domingo, 30 de agosto de 2009

Vida Que Acontece

Ser mulher é ser lágrimas caídas
E desabrochar
Como as flores mais destemidas
Sou uma flor de jasmim
Ainda por ser....

Sou olhos de água em rios estendidos
Sou o vento que passa breve
Sou nascente que corre desvairada
Ao encontro de todos os rios
E de todos os mares
*
Transformo-me em maré que amanhece
No areal dourado
E se estilhaça junto ao cais
Sou fonte inatingível do encanto
Que adormece entrelaçado
Em cristais enfeitiçados
*
Sou a vida que floresce
Em ramos empobrecidos
E em raízes esmigalhadas
Sou a vida que acontece
E um sol que não esmorece
*
(Do meu livro "Olhares" editado em 2008

(foto de minha autoria)

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Pérolas



São escusos os caminhos quando escuros de tanto caminhar. São encontros e desencontros nas encruzilhadas do meu pensar, se me perder por caminhos que me tentam barricar.

Mas não!

Serão só sombras nos indiferentes rostos que passam, e que marcaram vidas ainda por continuar. Há um mundo que me esquece, há um sonho que tenta arrastar-me contigo, como se fossem vidas com outros ainda por sonhar. Se eu pudesse, falava-te de mim e de ti em outros que vimos ficar, mas se tu não olhas nos meus olhos quando te falo, de que adianta ter voz, se é neles que estão desenhados os caminhos longínquos que temos que atravessar?
Precisas entrar, instalar-te e acomodar-te num dos lugares eleitos, aqueles que sempre te idealizaram, quando voltasses à cor dos dias e deixasses nas sombras da noite, um raio solar.

São pérolas os meus olhos!

Serão nus os teus, se os lanças em desatino desejo, por saberes que são tantos os que te elegem coroando-te de flores ainda por semear. Mas dou-tos se os quiseres, para plantares nos sonhos dourados onde moram todos os reinos, todos os samurais, todos os mestres, todos os líderes e todos os nossos guias - os teus e os meus, sempre que adormeço nos corais onde crescem pétalas vermelhas e tu me cobres com teu manto branco…

E as pérolas gastas, são a nudez dos temporais
(Foto de minha autoria )

sábado, 15 de agosto de 2009

Continuo Só...

(Foto de minha autoria - Vistas da minha aldeia)
*
Subi ao tecto do mundo
E vi-te a escalar nas montanhas
Imagens transfiguradas
Lembranças desmembradas
De um momento que ficámos sós

Sabes aquele fatídico dia
E o instante que o mar levou ?

Por ti faria tudo…
Mas como trepar ao céu
Riscar o teu nome
E baixar a tempo
De me encontrar
Em todos os nomes
Que conheço?

Do buraco da fechadura
Já não há nada que eu possa ver
A não ser uma réstia de luz
E um olhar consagrado
Que se mostra ainda no templo

Foi quando nos despimos um do outro
Daquele jeito só nosso…

Lembras do nosso desejo
Que cimentou a luta
Que travámos os dois
E das marcas registadas
Em frentes consolidadas?

É este agora que te traz a mim
E eu continuo só…

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Porque te Prometi

Prometi-te um poema
Em versos simples
E singelos…
Singeleza rima com tristeza
Será esta palavra gasta
No meu vocabulário de hoje
*
Só porque te prometi...
Um poema que versasse
Alegria num sorriso aberto
Um céu que brilhasse
Na abertura do tempo
O nosso tempo
Enquanto longe
Mas tão perto
*
Ai como te sinto
Nascente e poente
Crescente, rima com enchente
Assim, te bebo do olhar
Saciando esta sede
De adormecer
Num sorriso teu...
*
Um afago amanhece…solto
E é no descanso da noite
Que meus olhos são
Um mar fatigado
E é no teu rosto
Que recai uma lágrima
À espera de um colo sagrado

domingo, 9 de agosto de 2009

Gota de Orvalho

(Foto de minha autoria)
*
Sou gota de orvalho destemida
Errando e desfazendo os nós que me alucinam
Numa longa e invisível sensatez
*
Sou um cais onde as gaivotas vêm beber
Sou a fortaleza dos dias
Onde as marés aportam
Tempestades ao amanhecer
*
Porque me entrego neste mar sem sal
Se ainda sou só uma gota esquecida
Sobre folhas tenras e desprotegidas?
*
Porque teimo em ser oceano
Se sou só orvalho cristalizado
Sem encontrar o riacho que me eternizou?
*
(Poema escrito em 2008)

sábado, 1 de agosto de 2009

A Nua Praia


(Foto de minha autoria em maré alta)
*
Os corpos penetram a ondulação quente
De um mar audaz
E o sôfrego fluido escorre…

Abunda na maciez da corrente
Em maré alta
O sol refugia-se por entre as dunas
E cobre o areal tingido
Da nua praia

Enchentes escaldantes
Fendem as muralhas esquecidas
Cruzam-se no horizonte
E a força dos ventos
Anunciam tempestade no alto mar

Pétalas brancas definem-se
Num céu azul
Oscilam batendo livremente