quarta-feira, 30 de junho de 2010

Até que me oiçam...sonho

(foto DM)
*
E Corro
E grito
E sofro
E aperta-se-me o peito
Este grito
Que ninguém ouve
Nem eu
Nem os céus
Percorrem este sonho
A cair de madrugada

E faz-se bréu
Faz quente nos meus pés de chumbo
E quero voar
Para que me ouças gritar
E nada
Nada nem ninguém me ouve

E a morte surgiu de repente
Como abutre
Picando a minha alma

É de noite e faz escuro na minha pele
É de cera ainda mole
Quase a derreter de novo
Junto ao cálice da verdade imaginada
Por mim
Só por mim
Porque ninguém me ouve

E quero gritar
E grito
Já o som da minha voz
Em desespero
Num degredo espacial
Intemporal
Não me ouço também eu

E bato à tua porta
E dormes
Porque é de noite
E sonhas porque eu sonho
E gritas em outros mundos
Porque este por agora
É só meu
Só meu
Até que me oiçam

domingo, 27 de junho de 2010

Testemunhos

(imagem google)
*
Correm ventos no meu sonho
Ficam os mares
E morrem rios nos canaviais
Neste e no outro mundo
Há viagens comuns
Entre os mortais

Há normas que se inventam
E prenúncios de outras sortes
Testemunhos continuados
Lentos e arredados das marés
Quais moribundos
Que morrem às minhas mãos

Náufragos de um novo universo
Submerso em partículas novas
Serão póstumas constelações
Abruptos esquartejamentos
Em velhos continentes
Convencidos que há mortes reais

domingo, 20 de junho de 2010

Só...


Contigo há mais espaço
No agridoce da paixão

Lambendo a pele
Mendigando
E aguçando
A face negra
Da minha condição

Fim inusitado
Lento à nascença
Célula ilustrada
Olhar transviado

Assim me fiz mulher
Não de mim

Só…

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Morrer é ponto certeiro


Terminam os anos das fogueiras acesas
Dos melros a cantar nos telhados

Nos olhos a verdade
Nas mãos a cegueira
Ensaiando a benemérita vontade

A verdade de quem morre
Ao levantar do chão
As memórias de quem sofre

Porque morrer é ponto certeiro
Num ponto
Onde o vento
Levanta o Homem

É ser livre marinheiro
*
A minha singela homenagem ao José Saramago

quarta-feira, 16 de junho de 2010

E eu, Amor, beijo-te


(foto, DM)

*
Uma singular dança
Diversificando cultos
Conferindo ao corpo
Um verdadeiro refúgio
Tocando as hastes que lhe conferem
A fonte primordial do desejo
*
Um momento expressivo
Do próprio mundo que o desafia
Próximo de uma circundante atmosfera livre
A ser conquistada
Retalhada
E esmiuçada até à última lágrima caída
*
Esta capacidade intrínseca de abrir os braços
E deitar-te no meu colo
Esta necessidade urgente de te tocar os lábios
E dizer-te…
Amor beija-me a face molhada
*
Há rios que me cobrem
Em momentos inéditos do seu curso lento
E eu Amor, beijo-te
Não os lábios
Não a pele
Não a língua
Mas só as gotas de suor morno
Que escorrem agora pelo teu peito

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Nada é Nada

(foto, DM)
*
É nesta expansão que me dou
Tal a dimensão exposta no céu
Voo rasante a terminar nos olhos
De quem morre aos molhos
*
Avisto-te nas dores
De uma morte cega
Que já era antes
De me devolver ao sonho
*
Benditas as horas em que adormecemos juntos
Quando baixaram as naus até ao limite do céu
*
Nada é nada
A caminhar num solo pobre
Onde descanso a cabeça
E tu te deitas às vistas de um sonho meu
*
Amaldiçoar os corpos que se deitam em terrenos áridos
Similares os picos migratórios que se mantém
Na embocadura de uma asa caída

domingo, 13 de junho de 2010

Poesia de Albertos

O QUE PODE UM HOMEM


Pudera esta noite na hora do lobo
Empalhar um uivo em paredes de iodo
Pudera inteiro ser no teu corpo
Atear-me numa carícia de alguém
Como tu e o sentir não abalar a terra
Onde me deitar
Pudera devolver a carne às ossadas
Dos amados pelos que o ousaram

O que pode um punhal além
De retalhar postas de carne viva
O que podem os rios alem
De nos levarem com eles
O que pode um homem alem de o ser
O que pode a metalúrgica fazer
O que pode o nastro amarrar alem
Dos nossos semelhantes
O que posso eu alem de beber
Ouço os sinos serão agora 15 horas!
*
Alberto Ferreira
(foto: google)

quarta-feira, 2 de junho de 2010

As Torres Que se Avistam do Céu

(foto de minha autoria)
*
São lindas
Todas elas a enaltecer a pena
Que as descreve
Na palmas quentes das minhas mãos

Este chão que pisam
Solo fértil
Germinador de calor humano
E de tudo o que as faz ser
Fortes de coração

Te digo que são livres
Num olhar pleno
Traçando riscos no céu
Livres na construção das palavras
No gotejar de uma lágrima
Irrigando os campos de trigo
Fortalecendo as searas
Para um breve naco e pão

Elas são assim
Sinuosas pelo meio
As torres que se avistam do céu