sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Viajantes





Andei por muitas ruas mas não vi
Todas as sombras, nem os grafitis
Nas paredes, nem os homens 
Que engoliam a sua própria sombra

Só me lembro que caminhava
A contar as pedras da calçada
Como se fossem contas de somar
Até ao fim de todas as somas

Fiquei sem saber como respirar
E a cada passo meu, surgia
Uma ideia, um pensamento
A sossegar os meus passos

Afinal, para que servem os olhos
Se não para seguirem direções
Diferentes em todos os lugares
Onde há ventos e chuvas e brisas

Encontrei as flores esquecidas
Nos canteiros e senti-lhes 
O aroma ainda fresco da manhã 
A perfumar todas as ruas

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

E tu....


sorri para ti
mas não me viste
cantei para ti
mas não ouviste

sonhei por nós
e vi-nos na corrente
translúcida

e tu tao sossegado
não sabias que os rios
são partes de nós

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Fome






Alimentam-se do meu corpo
Os senhores da morte
Trazem com ela
Todos os escombros
Duma só noite

Mas há noites lendárias
Para os filhos da miséria
Têm ruínas na alma
De tanto ajoelhar no chão
Em busca de pão

Seriamente vos digo
Que gosto de pão de mistura
Cozido num forno a lenha
Mas quem disse 
Que a lenha arde sem fogo?

Tenho um forte apego
À terra, ao rio, ao mar e ao céu
Mas dizem que a fome é negra
A mais ousada criatura
A criar filhos na noite

Destituídos dos seus modos
Excomungam os meus sonhos
E que voltarão sempre
Que houver miséria humana
A desonrar a sua castidade