quinta-feira, 30 de março de 2017

Correntes


correntes novas
resgatadas pela suave candura
de um sorriso...

uma boca quente
apaixonante
em completo desvario
suga todas as pétalas
que sobrevoam
um olhar atento

Há um pensar alheio 
Ao curso dos rios 



quarta-feira, 22 de março de 2017

O Amor Primeiro





Leve na sua liberdade como se não houvesse nunca um amanhã para vestir um corpo.
Simples na sua, até, melancolia...
É o Amor a brotar em cada flor, ainda que seja nos espinhos de todas as rosas dos jardins.

Sublevação na incessante ondulação dos mares, é o Amor.
Imaginado no sublime e inexpressivo cair da noite...
É o Amor num sono abençoado por amor a um Sonho.
Livre na sua sensibilidade, como se não houvesse tempo para contar, nem para escrever, ou para se vender pelo seu primeiro Amor;
- ao fogo que arde,
- à agua que limpa e purifica,
- à terra que se abre em partos de dor,
- ao ar que inspira seja cedo ou tarde, na ínfima loucura de um amor simples, num simples e secreto desejo de um  Amor.

Liberto do fardo dos elementos, segue para aclamar o tempo, nunca para nele se resguardar.

O Amor primeiro a nascer nas flores silvestres.
O amor primeiro a cantar no dourado do trigo.
O amor primeiro a dançar nas eiras.
O Amor primeiro a criar laços. Gigante na fruição de um abraço.
O Amor primeiro a gritar loucuras nos olhos dos amantes.
O Amor primeiro a crescer nos corpos tenros das árvores.
O Amor primeiro a saborear os primeiros frutos.
O Amor primeiro a subir os pinheiros mais altos.
O Amor primeiro a espreitar os ninhos.
O Amor primeiro a escrever as mais belas cartas de um certo amor.
O Amor primeiro nas folias entre os lençóis.

…e de sempre o Amor primeiro na lúcida embriaguez de um Rio,  sem saber dos astros que o seguem rumo ao indefinido posto.

O Amor de sempre a cair do céu, com a chuva, e a neve, os raios e os trovões, as desenfreadas ventanias, o Sol e as estrelas, as fases da lua que são como um beijo da cor do mel, a quebrar o gelo esquecido nos corpos.

….e as primeiras águas agora aos nossos pés, um amor dócil de todas as marés cheias.

E de sempre, tal como as estações, um Amor livre, como se o amanhã fosse sempre um novo Amor, o primeiro na loucura de um relógio, que gira a par dos ponteiros, sem parar para pensar no seu primeiro Amor.

ONIX/DM

sexta-feira, 17 de março de 2017

À Procura


À procura da clara luz
Que me leve ao centro
Do teu olhar

Um olhar cativo
Dos olhos meus
Um olhar mirando
Os feitos teus

À procura de um sonho
Que me siga
Nus encontros 
Contingentes nus
Criando imagens
No cais

À procura de uma miragem
Onde estás
Nu embaraço
Onde o partir
É só o chegar
A ti....Nus...
Os reflexos terminais


DM

quinta-feira, 16 de março de 2017

Salpicos

Gosto de saber que estás 
no mais alto dos sonhos
que te afundas por aí abaixo 
chegas até mim...
devagar…

(Que o teu sonho me cubra 
por inteiro)

Preenche com a cor violeta 
o negro dos meus olhos
que me sejas em todos 
os tons primaveris
um pedaço de terra
ainda por lavrar

Não esqueças um abraço
ainda suspenso no tempo
do verde das heras
que na Era do fogo
tu és chama acutilante
nos meus olhos

Agora, que tenho 
o nunca antes pensado
por ter na ordem dos dias
um pensamento desabrigado
simples espelho na noite

Agora que sou um pouco
de rio esquecido nas margens 
já o mar se achega
e me toma do seu jeito

(Trôpego é esse mar 
agora em salpicos leves
no meu peito)

Agora que te imagino
no alto do meu pensamento
Tu …chega-te a mim, manso 
e leve como um fio de linho
ainda em flor, a saltitar 
no corpo do vento

ONIX