sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

À conversa com

- Parece que nos diluímos no espaço, que tudo é ilusão criada por nós, e que nos materializamos aqui por uma única razão - Infernizar a vida uns dos outros. 

- Concordo contigo. Às vezes parece-me ter caído num abismo de incertezas, que tanto faz saber-me aqui, como em qualquer lugar de um mundo, que parece nem existir. Já todos os sorrisos se condensaram. 

- Então, porque teimam em sorrir, quando o molde de que é feito, nem estátua chegou a ser? Sorrir com gosto é ter nos olhos o mundo, na boca um sopro abençoado e no corpo a dança dos tempos áureos. 

- Agora tudo tem fome de tudo, porque a fome já é uma nova marca, no mercado. A fome dos sorrisos forçados com lágrimas embalsamadas já cresceu por toda a parte. 

- É preciso sentir que a cada palavra se solta um novo perfume entre sorrisos e que esses mesmos sorrisos, sejam o mote para um dia, irradiando felicidade. 

- Isso. Sorrir - o acto de conquistar a amabilidade escondida em cada rosto.

DM (epifania & Ainafipe)

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Correntes

Correntes forjadas nas catedrais. O lugar apoiado por duas colunas da sociedade capitalista. O lugar implementado pelo Deve e o Haver…
Simplesmente se deve, por se haver por tempo indeterminado, um arauto de inverdades a nascer em cada templo, ainda por explorar pelos justos valores de uma nova sociedade, prestes a romper todas as correntes já enferrujadas. É preciso chegar lá, e dizer-lhes que estão a cair em desuso, tal um parafuso esquecido nas tábuas onde arrastam as vestes já furadas pelas traças.

DM, (Dakini 2014)

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Epifanias



Finalmente o advento
Uma nova Era acontecia
No corpo agora flácido
O oposto do seu princípio

Almas em debandada
Quebraram a corrente
Há Epifanias em movimento

Consumiam-se estrelas no seu leito
Enchiam-se colos fechados

Há um ciclo aberto num novo espaço
Cabem nele as primeiras horas do dia
Ainda flutua, mas lentamente se esvai
Eis que perto da alvorada 
Se perpetua, ao acordar num olhar baço

Chegou a ter visões do futuro
Nas erratas imaginárias
Caiu num buraco sem fundo
No tempo, criou um novo espaço

Escancarou a dor
Espraiou-se em ondulações frenéticas
Já se ouviam nas ruas, lamentos chorados
Corriam rios. Secavam as nascentes
Era a nova era sem lei

Finalmente o inverso
Quando no corpo se ouviam gemidos
Do quebranto continuado
Enguiço enjeitado pela nova ordem do mundo
A cruz maior dos moribundos

Calaram-se todas as vozes
Em todos os sensos vivos
Há uma janela fechada

Chovia lá fora. Era uma chuva miudinha
Os ruídos de fundo colaram-se 
Ao trinar duma guitarra
Que chora, ainda pela noite fora


Dolores Marques (ÔNIX)