sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Fluidos Doces


Adormeces no meu peito
Evades-te…doce paixão
E meu sonhos são um palco
Em tábuas rasas sem figuração

Brisa suave…fluidos doces
Cai o pano no meu peito
Firme e hirto…sofre
Enceno um rosto perfeito

Esbarro-me com o vento
Que me consome o peito
Num sopro ligeiro…respira
Revela-se o meu corpo feito
*
(poema escrito em 2008)

Roupagens

Infame luta que dói
Entre muros empedernidos
Um olhar que se trai
Perante a vida que cai

Investidas rentes aos magotes
Em riste, traem o luto vestido
Despem-se da fome dos corpos
E balizam-se em bandos amorfos

E nas ruas vasculham à socapa
Roupagens de mulata
Rasgam cios nos abrigos
Fogem os mendigos

Chusmas, escondem-se espavoridos
Embrulham-se nas cores traídas
Que habitam o alçapão
Em noites onde não há verão
*
(poema escrito em 2007)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Sobre "Ilusão Demente" de Giraldof

(EU)
*
Como comentar os teus poemas?
Como te dizer que também eu sou a ilusão no espaço,
e a erosão no tempo.

Como assimilar as tuas verdades
e as tuas inverdades
quando no meu pensamento me suponho ser uma
e no meu corpo, há caminhos gastos,
manufacturas do acaso?

Como te dirigir gestos que invento
se me disponho a ver-te
Num fim do caminho?

Inspiras-me sempre em palavras tuas/minhas /nossas
nestes caminhos que escolhemos

Ilusão Demente (de Giraldof)

(imgem Google)
*
O tempo é translúcido,
A ilusão opaca, demente.
Nas linhas de teu corpo,
Meu desejo, transparente.

Percorri teus trilhos, letras tuas,
Persegui teus murmúrios, tua voz,
Atravessei mundos de dois sóis.

Vesti tua seda, bebi sedes nuas,
Claustro é meu corpo em vela acesa,
Chama de brancos lençóis.

(Minhas feridas são imperfeitas costuras,
Suturadas em inesquecida dor.
Meu corpo é remendo puro,
Rendilhado na sombra do amor).

Translúcido é o tempo,
Opaca a existência, ausente.
Nas linhas de meu corpo,
Teu desejo, transparente.

Utopias são segredos de alma,
Versos sussurros do Ser.

Filipe Campos Melo (Giraldof)

- Natural(mente) e sem utopias, mas com todas as que quisermos conhecer em nós no encontro com o nosso eu mais real na interacção com todos os outros. Um livro que me esta a dar imenso prazer ler e que aconselho vivamente. Agradeço ao Filipe Campos Melo pela partilha

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Gaia a Terra Viva (P/Conchinha)

(Foto de minha autoria)
*
Gaia, a terra viva
Que me vê nascer e morrer
E talvez ascender…
Acolhe-me
No seu ventre materno
Por maternal ser...

Sublime e bela
Intensa nos momentos
Em que viver
É crer e poder


Suave adorno
Que me faz querer
Ser brisa amena
Eterno acontecer

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

1 de Setembro de 2009 (De Carlos Conchinha)

(Fotos de minha autoria - minha filha futura mãe)

Mãe
Não te tenho escrito,
Bem sei.
Justifico a ausência
Não estou bem
Lê nesta carta uma urgência
Mãe.

Definitivamente
Não sou da cidade
Passo uma tarde entre o Chiado e o Rossio
E tenho tudo o que quero
A natureza entra morta pelas portas dos fundos
Dos talhos
E em pacotes de leite UHT
Aqui não há mar
Não há amar

Quero gritar, mãe
Ah, como quero gritar
Que o meu sonho morreu
Assim que cheguei à cidade
(Até as estrelas morrem se a avistam)

Os homens mijam à sua volta
Como feras
E vão nos carros a tomar comprimidos
(Dizem que é para não sofrer)

A cidade não abriga o poeta
Não me sacio na cidade

Mãe, dá-me colo
Mãe, dá-me um abraço, dos teus
E devolve-me

A brisa
O sal
O sol
O sul
O brilho
As silhuetas
As serras
As planícies
Os golfinhos
As flores
As mulheres
Os homens
As crianças
As aves
O beijo
O eu,

Este filho que te adora.

Carlos Conchinha
http://www.worldartfriends.com/modules/publisher/article.php?storyid=10861&com_id=31041&com_rootid=31041&#comment31041

- Conchinha, meu querido, dou-te os parabéns por este poema e obrigada por estares aí

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Reflexão

Uma reflexão...
Um ponto de partida
Para mais um salto no muro escuro
De onde se podem tirar algumas sombras do caminho
E embelezá-las com a doçura da alma

Uma alucinação...
Um forte empurrão no vazio
Outras dores, outras lembranças
Onde os corpos se submetem
E os olhos rompem a escuridão da noite

Uma sucessão...
Um ensaio acrobático das cores que desfilam
Sem a leveza da alma
Degustação que se consome na dor
E nos ritmos apressados dos corpos

Uma vacilação...
Um imenso turbilhão que se desprende nas horas
Em que fui um grito e vacilei no escuro
Segredo volátil guardado na alma
Renasci quando te vislumbrei

Uma desilusão...
Rasguei o horizonte com as cores de um olhar
Singelo e triste
Vi-te a loucura com que vestes as cores das lágrimas
Nascentes em labirintos...escondidas

Uma germinação...
Trago-te sementes de um abraço esfomeado
E trazes-me um beijo ritmado
Com as cores do desejo
Um choro perdido lava-me as feridas tardias

Deixas no ar um perpétuo adeus
Lume queimando os mais altos cumes
E por fim...
Em meus braços adormeceu...
*
(Poema escrito em 2008)