quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Movimentos


Afundava-se num abismo tão profundo que se desorientava cada vez mais. Orientava os seus passos, no sentido da
maquiavélica desorientação. Esta sim, a trai-lo a cada pensamento que ele julgava equilibrado. 
Essa necessidade urgente de galgar degraus, levou-o tão alto, que se permitiu ser outro e não aquele para o que veio. Foi um ponto quase final no caminho da sua evolução. O mediático afloramento de um momento de vitória, a desejar glorificar-se, provocou-lhe uma força incapaz de se mover, de sair de onde estava. Uma luta inglória. A força que dela provém, é somente um movimento indiferenciado, capaz de lhe transmitir informações duvidosas. 
Depois, não sobrou nada desse estado inerte. Só um momento que cega qualquer um que se julga seguidor da sua própria alma. Mas, só ela sabe onde e quando ele irá cair, para, cá em baixo lhe amortecer a queda.

Dolores Marques : Dakini 2013

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Buracos negros

dos seus olhos escapam-se remendos toscos
sem brio estão as ruas descalças
orientando-o na sua última sagração

os farrapos tapam-lhe as feridas ainda abertas
por conta dos seus passos em falso
diretos ao cadafalso
decepados estão agora os caminhos longos

a floresta veste-se ainda dos últimos
pensamentos da noite
ornamenta-se a exaltação da fé

a escuridão dos dias aconteceu breve
no altar-mor da catedral de todos os corpos
nos becos crescem gemidos quentes
a quererem matar a fome de todas as ruas

na terra, repousam ainda da última boda
os caminhantes que chegaram
dos devotos lugares
nunca mais se viram a pisar o pó do caminho
onde nasceram as urtigas
amaldiçoados vermes que concebem a ilusão
e se alimentam da humildade dos pobres

a ânsia em se intitularem
exímios predadores na passagem das horas
deixaram-nos de boca aberta
até engolirem o último sermão

alimentaram-se do pó da estrada
e as suas almas choram pela incúria
dos seus movimentos em dó

nada como se cruzarem
com os passos de quem chega tarde
para cedo se alimentaram na malga que dança
nas mãos dos mendigos

caminham agora todos juntos:
os mendigos, os indigentes, os fiéis, os infiéis
e todos os santos que baixaram do céu
os novos sacramentos

caíram de fome num buraco sem estio
em becos frios sujos e sombrios…


Dolores Marques - 2013

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Confusão



Um dia 
Quando eu
Deixar de ser 
A tua razão
Já tu te sentes
Com outra motivação
Para me dares razão

Vê bem
Como se compõem rimas
Com esta confusão

Baralhação
Essa falta
De razão
Que tens 
Quando te falta
A interligação
Entre a razão
 E a emoção
Talvez por falta
De meditação!

domingo, 1 de setembro de 2013

À descoberta

Fiquei por aqui a pensar, mas sem pensar em coisa nenhuma. Nada!

E eis que surge dali, a tal promessa de raridade tal, que me fez ficar. Só ficar, para ver como seria brincar com o novo tempo e descobri-lo num só verso.

Foi só um momento, porque chegou de novo este peso morto - o pensar que definiu este estado ausente, esta forma única, que me faz ser nada mais que um verso no reverso do tempo.

DM (Dakini)