terça-feira, 29 de novembro de 2016

Vazio

Não sei como imaginar
o vazio de um lugar… 
vazio...

Pensar sequer nesse longínquo espaço
onde o pensamento é coagido 
a permanecer à sombra 
depois traído 
quando por força do pensar
cuspido fora dos olhos

Não me surpreende esse frenético olhar
quando me toca
como um simples ruído
indecifrável…
até no silêncio 
por não pensar em coisa alguma
ou então em algo semelhante
ao vazio do espaço
que permita imaginar-me
perto ou longe

Não lastimo a falta de o não o ter
é como se fizesse parte 
da sua ausência 
da imaginação daquele pensar abstracto

Não queira saber onde me encontrar
porque somente me sei 
sem me saber presente

(Às vezes a ausência é eternamente
o espaço físico da morte
nunca antes anunciada)

Pois que nem a morte me sabe 
nem me interessa 
saber se ela existe
ou se no limite, sou…
o pensamento 
antes 
ou depois dela
por causa de pensar
que penso
a imaginar-me dentro dela

ÔNIX

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Um leitor ao livro "Simbioses Montemuranas", Alberto Moreira ferreira

As opiniões sobre o que escrevemos, de pessoas que admiramos. são sempre um afago na nossa alma, além de nos ajudarem a melhorar. 
Mais um leitor, ao livro “Simbioses Montemuranas” de Dolores Marques.

Alberto Moreira Ferreira, Poeta.

Fiquei de dar-te a minha opinião sobre o teu livro e, pronto... já o li. Primeiro, e entre aspas, devo dizer-te que já não pegava num livro para ler há algum tempo. Por isso até estou meio admirado comigo, meio, meio chega!
Adorei ler "Simbioses Montemuranas". Durante a leitura fui muitas vezes assaltado por imagens saídas das palavras que me remetem para o período do meu crescimento, que também se deu num lugar de gentes do campo, onde o mato, as terras de cultivo e baldios eram paisagens constantes. Foi a que tivemos durante muitos anos naquele lugar, hoje bastante mudado, quase irreconhecível. 
Dei particular atenção à história do João Ladrão, um “ladrão” que a vida fez com algum carácter. Naquele tempo ainda tinham algum carácter, é verdade! Achei curioso porque ele roubava sobretudo a quem tinha, e além de ajudar um ou outro lá da terra, também não retirava aos que de alguma forma o ajudavam. 
Naquela altura, e mesmo hoje em dia, a vida pode ser muito mas muito dura. Pois... por vezes o berço também não ajuda... enfim.
Adorei rever palavras da época, ainda utilizadas nalguns locais, digamos rurais, como almude... o meu avô pedia sempre um quartilho de tinto. rs. O livro tem uma linguagem fluente, penso que bem conseguida, fluente, algo poética e agradável, bem ao estilo da minha amiga.
Este livro deu-me também a conhecer um pouco mais de ti. Tem fotos maravilhosas. Eu que sou uma pessoa de outra geração, criada entre o campo e a cidade, meio metropolitano, tenho uma

admiração por imagens daquelas épocas.
Depois, há algo de misterioso naquelas terras... portuguesas.
Sabes que eu critico muito o meu país mas amo-o. Enfim, continuamos a ter um país sem cabeça, e ainda por cima tem um coração que o f….desculpa.
Quero dar-te os parabéns esperando que nos contemples com mais obras, mais livros... ah... quase me esquecia dos poemas que o “Simbioses Montemuranas” tem, maravilhosos. 

Obrigado Dolores.
Um abraço

Alberto Moreira Ferreira

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Sobre Simbioses Montemuranas, o Livro

Sobre o teu livro, que acabei de ler, e como prometido, umas breves notas:

Entrei na leitura sem ideias pré-concebidas, excepto a noção de que gosto sempre de te ler.
Ainda assim, o registo do livro surpreendeu-me.
É sempre difícil de catalogar um texto (pois todos os padrões são imperfeitos), mas talvez dissesse que é um registo histórico (simultaneamente biográfico - tu, tua família e suas inserções no local – e documental – a terra, a cultura, as “estórias”).
Mesmo sabendo das tuas diversas incursões escritas anteriores (e de seus diversos registos - poesia, reflexões, etc), não estava á espera do que fui encontrar (culpa minha) e, por isso, num primeiro momento estranhei o registo.
Depois, leitura adentro, tudo começou a fazer sentido, em especial quando integrado este livro com o “Uivam os Lobos” que é talvez – um pouco – a versão poética deste teu livro.
Talvez escrevê-lo tinha sido uma necessidade (tua).
Como livro histórico e documental está interessante e conseguido.
Descreves e exploras a cultura e hábitos de uma determinada região, aqui e ali romanceando (como é o caso da história do “João Fernandes” que atravessa todo o livro), aqui e ali com um registo muito íntimo e biográfico (tuas impressões e sensações, que não resistes a “poemar” – e ainda bem).
Nota-se um evidente e meritório esforço de investigação e documentação da tua parte (percebe-se que recolheste testemunhos e revisitaste locais).
Nota-se também a tua especial sensibilidade, quer em alguns textos específicos, quer no tom do
minante (sensibilidade que sempre expressas, de forma particular, na tua poesia).
Tive pena que não explorasses mais a perspectiva da Avó que aguarda o regresso do marido emigrado há muito tempo (seus medos, esperanças e expectativas). Acho que dava, por si só, um belo conto.
Presumo que a estruturação da “narrativa” não tenha sido fácil dada a pluralidade de aspectos que, se percebe, quiseste integrar (a escolha das “estações do ano”, como forma de divisão do texto, foi uma boa solução).
Ainda assim, às vezes, como leitor, senti que me perdia um pouco nessa estruturação (também não sei quanto tempo demoraste a compor o texto - suponho largos meses), mas compreendo que a emoção e vertigem das múltiplas ideias que quiseste incorporar fosse uma limitação.
A revisão e edição gráfica do texto também não me pareceu absolutamente perfeita (problema recorrente destas “editoras”, que nunca ajudam).
Mas, em geral, o texto lê-se bem e de forma agradável.

Em conclusão, estás de parabéns por mais esta tua incursão, tens uma escrita que é sempre cativante.
Tenho a certeza, para quem vive na região, o livro é muito especial.
E que, também para ti, este livro é marcante e essencial, pois é um texto que se sente muito visceral, autêntico e íntimo.
Eu gostei de ler, gosto sempre de encontrar tua escrita.

Filipe Campos Melo

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Holocausto

Imagino o mar como um potencial destino dos deuses
Imagino sim, um mar prostrado a seus pés
Imagino como será essa força dominadora
Imagino-me somente onda sem ter onde rebentar

Respiro ainda, sim!
Aspiro um ar denso, poluído que se entranha
nas entranhas todas do meu corpo

Sou onda sem ter o que abraçar
Sou maré sem ter onde se entregar
Sou simplesmente um movimento aberto a todos
os que descem do farol mais antigo

Sim, a torre mestra que suporta um céu maior
Sim esse céu que foi terra e mar 
Sim, esse céu que foi sol e lua
Sim, esse céu que foi o holocausto da humanidade
e a fez calar

Respiro ainda, sim!
Aspiro um ar salgado
furibundo por não saber onde se afundar

A extrema-unção dos vagabundos
que me namora nos dias santos
e me desflora nas noites errantes

Caminho só agora
e sou mar
e onda
e sol
e lua
e terra
sem poiso certo
suspensa 
na atmosfera densa

A extrema-unção dos vagabundos
é chama acesa que incendeia os corpos lá fora

Lá, onde não há chão para descansar
Lá onde a vida cessa sem cessar
Lá onde os caminhos se cruzam e presumíveis bocas se fecham sem se beijar
Lá, há todo um corrimão de letras prontas para me afrontar
Lá, onde os monstros choram e as lágrimas correm para o mar

Dolores Marques "2012

Eu Soletro e Tu Escreves:


Seria um verso só no teu caminho
Se quisesses ser tu, um só poema
Mas pelos tempos que já passaram
Te digo
Que por enquanto
Sou só pintura abstracta
Matizada nas brumas desta cidade que dorme

Vejo as luzes que se fundem com a corrente do rio
E já nada é como era antes 
Sofria por pensar que se tinham afogado
Nas correntes, a despertarem 
Para a noite reflectida nos telhados vazios
E fumarentos das velhas casas

Sempre que lhes defino novos traços
Traço-lhe com cores baças
Os raios esguios
As pontas quebradas
As arestas já esbranquiçadas

Mas ela…
A minha cidade, dorme ainda
Nos meus braços de menina
Esqueceu-se de crescer
E sonha que tu serás
A outra margem estilizada

Mas se quiseres ainda ser poema
Eu soletro e tu escreves:
(A) de além-mar
(M) de maré
(O) de olvidar
(-) outro traço a tracejar o mar?, Dizes tu
(T) de tudo
(E) de esperança

E se ainda me quiseres amar, escreve:
Quero-te nas marés crescentes
De Além-mar
E não esqueças que para olvidar
Os meus sonhos
Serão precisos vários traços
E acerca de tudo o que viste e ouviste
Esquece
É Agora o momento!

DM 

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Poema de Amor




Escrever um poema de amor
É ter nas pontas dos dedos a fidalguia 
De todas as flores a desabrochar
Sem mesmo atender 
Ao chamado dos sons primaveris

É verão
Mas  não sinto nas mãos
A chama que me leva a escrever
Um só poema
Uma só palavra 
Que te diga como se ama
Sem saber escrever um poema de amor

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Caminho entre as pontes

O final de um dia a entrar pela noite dentro.
O trajecto de um sol tímido, face à palidez do rio, sossegado
Um espaço em branco, na continuidade do tempo
A soma dos passos, no impasse da longitude do espaço
E depois a neblina…somente esse manto a determinar o caminho entre as pontes


ÔNIX/DM

Sorrisos

Nunca vi alguém com esta capacidade de se multiplicar e continuar com a mesma serenidade,como se não houvesse lugar a qualquer tipo de esforço.
O rosto expressando a delicadeza de um verso que por vezes também é o inverso quando percorre todos os pontos que o definem.
........................
Falta-me saber tanta coisa sobre alguns sorrisos que chegam sem serem chamados.
ÔNIX

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

O Além





Nem sempre se mede a distância, contando os passos até à porta fechada
O além não é perto nem longe. É somente o tempo de partida e de chegada com a porta sempre aberta.

ÔNIX

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Imagem

Há um pensar alheio 
ao curso dos rios...
e eu serei tudo o que quiser
quando não puder ser em mim

Ainda que a força do vento
me leve
tudo será volvido ao lugar de sempre
sem chegadas e sem partidas

Há ainda um sonho
onde sempre fomos...um e outro
sem receio de nos perdermos
na foz

Ainda que na noite
se afunde a última estrela 
tudo se concluirá na imagem 
ali reflectida

ÔNIX

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Forte e ruidoso vento do Norte

Até ao por da estrela
já o reflexo lunar se adiantava às correntes 
que miravam os semicírculos fechados dos olhos
Até à contagem das horas
já a noite fecundava todos os espaços em branco do rio
Até ao meio dia do sol
tudo era um sono ainda tardio... a copular com o vento que viria de cima....
Forte e ruidoso vento do Norte
DM

Espectro da dor




Quando finalmente 
decides bater à porta
esta limita-se ao ranger 
das tábuas

(Ecos ali gravados 
pelos nós dos teus dedos)

Verte-se desumana
a crueza diáfana
às vésperas 
de uma noite 
a relampejar memórias 
no bramido da tarde

A súbita linguagem
aflora imediatamente
sem a fuga
habitual do silêncio

Espectro da dor
no desleixo habitual
do pêndulo do relógio
ao canto da sala 

(Assumidos novos pontos 
ao nascer das horas

São terríficos os dias
quando o despertar se limita 
ao vislumbre das noites
em que sonâmbulos
não magicamos 
nas consequências 
da revolta ali instalada

(Espie-se o movimento dos olhos
antes que a luta seja feroz)

Dolores Marques

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Claridade

À transparência tudo se comove perante o inconstante movimento
A perenidade
A circunstância fugaz
A fuga para o reencontro ainda virgem
O fogo que o tempo não apaga
A força de quem parte sem motivo
A tempo dos frutos e do mel
O sol tardio sobre as águas
O sufoco da lua sobre os telhados de xisto
O primórdio onde não existe um recomeço sem um fim
O escultor nos arquétipos do tempo escoado nas suas mãos
O olhar claro das correntes no corpo
O doce escorrer de aromas a incensos nas flores secas junto aos pés
Tudo era a claridade nas pontas dos dedos a tocarem um pensamento desfocado
Sob pena de não chegar cedo, adiantou-se ao pôr-do-sol nos olhos

ÔNIX

terça-feira, 19 de julho de 2016

Parecia-me ouvir um som




Parecia-me ouvir um som
e tudo se desvendava irregular
como se tivéssemos chegado 
todos lá do fundo 

Ouvia-se o batel grosseiro
junto ao pontão
quando me faltava pé
que à outra margem 
me levasse  

Mesmo que a promessa
fosse de nunca voltar
à praia seca
tudo era a clara-idade
no sombreado 
das asas brancas

Tudo era o preto 
e o branco
no ondular pálido
do farol
a cortar em dois 
o horizonte

Parecia-me ouvir um som
no corpo dos cristais
em lampejos fúnebres
na sonora-idade do vento
a vergastar o areal 


Dolores Marques

terça-feira, 24 de maio de 2016

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Universo dos sentidos


Muita gente, nunca por morte será gente desconhecida. 
Poderá certamente ser a vida, por conta de alguém que sente quando se funde em outra gente. Ainda assim, há quem viva, como se gente fosse. Sentem, mas não têm o conhecimento devido do seu Ser Único....tripartido.
Enquanto isso, nu na penumbra, o Ser nunca é ausente ou indiferente ao movimento que o circunda, quando por sorte alcança a linha do horizonte, onde ainda se anunciam as estrelas.

No núcleo abafado por todos os isentos sentidos, estão os que interiorizam esse ponto esquecido, e, reduzido simplesmente ao sentido horizontal de uma linha esticada entre os dedos. Verticalizam-se os sentidos, mas nunca o sentir é um fundo, antes uma figura geométrica virada ao contrário.

Na unicidade, conjugam-se os modos e as formas da improvável comunicação dos elementos, ali expostos no lugar onde se acomodam todos os que, vestidos, são no acto, travestidos, mas não destemidos. 

Estamos então, perante um monólogo introvertido no universo ali expandido.
Os olhares distantes do lugar onde os olhos deviam descansar, seguem perante a indiferença dos sentidos, os quais comunicam entre si, quer nos inversos das palavras, quer na devassidão do mundo que criaram.
Estão assim sem rédea curta, enquanto a linguagem elementar é evidente na singularidade dos opostos, criados à margem de si mesmos.

Enquanto se é gente, nem sempre se sente, porém o sentir não se confunde nos corpos doentes, quando por ali rompe a dor. As mãos dispostas no sentido verdadeiro do movimento intercalado, sustentam verdades que os olhos não sabem, tão pouco se encontram no centro onde se encolhem todos no universo dos sentidos.


ÔNIX "O Todo"

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Celeste Almeida falou da autora de "Simbioses Montemuranas"

Aconteceu na Avenida da Liberdade em Lisboa , no  dia 16 de abril  o
Lançamento de mais uma Obra  de Dolores  Marques, a escritora de Moção
“Simbioses Montemuranas” – o livro



 (…) Dolores Marques,  Mulher, mãe, avó, filha…amiga.  Uma amiga de todos os dias, pois apesar de separadas por centenas de quilómetros, une-nos uma cumplicidade que se funde numa comunhão de muitos sentires.  Quis o destino que ela viesse até mim, através de um postigo  que em pouco tempo se tornou numa janela aberta à vida. Às nossas vidas! 
Dolores Marques fez  a sua caminhada no sentido inverso da terra  que a viu  nascer: A aldeia de  Moção!  Outrora, esta  localidade   viveu tempos áureos. Hoje, distante da história, tranca-se em pedras de xisto onde habitam memórias e segredos coroados de reis e rainhas. Uma aldeia que no início  da nacionalidade,  foi vila e sede de concelho, afundou-se nos sonhos enterrados em  ruínas ancestrais. 
Tantas memórias rezam aquelas pedras onde tempestades se refugiam algures no meio de nada.  Mas, Dolores Marques possui uma força interior que  a empurra ao subir montanhas e atravessar vales. É verdade que a vida não é um mar de rosas, mas enquanto peregrinamos neste mundo, devemos fazer o possível para cultivar essas  rosas.  E… Dolores  tem o condão de cultivar rosas nos espinhos que sangram no  calvário da vida. 
 Nenhuma barreira é intransponível , se estivermos dispostos a lutar contra ela.   Dolores Marques lutou.   Lutou   com fé na sua caminhada.  Refugiou-se,   talvez, nos montes sozinha, para se esconder dela própria. Bebeu,   de certo, os soluços que a libertavam dos  molhos que a perturbavam.  Nas colinas varridas pelo vento, viu o sol tornar-se neblina nas cinzas das horas…Mas, também viu os dias com o brilho das esmeraldas nas nascentes das fontes.    Agarrada a esse brilho, Dolores ganhou raízes na sua cidade,  relembrando  a serra, pensando na casa onde cresceu, nas árvores que trepava, nas poeiras que na mente escrevia, nas águas do Paiva onde se banhava…

A saudade leva-a de volta àquele chão, várias vezes por ano.  Precisa relembrar os seus  tempos de infância. Precisa comer fruta arrancada das árvores, ouvir o uivo dos ventos, esconder-se nos milheirais,  olhar o doirado das espigas, deixar-se embalar com o cântico dos melros, amar os animais do campo e as aves do céu, segredar pensamentos a heróis e heroínas esculpidos nos altares de pedra onde o invisível fala…

Dolores é uma  vencedora.   Depressa sepultou o  inconformismo que trazia na bagagem feita de cartão   na correnteza do Tejo. Arregaçou as mangas e lutando com as armas do seu trono  singrou  na vida com determinação e mérito!  
Mulher coragem. Mulher determinada. Sensível, afável, justa, amiga…  Mulher que continua a acordar na sua cidade com o uivo dos ventos que ao longo da vida a irá acompanhar sempre, esteja ele onde estiver: quer seja,  abraçando a  sua  serra e o seu rio Paiva,  quer seja,  perdendo-se  nas águas do rio Tejo…
Dolores sabe que há uma razão que nos chama à vida, que para além do visível é preciso acreditar…E ela acredita nas madrugadas pintadas  de musgo  e na magia das canadas estreitas que ela tem que trilhar.  Acredita  num Ser Invisível   que  a ouve em silêncio…num lugar qualquer… em qualquer ponto…que brilha no Infinito… 
Amanhã será outro dia  e mesmo que as folhas ameacem cair dos montes, Dolores irá  prosseguir , escrevendo numa folha de papel  a continuação da história da sua vida. Ela   a personagem principal,  que sabe,    que o futuro pertence a todos aqueles que crêem na força dos seus sonhos…
Obrigada, Dolores! Obrigada,  pela Mulher, Mãe, Avó , Amiga que és! Que o elástico que te suporta te mantenha sempre em equilíbrio.  É  o meu ardente desejo. 

Por Celeste Almeida

domingo, 17 de abril de 2016

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Simbioses Montemuranas o próximo livro de Dolores Marques


Simbioses Montemuranas” o próximo livro de Dolores Marques. Lançamento dia 16 de Abril às 16 horas no Club Literário e Bar, Chiado Editora. Forum Tivoli, Av.Liberdade

..................................................
Simbioses Montemuranas de Dolores Marques é uma viagem através do tempo e do espaço, aos lugares da nascente, do berço, numa cadência milenar de estações que se alternam e transformam ao ritmo de sois e de luas, as vidas da gente, sediadas num templo rude e agreste, banhadas por rio que as transforma em rituais de aculturação e religiosidade.

Será através das experiencias de vida, das vivencias marcadamente vincadas no quotidiano da narradora - Dolores Marques- e do personagem principal, João Fernandes, que a vida, os usos e os costumes, as migrações, e a adaptação aos ritmos de um outro espaço, vivido pela aculturação provocada pela mudança de lugar, que todo o livro se vai desenvolver. Num discurso, por vezes descritivo, por vezes intimista, numa linguagem que se mistura ente a prosa e o lirismo, com analepses e prolepses, a ruralidade e a vida citadina são aqui narrados, em imagens e símbolos descritivos que nos aproximam das gentes e do seu saber ancestral.

São as vivencias do personagem principal, João Fernandes, figura presente nas historias do povo de Montemuro, não se sabe bem o quanto destas histórias são verídicas, ou se já se metamorfosearam em mito, em lenda, de tanto serem repetidas, mas que na realidade acabam por ser um legado das vivências duras e agrestes das gentes da serra. A serra, com os seus condicionantes físicos e geográficos, a mostrar as dificuldades da ruralidade e do distanciamento de um povo.
São também as vivencias da narradora, Dolores Marques, a vida na serra e na cidade, a força da natureza, o legado familiar, a organização das histórias contadas à lareira, a força da oralidade a vingar na passagem do tempo e na força das palavras, Dolores Marques, a usar a linguagem escrita, ferramenta indispensável na continuidade da memória de um povo e no seu legado cultural.
Este é um livro, que para alem de contar histórias de pessoas reais, que habitaram num determinado espaço geográfico, e num tempo definido, é também um livro de forte caracter sociológico.
Nele, podemos encontrar a profunda dicotomia entre a serra e a cidade, as alterações quer a nível cultural, quer a nível arquitetónico de uma cidade que se esgotou no tempo e nas alterações movidas pelo crescimento populacional e económico. Podemos também interiorizar, essa ligação profunda às raízes, entre o passado, o presente e o futuro, são as gentes, as suas ações, as suas palavras, escritas ou faladas, que marcam um povo e a sua diversidade.

São Gonçalves
Luxemburgo, 30 de Novembro 2015

sexta-feira, 25 de março de 2016

Rumores

Ouço rumores quem vêm da muralha 
Mas eu confesso-me em desespero
Por não saber que a última mortalha
É de linho, ou pano cru em puro zelo

Há uma cancela semiaberta
Há um retoque na minha entrada 
Há um acto que me desperta
Há a última relíquia ali encontrada

Tomara ver uma só janela
Que me abrisse à luz que é tua
E me vestisse dos trajes de outrora

Quisera ver uma imensa estrela
Que me quisesse tão nua e sua
Que me levasse no tempo, sem hora

(Dolores Marques, Poemas de 2009)

quarta-feira, 23 de março de 2016

Crepúsculo


Será o teu Verso, voraz 
do sentido terno da corrente
que se derrama sobre mim
quando te descrevo
e te sinto corrente poética
no meu corpo
quando o poema 
se limita a discorrer 
sobre um ponto limite  
no crepúsculo da memória?

Será o teu poema
Um único verso
Onde acomodar  
O último crepúsculo
Dos meus olhos?

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Ecos

Lá fora
no avesso do mundo 
há um rio que deserta 
mas chora num lugar 
sem fundo

(A lua solta-se breve e costumeira
tal orgasmo do sol a colidir com a noite)

Enquanto se espera
pelo som abafado
das pingas grossas
nas vidraças
tudo é a graça
que por sua Divina Graça
une o céu com a terra

Na serra
ainda a lonjura
do tempo
se mantinha acesa
enquanto o sino
se balançava 
irrequieto 
por quanto o som 
traiçoeiro
se adentrar pelas maiores dores
do mundo cá dentro

Por demais extenuantes
eram os seus ecos
vibração, paixão
talvez até comiseração
por um rio perdido
agora por mares tumultuosos
de obrigação 
ou quiçá, pelos altares
onde se ajoelham 
todos os Mestres 
que trazem a bem aventurança
de todos os tempos

(Calados, frios e sombrios
são todos os tempos do mundo)

E ali
somente as águas paradas
recebiam as mãos abertas
para um todo
inseparavelmente cuidado
como se cuidam
todos os sonhos
quando navegam em águas brandas
até à chegada
das novas chuvas
para regarem os campos

Enquanto isso
o sino tocava às almas
e desprezava uma lágrima perdida 
na imensidão do tempo
agora espelhada na pia de água benta

ÔNIX 2016

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Cálice

Quando do céu me distanciei
há milénios
numa secular distância 
entre medos e aflorações diversas
plena era a abundância 
entre as folhagens verdes
com a nova dança dos ventos

Quando na terra me enraizei 
e a Oriente se decidiu
que seria uma só voz
a concluir o enredo da história 
de todos os que sabem onde mora 
o Deus nosso conhecido
e nós nos sabíamos 
a pertencer ao seu povo escolhido

Revigorados os campos
alinhados os bagos brancos
e cheios os olhos da imensa claridade
que chegava do cálice sagrado
sobre um rubro manto de verdade

Plena era a imagem reflectida nas mãos 
de quantos os sentados à mesma mesa 
a ouvirem as doze badaladas
no alto da torre

ÔNIX 2016

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Reflexos Meus

Sonhava ver-te
do lado de lá
deste rio

Sonhava assim
como quem vê
a sua própria
sombra
em movimentos
disformes
nos reflexos da lua

Percursos alienáveis
travessias apagadas
nas translúcidas
correntes
rio inatingível
de sonhos lavrados
em vultos caídos
Desgraça minha
em caminhos meus
voltagem acinzentada
pincelada de mistério
outrora sedutor
das águas

Auréola acobreada
na aragem que passa
camuflada
estrangulada
e ensaiada
na eterna lucidez
dos percursos meus

Alienação das águas
nos caminhos
corrompidos

Mas mesmo assim
eu quero ir
por este sonho acima
encerrar-me
no limbo posto
quando te encontrar
do outro lado
em reflexos meus
modelos teus

Dolores Marques; Poemas 2009