quinta-feira, 30 de julho de 2009

Dor de (José Luís lopes)


Se eu fosse poeta, meus olhos
Poderiam sempre chorar,
Carregar nas lágrimas o estigma
Dum fado nascido no acaso.

Aceno na esperança que me enxerguem
E, com a mão sempre aberta,
Disputo cada aconchego, com fé,
Agarro cada chama de afecto.

Procuro um novo trilho,
Um novo sinal, uma pista,
Talvez um fado chorado
Onde a voz fosse uma fé.

Tenho dias que morro apenas,
Noutros, parto com outros sem rosto,
Procuro um dia bem-aventurado
Onde o pecado seja mortal.

Mas os outros, como todos os outros,
Não sabem nem saberão nunca,
Que apenas procuro um assento
Onde possa apear a alma.

Dias há que posso até morrer de verdade,
Tragar um sabre cravado de amargura,
Não por inimigo desavindo, antes por
Um braço idiota preso ao passado.

A noite eterna já quase é um desejo.

José Luís Lopes
*
Não sei porque me prendo à dor, mais do que à alegria. Alegria sinto-a e exteriorizo-a. A dor fica em mim, suspensa, para que as lágrimas se vertam e permaneçam num rio corrente, e sem margens para desaguar.Mas as lágrimas que se escondem são aquelas que não vêm o sol no mar

Gostei muito deste poema José Luís.

Dolores Marques
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=76947

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Simples Brisa


Como se pode esquecer

o que se vê neste início de noite,

de tão belo e tão doce

que me entristece

não poder ser mais

que uma simples brisa


segunda-feira, 27 de julho de 2009

Atracção ou Mera Suposição

Sou no assombro dos dias
Desassossego
Lamento
Ansiedade
Escuridão
Aguardo pelo mundo que sofre
Em constante agitação
*
Sou choro tímido de verão
Tenho na voz um resguardo
Sou palco suspenso
Pura figuração
E no sorriso de uma criança
Sou mais uma contradição
*
Ainda em estado amorfo
Vou palmilhando socalcos
Que sobrevivem no tempo
Em que morrer
Era sonhar e voar
Um estado de contracção
*
Atracção
Paixão
Condição
Ligo-me aos ventos tardios
Que me trazem paisagens de um sonho
Aí repousa o meu corpo
Sou mera suposição
*
(Coitada de mim se soubesse
O que viria num tempo
Puxado pelas redes da paixão)
*
Lânguidos olhares que se fecham
Num único alçapão
Sinto na boca um vulcão
Que engoles sempre no verão
E no peito uma corrente
Que teimas em escrever com a tua mão
*
Há um fio que nos liga
A terra é um manto branco
E o céu pintura abstracta
Traços vermelhos que são
Entre o nascer e morrer…
Mascarar o sentimento
Com as cores que pintam o chão
*
Vê-me um olhar perdido
Face escondida
À procura de nada
*Serei também eu
O regresso às origens
E sentirás na corrente
Um corpo que morre
No calor da Paixão

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sentimentos

(Imagem de Bárbara Elias)

Há um sentimento por detrás de certas palavras,
onde se desenham perfis de sílabas que se gastam
quando lhes pegamos
e as transformamos em proveito próprio.
*
Há prazeres que se gastam...
*

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Aromas Doces

(Eduardo Cambuí Junior artista plástico)
*
Um sonho
Uma porta entreaberta
Essências esquecidas
Flores de jasmim

Pronuncio o teu nome
Falas-me assim…
Absorvo-te nas palavras
E deixo-as suspensas
Eperando...
Sentindo-as em mim

Um presente inacabado
À espera de aromas doces
Flores de Jasmim

http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=38581

"Autofagia" de Giraldof (a propósito de molde inexacto)


(Imagem de Jet em www.Olhares.com )

Molde inexacto
Traçado no xisto.

Ser fatigado, estafado,esgotado.
Persisto.

Escultura de letras,
Paradigma poético.
Estrofe mutilada,
Fonema acético.

Foge o tempo,
Medo imprevisto.
Desfaço,
Refaço.
Não parto.
Persisto.

Constante letargia,
Destino encalhado.
Verso sofrimento,
Poesia momento.
Insisto.

Autofagia.
Ainda existo.
http://www.worldartfriends.com/modules/publisher/article.php?storyid=9148

Moldes (P/Giraldof)

( Imagem de André Louro de Almeida)

Um molde inexacto...

uma mistura de afectos

que se perdem no rumo da história....

Comentário em:

terça-feira, 21 de julho de 2009

Anjos



Neste e noutros mundos
há sempre um sonho à espreita

Em todas as ruas
há casas desfeitas
há becos sombrios
há de tudo um pouco

Mas há sempre um sítio
onde guardo os afectos

Mesmo que mal arrumados....
vou lá e trago-os ao colo...

Ofereço-te hoje um momento
que ficou parado lá atrás...

Um dia que roubou de mim tudo
até tu, na companhia de um anjo


sábado, 18 de julho de 2009

Paixões Proibidas

( Foto de minha autoria: topo de uma escultura em ferro)

Será na penumbra da noite
Que os sons se perderão
Será sempre no silêncio de mim
Que os tambores soarão

É agora o momento
Da total loucura
Onde se transforma a paixão
Amar-te
Amar-me
Perder-me
E esvaziar-me
No términus de um caminho
Que está ainda por percorrer

Será sempre um reino
Que há-de vir
Serei eu sempre a mulher
Com um destino a cumprir

Nas minhas mãos
Traço os contornos dos dias
Afundar-me
Justificar-me
E encontrar-te
Na procura de mim
E nas incertezas
Desenterrar todas as raízes adormecidas
E cobrir-me de terra fresca
De um único chão

Será na alçada da noite
Que colherei o perfume das rosas
Procura-me em todas elas
Um canto, um poema ou a última prosa

sábado, 11 de julho de 2009

Sinto

sinto-me assim
um misto de loucura impaciente
a transbordar
como onda no meio do oceano

mas gosto de saber
que sinto tudo o que sou,
e sou tudo o que sinto


sexta-feira, 10 de julho de 2009

Sou...


Sou um vento que passa breve
E pinto esta tela tosca
Onde as palavras gastas
Ganham força
*
Sou refúgio
Sou um fardo belicoso
Sou maré, sou enchente
Sou estridente
Sou gente que sente
*
Em esperas ansiosas
Dispo-me de olhares e de mendigos
Que se estendem
Num mar inerente aos perigos
*
Sou potente, sou betão
Sou um sim, sou um não
Sou negrume, sou o chão
Sou a dor presente
Sou gente que sente
*
Há nesta pintura abstracta
Mais do que arte e "décort”
São desfiles multicolores
Mas à vista…
São só rumores
*
(Escrito Maio de 2008)