domingo, 31 de janeiro de 2010

Há Cansaços Assim


Imaginava-nos num tempo só para nós
Para nos dizermos do mundo que ruiu a nossos pés
De um amor que nunca existiu
De uma dor que nos confundiu numa noite só

Cirandava assim por caminhos escarpados pelos temporais antigos
E acreditava que virias ao meu encontro
Como no tempo em que éramos um só

O amor que se resguarde até ao dia que soubermos avivá-lo no nosso corpo
Um adeus será o bastante, sem lágrimas a escorrer pela face negra do cansaço

Há cansaços assim
Mas que importa se nos faz cair por não sabermos correr lado a lado?

Eu já tinha perguntado à noite quando me viu abandonada
Se a tua memória era simplesmente por me teres guardado no passado
Ou se no presente, ela te tinha presa por não te querer ver a meu lado

São metades feitas de abraços e de palavras varridas pelo tempo
Eu já nem pensar consigo
Já nem a chorar me atrevo
As lágrimas escondem-se num único abrigo
Talvez aquele que eu um dia construi, para me abrigar das enxurradas mornas do verão

Sabes quando só um único sol era o nosso porto antigo?
*
(Foto minha no Palácio do Infantado em Samora Correia)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Sedução das Águas

Perdi-me em todos os corpos que me quiseram, mas nunca me deixei seduzir pelos poros quentes ou por uma boca aberta, sem primeiro saber se valeria a pena me perder, pelo que de novo iria receber. Por me trair nas esquinas de uma velha cidade, onde o Tejo adormece e os barcos naufragam na luz que lhe é perpendicular, encontrei-me a tempo de galgar as muralhas e de me juntar às novas correntes de Inverno.

Encontrei-te morto de fome, a deixares-te seduzir pelas águas pestilentas, correntes de uma dor cativa. As velhas indumentárias já gastas no cais, e tu cabisbaixo sem saber se devias seguir ou se preferias ficar. É ele agora o teu porto de abrigo, a tua caixa dourada que absorve do sol nascente as vestes que precisa, para quem se prepara para morrer nas costas de um reflexo lunar, que sente que morrer, é simplesmente deixar-se ir rio acima.

Fui uma corrente em tempos, mas já não se lembra de existir, e tu uma dor colhida nos cantos desta mesma cidade, que nos traiu um dia. Mas porque não trespassar o tempo e voltar a ser uma só corrente, na transparência das nossas almas, e deixarmo-nos conduzir rio abaixo? Cantava-te os sons de outrora, os cantares que existiram e os que hão-de existir, se me deixasses ao menos abrir-te as portas desta nova cidade. Derrubei-lhe os muros que a circundavam só para te deixar entrar.

Sabes bem onde me encontras, se me quiseres voltar a sentir nesta cristandade apedrejada
por todos os que nada fizeram para nos seguir.


(In "A Voz do Silêncio")
Foto minha - Parque das Nações)

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Tu Mulher (para a Isabel)


Hoje vesti-me da cor
Que atinge a plenitude
Da tua dimensão
Saboreei a dor que enfeita
As mais belas palavras
E recebi de ti
Os mais belos ideais

Dá-me do teu secreto jardim
A semente
Que faça germinar todas as flores
Tu que plantas orquídeas
Das mais belas cores

Hoje colhi os mais belos
E perfeitos amores
Que eternizaram os vendavais
E se debruçaram no tempo
Para enobrecer sonhos fatais

Tu mulher
Que és lágrimas esquecidas
E enalteces o teu nome
Em sonhos
Que são como sinais
Dá-me um rio feito de florais

Hoje fui loucura incandescente
Que é sentir que se pode ser gente
No germinar constante
De uma só semente
*
Poema dedicado à Isabel no dia Internacional da mulher em 2008 http://mayshay.blogspot.com/

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Soberana, És Tu



Esta dor no peito, cavada à nascença
Morte alada, anunciada, branda, indolor, esquecida de mim
Porque me sinto perdida, caminhando sozinha por aí
Se esta dor que me pertence por inteiro
Caminha bem em cima de mim?

Não ta posso dar, nem tão pouco ta confiar
Porque esta dor no peito é pertença minha e de quem ousar Me amar
Agora que sei que já não pode ser partilhada assim
Com as veias que correm sem pressa e sem certezas de nada ser
A não ser afluentes que caminham para lugar incerto
Muralhas abruptas num cais abandonado

(E esta dor no peito que continua assim…pérfida nas brumas de uma triste cidadela)

Sofro por não me sentir viva nesta fortaleza
Terra que me pertence como eu a ti
E no chão me desfaço e me refaço sempre, porque sim…
Por querer ser morte anónima, diáfana, mas indigente ou simplesmente
Pura afluente no ventre crescente que me carregou um dia

É sim esta dor no peito, que absorveu as lágrimas que verti num dia
Quando já nada me pertencia
E nem tu sabias desta pertença amortalhada em cima de mim

Sabes bem de quem te falo assim
Daquela por quem me abandonaste lá a poente quando o sol se fundiu com o horizonte
E o meu Amor por ti, num dia em muitos os dias que nos tiveram
Muros esbatidos, lamentos escondidos

(Mas esta dor no peito, que ainda me quer viva
Para a vida que há-de vir a ser, uma lágrima que te molhará a face escondida
Que se habituou a esta ausência perdida)

Acomodei-me tanto a estas mudanças, que mudar é recriar a minha dor
Sim esta dor que me cava fundo, sempre que te vais de mim
Ou eu fujo de ti

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Play


(foto de minha autoria)

Acabei de pensar em ti...
Dar formas ao pensamento, que me aconteceu também
não tenho paciência já para mim
sim também me sinto tantas vezes assim
ando triste e sem chão...
sabes que sinto que cair no vácuo, não é solução?

nem sei mais o que escrever
e eu não sei como me descrever para ti
e tem dias que tudo me sufoca e caio em prantos
eu nas lágrimas me afogo tantas vezes, e muitas sem razão
ando vivendo um dia após o outro até passar
e eu daqui avisto-te sempre no teu lugar. Quem diria!
fico tateando na poesia sem saber o que escrever
e eu tenho dias que nada me apetece dizer
às vezes com vontade de sumir e outras de aparecer...
não fosse o sol que me dá os bons dias, todos os dias e eu…nem sei
devo estar ficando louca! Ando meio assim
arrumo-me tantas vezes que me sinto assim, assim…
já havia feito um poema, depois mudei o que não gostei
e eu tão longe deste lado, deitei-me e sonhei

Dueto: Vânia Lopez Dolores Marques (Ônix)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Há Dias Que Sou

(Foto de minha autoria)
*
Há dias que mudo de cor
Me busco indiferente
Sem ter um amor
Há dias que sonho acordada
Me pesa a ausência
De me sentir nada

São horas tristes, agora...
Por me deixar
Transformar numa hora

Há dias que finjo ser eu
Que fujo de mim
E sou ave no céu
Há dias que sou uma canção
Sem musica no ar
Me detenho perante um não!

São momentos raros
Vividos apenas
Sob uns olhos claros

Há dias que sou um olhar
Em busca de um sol
Para me consolar
Há dias que sou o amor
Parado na noite
Aliviando outra dor

São dias que estou
Para lá do pontão
Momentos que sou...

Há dias que sou o amor....
Há dias que mudo de cor…

(In "Olhares"/08 - Corpos Editora)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Contagem Crescente

Caminhar por entre os sinais
Que soltas dos teus segredos
Sorrir e aconchegar-me no teu colo
E a vida que nos faz ir e voltar
Sempre ao mesmo lugar

Calarmos sorrisos
Abafarmos as vozes
E negras são as vistas
Que se esfumam
Por entre portas
E vidraças quebradas

Mas sempre que chorarmos baixinho
Irrigam-se as raízes secas
Saturadas da calma
De rios silenciosos
Sofridos
Rasgados
Pelas correntes frias do Inverno
Aí, te falo em outras vozes
Que ecoam e se alimentam
De sorrisos outros
Quais moribundos
Se vão arrastando
Em caminhos sofridos
E na noite cantam
E encantam becos
Entristecidos

Mas tu…
Voz cristalina
Alma cantante
Errante
Comunicante
Ergues das trevas
Outros sonhos
Outros cantos
Outros versos
Duetos aclamados
Que em nós
Se escondem
Até uma próxima contagem
Das letras que faltam escrever
*
Poema dedicado a uma belísima voz em canção e fado
entre muitas que não conhecemos e também uma amiga - Joaquina Silva

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Cantares Doces (Para Ana Martins)

(Foto de minha autoria - Rio Tejo)

*
Há cantares doces Outonais

Que mais parecem verões quentes

Enlaçados em doces madrigais

*

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Metades

(Passeio na marginal)
*
Acredito
Que a verdadeira morte
Se dá…
Quando o hemisfério norte
E o hemisfério sul
Se cruzam
E no ponto de intersecção
Se encontra
O verdadeiro motivo
Que a conduziu
Até ao último encontro
Onde nasceu
O hemisfério cerebral
Que pensa que morrer
É sair de órbita
E deixar para trás
Toda a sua conclusão
Feita de metades
*
Uma mental
E outra emocional