domingo, 27 de setembro de 2015

Do tempo das tulipas brancas


Não vos posso trazer flores, se no jardim que é de todos, as flores murcharam, dando lugar a arranjos plastificados, matéria orgânica desarrumada. 
Enquanto as flores amarelas se mantiverem por aqui, nada fará calar os ecos que as tulipas brancas deixaram, nas nossas mãos. Eram ecos vindos de um além próximo do jardim que ainda é de todos. Lembram?
Sei que já não se lembram das tulipas nem das rosas, e sequer dos arbustos que se alimentavam à entrada do jardim.
Sei que há verdades escondidas nos bolsos, e que os olhos, os olhos se fecharam por haver falta da única vontade que o branco das tulipas trazia para nós.
Agora no cimo, lá no alto da serra, correm brisas sedentas de outros tempos em que as águas eram correntes puras e cristalinas. 
Correm ventos em desvarios pelos olhares todos que ainda vêem para lá, sem precisarem de sair do lado de cá. 
Lá, já não há condições, nem sequer suposições de qualquer ordem, porque todo o ar se movimenta e desce já pelas encostas. Todos juntos somos um todo e o todo aguarda por ecos passados do tempo das tulipas brancas.

Dolores Marques

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