a mim. Esse, é um olhar manso, do qual recebo um pouco de tudo o que já medrou nos nossos corpos enlaçados.
Vê como se transforma a vida na sua mais recente aquisição: Nós!
Vê como se dilatam as noites, que enquanto acordados, vemos um mundo a arquitectar novas formas; umas obscuras, outras claras, outras dissidentes, outras resistentes e outras ainda, a finarem-se em cada poro da nossa pele.
Vê como se aglutinam os dias e as horas que passamos longe, quando as distâncias são um desejo a crescer, profanando os vultos nascidos no nosso olhar.
Sei de um tempo de cansaços e de esperas. Sei também, de naturais momentos em que nos cingimos e fomos um na espera do tempo que nos unisse e nos fizesse ser um só corpo, uma só alma, um só desejo a crescer nos nossos corpos ainda quentes.
Mas as mãos meu amor, as mãos que são as tuas, são também as minhas; colocam no meu corpo sementeiras nobres, do tempo em que nada havia, a não ser a dádiva por todos os traços fidedignos ao destino.
Mas as mãos, meu amor, as mãos que são as tuas, são também as minhas;
a fomentar encontros, a igualar os gestos, a eternizar olhares, até que se acomodem nos bolsos e retirem deles, a irmandade prestes a nascer de novo, para que o amor se renove e se transforme para sempre em vida a crescer como um desejo profano.
Eu estou aqui e sou o teu desejo, a tua fome, a devoção na tua mão.
Esta, será a água benta dos nossos dias, a temperança das nossas noites, e tu meu amor, a renovação interna do meu querer Ser em ti.
Bem hajas por seres o Amor em Pessoa, a vida prestes a renascer no meu corpo.
De sempre e para Sempre, tua...
Dolores Marques
Cores do Outono
Caminhava e pensava num ror de coisas
assim andava sem parar e falava agora
alteando a voz. E que voz afinada
ela emprestava às brisas e a todas as coisas
Bailavam à volta dela, os tons pictóricos
de um Verão em franco desbotamento de cores
e ainda assim não se dava conta
dos raios solares que caiam na sua mão
Por isso continuava o rebolar das ancas
rua acima, rua abaixo. Inundavam-se
todos os becos
com enxurradas de prantos
Os soluços primaveris tal como o cair das folhas
não lhe causavam tremores
não lhe tomavam as pernas nem os braços
até as partes mais íntimas se apegavam
àquele bambolear constante
por entre as folhas secas enquanto lhe pesavam
os sobrolhos por cima dos olhos
Só o pensamento se mantinha intacto
na sua forma única de ser uma mulher
com o Verão ainda no corpo
e a Primavera nos olhos. Nas mãos
o Inverno a debruçar-se sorrateiro
e no olhar ainda a doce acalmia
das brisas outonais num espaço inédito
onde a fome se acomodara
desde a última estação
Dolores Marques
sexta-feira, 18 de setembro de 2015
Imaginava-te
Imaginava um lugar
sim, um lugar
onde pudesse brincar às escondidas
Mas não podia ser um lugar qualquer
tinha que ter um muro de pedra
e também um castelo
que não faltasse um rio
muitas árvores
e também o chilrear
dos pássaros nos ninhos
Imaginava-te ali
como sempre foi
quando sonhava e ali ficava
a contar pedrinhas de várias cores
Agora caiu o pano
lá de cima
e ninguém me cobriu o corpo
não me embalou
nem me contou uma história
para dormir
Podia pelo menos ser uma só
que não estivesse em algum livro
e sim na tua imaginação
como quando nos encontrávamos
também às escondidas
para brincarmos
e líamos em duo
o mesmo livro
Já ontem assim aconteceu
e hoje preparei-me
para te imaginar
e tu não estavas como sempre
no mesmo lugar
Dolores Marques
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
Lágrimas
Por entre as lágrimas
despojadas de silêncio
as memórias caídas nos olhos
o tempo escondido nos corpos
e tudo o vento leva
tudo, o tempo arrasta
atrás de si
quinta-feira, 10 de setembro de 2015
Claridade
Claridade por entre os fios que ligam o céu à terra, e ao mar, enquanto o zingar do mastro do navio se encolhe nas minhas mãos.
Loucura
Vivo em demasia
a loucura
do mundo todo
que há mim
Talvez um sonho
ou uma verdade
que se quer
vontade minha
que desconheço
Essa ingrata
que se quer
inteira e livre
só para mim
expõe-se assim
sem limites
desenquadrada
do espaço
que me aguarda
sempre
No cais
Porque todas as viagens começam e acabam nos portos....e nós esquecidos no cais
Aportadas ou deportados...somos nada mais do que corpos abandonados entre partidas e chegadas.
Aportadas ou deportados...somos nada mais do que corpos abandonados entre partidas e chegadas.
Rio abaixo
Na continuidade do tempo, quando um dia se adianta a outro dia, enquanto a noite é um buraco negro onde afundamos os nossos medos...
Mais um momento a saber dos movimentos das águas, das descidas e das subidas das marés enquanto a cana dançava, e o anzol trazia às suas mãos um habitante daquele lugar.
Coube-lhe a sorte por ser ainda um safio em tempo de crescimento e por isso, desta vez voltou ao seu próprio movimento migratório rio abaixo.
Mais um momento a saber dos movimentos das águas, das descidas e das subidas das marés enquanto a cana dançava, e o anzol trazia às suas mãos um habitante daquele lugar.
Coube-lhe a sorte por ser ainda um safio em tempo de crescimento e por isso, desta vez voltou ao seu próprio movimento migratório rio abaixo.
quarta-feira, 9 de setembro de 2015
Verticalidades
Elegante na sua verticalidade, pelo que, se basta a si próprio quando navega por oceanos, e ali se acomoda sem se preocupar com os movimentos migratórios de outrora, já que os de agora são bem mais contraditórios, por quanto ilusórios os momentos em que sobem à proa, e ainda dominam parte da nossa história.
Detalhes de um rio
Detalhes de um rio...na zona mais in da Cidade. Porém, sendo objectivamente delinquente, o rio é uma súmula de predicados inconscientes, por quantas correntes passageiras, pelos nossos olhos.
Movimento das águas
Conversámos sobre o movimento das águas. No dia anterior, a calmaria do rio criara reflexos por entre uma luminosidade intensa, porém, hoje o vento permite um vai-e-vem constante que se nota na descida e na subida das águas.
Fixou-se na minha objectiva e abriu o saco para me mostrar um peixe que tinha mordido o seu anzol. Eu,disse-lhe que o meu obectivo era simplesmente pescar momentos, e arrecadá-los no espaço e no tempo que tinha para alcançar o pontão e voltar a tempo de terminar aquele momento da minha hora do almoço.
- Então não almoça - diz-me, lançando um olhar breve, sobre a máquina.
- Sim vou agora pensar nessa possibilidade.
- Eu dava-lhe este peixe, mas a menina não deve gostar de peixe cru.
Agradecida fiquei pela sua amabilidade, por me ter proporcionado saber das subidas e descidas de marés, dos reflexos intensos que nos proporcionam encontros à beira do rio, mas, sobretudo por me levar ao passado em que na minha meninice mergulhava nas águas de outro rio, lá nas terras altas do Montemuro,
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