quinta-feira, 28 de abril de 2016

Universo dos sentidos


Muita gente, nunca por morte será gente desconhecida. 
Poderá certamente ser a vida, por conta de alguém que sente quando se funde em outra gente. Ainda assim, há quem viva, como se gente fosse. Sentem, mas não têm o conhecimento devido do seu Ser Único....tripartido.
Enquanto isso, nu na penumbra, o Ser nunca é ausente ou indiferente ao movimento que o circunda, quando por sorte alcança a linha do horizonte, onde ainda se anunciam as estrelas.

No núcleo abafado por todos os isentos sentidos, estão os que interiorizam esse ponto esquecido, e, reduzido simplesmente ao sentido horizontal de uma linha esticada entre os dedos. Verticalizam-se os sentidos, mas nunca o sentir é um fundo, antes uma figura geométrica virada ao contrário.

Na unicidade, conjugam-se os modos e as formas da improvável comunicação dos elementos, ali expostos no lugar onde se acomodam todos os que, vestidos, são no acto, travestidos, mas não destemidos. 

Estamos então, perante um monólogo introvertido no universo ali expandido.
Os olhares distantes do lugar onde os olhos deviam descansar, seguem perante a indiferença dos sentidos, os quais comunicam entre si, quer nos inversos das palavras, quer na devassidão do mundo que criaram.
Estão assim sem rédea curta, enquanto a linguagem elementar é evidente na singularidade dos opostos, criados à margem de si mesmos.

Enquanto se é gente, nem sempre se sente, porém o sentir não se confunde nos corpos doentes, quando por ali rompe a dor. As mãos dispostas no sentido verdadeiro do movimento intercalado, sustentam verdades que os olhos não sabem, tão pouco se encontram no centro onde se encolhem todos no universo dos sentidos.


ÔNIX "O Todo"

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Celeste Almeida falou da autora de "Simbioses Montemuranas"

Aconteceu na Avenida da Liberdade em Lisboa , no  dia 16 de abril  o
Lançamento de mais uma Obra  de Dolores  Marques, a escritora de Moção
“Simbioses Montemuranas” – o livro



 (…) Dolores Marques,  Mulher, mãe, avó, filha…amiga.  Uma amiga de todos os dias, pois apesar de separadas por centenas de quilómetros, une-nos uma cumplicidade que se funde numa comunhão de muitos sentires.  Quis o destino que ela viesse até mim, através de um postigo  que em pouco tempo se tornou numa janela aberta à vida. Às nossas vidas! 
Dolores Marques fez  a sua caminhada no sentido inverso da terra  que a viu  nascer: A aldeia de  Moção!  Outrora, esta  localidade   viveu tempos áureos. Hoje, distante da história, tranca-se em pedras de xisto onde habitam memórias e segredos coroados de reis e rainhas. Uma aldeia que no início  da nacionalidade,  foi vila e sede de concelho, afundou-se nos sonhos enterrados em  ruínas ancestrais. 
Tantas memórias rezam aquelas pedras onde tempestades se refugiam algures no meio de nada.  Mas, Dolores Marques possui uma força interior que  a empurra ao subir montanhas e atravessar vales. É verdade que a vida não é um mar de rosas, mas enquanto peregrinamos neste mundo, devemos fazer o possível para cultivar essas  rosas.  E… Dolores  tem o condão de cultivar rosas nos espinhos que sangram no  calvário da vida. 
 Nenhuma barreira é intransponível , se estivermos dispostos a lutar contra ela.   Dolores Marques lutou.   Lutou   com fé na sua caminhada.  Refugiou-se,   talvez, nos montes sozinha, para se esconder dela própria. Bebeu,   de certo, os soluços que a libertavam dos  molhos que a perturbavam.  Nas colinas varridas pelo vento, viu o sol tornar-se neblina nas cinzas das horas…Mas, também viu os dias com o brilho das esmeraldas nas nascentes das fontes.    Agarrada a esse brilho, Dolores ganhou raízes na sua cidade,  relembrando  a serra, pensando na casa onde cresceu, nas árvores que trepava, nas poeiras que na mente escrevia, nas águas do Paiva onde se banhava…

A saudade leva-a de volta àquele chão, várias vezes por ano.  Precisa relembrar os seus  tempos de infância. Precisa comer fruta arrancada das árvores, ouvir o uivo dos ventos, esconder-se nos milheirais,  olhar o doirado das espigas, deixar-se embalar com o cântico dos melros, amar os animais do campo e as aves do céu, segredar pensamentos a heróis e heroínas esculpidos nos altares de pedra onde o invisível fala…

Dolores é uma  vencedora.   Depressa sepultou o  inconformismo que trazia na bagagem feita de cartão   na correnteza do Tejo. Arregaçou as mangas e lutando com as armas do seu trono  singrou  na vida com determinação e mérito!  
Mulher coragem. Mulher determinada. Sensível, afável, justa, amiga…  Mulher que continua a acordar na sua cidade com o uivo dos ventos que ao longo da vida a irá acompanhar sempre, esteja ele onde estiver: quer seja,  abraçando a  sua  serra e o seu rio Paiva,  quer seja,  perdendo-se  nas águas do rio Tejo…
Dolores sabe que há uma razão que nos chama à vida, que para além do visível é preciso acreditar…E ela acredita nas madrugadas pintadas  de musgo  e na magia das canadas estreitas que ela tem que trilhar.  Acredita  num Ser Invisível   que  a ouve em silêncio…num lugar qualquer… em qualquer ponto…que brilha no Infinito… 
Amanhã será outro dia  e mesmo que as folhas ameacem cair dos montes, Dolores irá  prosseguir , escrevendo numa folha de papel  a continuação da história da sua vida. Ela   a personagem principal,  que sabe,    que o futuro pertence a todos aqueles que crêem na força dos seus sonhos…
Obrigada, Dolores! Obrigada,  pela Mulher, Mãe, Avó , Amiga que és! Que o elástico que te suporta te mantenha sempre em equilíbrio.  É  o meu ardente desejo. 

Por Celeste Almeida

domingo, 17 de abril de 2016

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Simbioses Montemuranas o próximo livro de Dolores Marques


Simbioses Montemuranas” o próximo livro de Dolores Marques. Lançamento dia 16 de Abril às 16 horas no Club Literário e Bar, Chiado Editora. Forum Tivoli, Av.Liberdade

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Simbioses Montemuranas de Dolores Marques é uma viagem através do tempo e do espaço, aos lugares da nascente, do berço, numa cadência milenar de estações que se alternam e transformam ao ritmo de sois e de luas, as vidas da gente, sediadas num templo rude e agreste, banhadas por rio que as transforma em rituais de aculturação e religiosidade.

Será através das experiencias de vida, das vivencias marcadamente vincadas no quotidiano da narradora - Dolores Marques- e do personagem principal, João Fernandes, que a vida, os usos e os costumes, as migrações, e a adaptação aos ritmos de um outro espaço, vivido pela aculturação provocada pela mudança de lugar, que todo o livro se vai desenvolver. Num discurso, por vezes descritivo, por vezes intimista, numa linguagem que se mistura ente a prosa e o lirismo, com analepses e prolepses, a ruralidade e a vida citadina são aqui narrados, em imagens e símbolos descritivos que nos aproximam das gentes e do seu saber ancestral.

São as vivencias do personagem principal, João Fernandes, figura presente nas historias do povo de Montemuro, não se sabe bem o quanto destas histórias são verídicas, ou se já se metamorfosearam em mito, em lenda, de tanto serem repetidas, mas que na realidade acabam por ser um legado das vivências duras e agrestes das gentes da serra. A serra, com os seus condicionantes físicos e geográficos, a mostrar as dificuldades da ruralidade e do distanciamento de um povo.
São também as vivencias da narradora, Dolores Marques, a vida na serra e na cidade, a força da natureza, o legado familiar, a organização das histórias contadas à lareira, a força da oralidade a vingar na passagem do tempo e na força das palavras, Dolores Marques, a usar a linguagem escrita, ferramenta indispensável na continuidade da memória de um povo e no seu legado cultural.
Este é um livro, que para alem de contar histórias de pessoas reais, que habitaram num determinado espaço geográfico, e num tempo definido, é também um livro de forte caracter sociológico.
Nele, podemos encontrar a profunda dicotomia entre a serra e a cidade, as alterações quer a nível cultural, quer a nível arquitetónico de uma cidade que se esgotou no tempo e nas alterações movidas pelo crescimento populacional e económico. Podemos também interiorizar, essa ligação profunda às raízes, entre o passado, o presente e o futuro, são as gentes, as suas ações, as suas palavras, escritas ou faladas, que marcam um povo e a sua diversidade.

São Gonçalves
Luxemburgo, 30 de Novembro 2015