quinta-feira, 27 de julho de 2023

Momentos de calma


 Porque não estou disponível no momento de calma, quando ela chega mansa e leve e me sussurra ao ouvido coisas de um mundo que mesmo perto está tão distante, como o céu o está, ali tão alto, ali tão fundo apesar da dimensão para cima, quando me estico toda a querer tocá-lo com as pontas dos dedos.

 Porque me apego demais a este chão, porque sou pesada demais, densidade obesa, e presa fácil do destino.

Porque só o sono é um bom companheiro, quando deitado comigo me afaga o ventre, agora mais alongado, agora sem rumo, não sei se chegou a ser um potencial vencedor, já que eu não me dou por vencedora nem por vencida.

Ele não. Ele é o meu Eu mais profundo, o ventre agora mais alongado, e que não seja o  Amor, tarde na hora do adeus que dali nasceu e cresceu...


Onix

Silêncio absoluto


 Já nada se move nas ruas...

Silêncio absoluto 

a reclamar um sonho 

que sabe ocupar 

o seu devido lugar.                                    


Este zumbido noturno

a querer entrar, 

a querer entrar, 

sem mesmo saber 

se neste lugar

habita um outro silêncio 

capaz de o enfrentar


DM

Sigo-te


 

Um ritual que apetece seguir

este teu caminhar sobre as águas

incentivando a volta das marés claras


Há na força dos ventos

uma brisa que te acalma 

nas manhãs submersas

e eu sou tudo o que disseres

quando já nada quiseres 

ser em mim


Dolores Marques 

Simbioses Montemuranas um livro de Dolores Marques


 

segunda-feira, 24 de julho de 2023

E só o amor nos seja liberdade


 Vamos para algum lugar

onde o tempo não nos encontre

e só o amor nos seja liberdade

a ver pelas últimas chuvas caídas

que sempre foram eternidade


Entregam-se ao tempo sem idade

a desejar amar só porque  

o  amor é saudade 

mas a noite é pesada demais 

para um amor antigo

que faz da imensa solidão 

grades de uma prisão


Vamos ser amor às janelas

e fechar as portas ao vento

que traz consigo as correntes

da idade do amor dorido

castigado pela não idade


Sinto a fragilidade das horas

a passarem junto dos meus cabelos

e os olhos entregues às lágrimas

que se perdem no caminho da boca 

e se afundam como se fossem 

gotas de orvalhos 

esquecidas nos prantos


E eu amo assim de um jeito 

meio arcaico, às vezes laico

frágil neste espaço fechado

da noite, onde nem sempre 

a Alma dita  a palavra certa


Mas como se ama então 

o Amor sem ter que pedir perdão?


Estará o Amor escrito 

nos manuais antigos do tempo ?


ONIX. DM

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Apocalipse


 Limitei-me a contradizer os meus pensamentos e quando dei por isso, já se tinham reduzido a pó. 

Sucumbiram perante o Apocalipse 

(DM)

Fragrâncias nocturnas



Será na penumbra da noite 

Que os sons se perderão 

Será no silêncio de mim 

Que os tambores soarão 


Serei eu 

Sempre a Mulher 

Com um destino a cumprir 


Colherei as fragrâncias 

Nocturnas 

No colo das rosas 


Procura-me em todas elas 

Um canto, um poema 

Ou a última prosa 


DM

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Cativeiros



Há olhares amofinados

Arredados do único ponto

Onde se abre a Luz


Efémeros os gestos

E os olhares que se tocam

Sem a nudez da alma


São de muito longe

Estes cativeiros

Lembrados ainda hoje

Sempre que se abrem

E fecham cegamente

Ao encontro

De um qualquer ponto

De passagem


DM

quinta-feira, 13 de julho de 2023

Almas


 Folhas soltas por escrever, e o rio em puro manifesto...

Levantam voo no momento do beijo, quando o dia se anuncia com uma mão cheia de rosas....quem sabe. Comecem pelas brancas, para abrir caminho à paixão, e depois, claro, está o Amor. Não se atrasem na semana como se tudo fosse um jardim, incluindo a mulher. 

Depois, o mar, o melhor dos dois mundos, o dele e o dela sobrepostos em ondas multicolores de paixão.

Às vezes, encontrar a alma gêmea, é um ajuste de contas para o bom, ou o menos bom.

Dm


Maria


 Saibam que a minha melancolia, é fruto de um passatempo nostálgico, duvidoso até, mediante certas verdades noturnas. A noite é a protagonista de um poema antigo, ecos a difamaram os dias, que de algum modo esqueceram a inspiração, só porque nasceram dias.

Às claras, todos os vultos sao passageiros incógnitos. 

E eu...não sei bem. 

O homem é nome próprio, representativo da humanidade. 

Eu sou Maria

 Se quem me representa, é mulher virgem e imaculada....

E eu....não sei bem...

Já pequei, porque o homem adormeceu no meu colo?


Dakini

Vaguear no tempo


 Penso que ando a vaguear no tempo....(sei lá). 

Um dia sou eu, outro nem sei se sou tu, e outro ainda, talvez seja mesmo um espaço vazio no tempo, quando com ele falo, como se comigo falasse. 

Nem sempre há tempo para tudo, como se nos volvessemos à terra tais sementes perdidas nos sulcos ainda secos.

DM

terça-feira, 11 de julho de 2023

Espaço vazio


 A subtil 

mutação dos corpos

inscritos na quietude 

dos olhos

sonega a respiração

acabrunhada

à semelhança

de um momento tripartido

da alma 

que se achega 

sem conhecer o espaço vazio

do tempo


Regressam as sombras

nascidas do ventre 

onde o silêncio geme

por achaque 

de um prenúncio


Dm

domingo, 9 de julho de 2023

Incomum


 Incomum


Quando à Vida ficares a dever

o sentido orientador de uma vida

não saberás se quaisquer mudanças

ocorrerão enquanto respiras 

ou se o império da morte será 

o vislumbre secreto do eterno abismo, 

onde jazem  os teus pecados mortais


Quando a Alma se ancorar

às correntes mais densas do corpo

escrever-te-á um pequeno trecho

do que ficou da tua história, ainda viva


O princípio dos actos

primeiro e último, marcados 

no contraponto de uma escala infinita,


esses sons indubitavelmente melodiosos 

a ocorrerem nos anais da tua inspiração devida


Um sopro resgatar-te-á ao tempo

e a ele volverás inteiro…


Incomum


Onix

Abstinência


 A abstinência chega sempre tarde, 

quando sem se saber direccionar os castigos, 

se sobem todos os degraus de uma só  vez, 

para se chegar mais depressa ao céu.., 

Onix.dm

Viva-se um dia de cada vez


 Viva-se um dia de cada vez 

e tome-se-lhe o gosto, 

esse sabor de puro mel 

a escorrer-se ainda

na face de todos os dias

DM

sábado, 8 de julho de 2023

Um fundo



Quero a morte, mas nem por sorte 

Se apresenta como pano de fundo

Não é minha, e nem é tua, a morte

Apenas e só, um ser moribundo


Vejo agora um fundo, que ao fundo 

Já nem sei se é luz ou se reluz 

Mas por sorte, será a morte um mundo

À parte, que me quer só, na sua luz


Já disse!Quero a morte que nem por sorte

Já não é minha, e nem é a cruz

Neste fundo, já nem s’afunda a morte

Ou se lamenta, ou sequer, se traduz


Dolores Marques - Eventos 2013

Um sol a encher-me a boca


 Um sol a encher-me a boca quando te digo que o desejo mora em todos os meus sorrisos.

dm

sexta-feira, 7 de julho de 2023

Luz


 A luz que emanam pode ser arquivo de memória

Os equívocos são muitas vezes derivados de uma luz fictícia

A luz da qual se fala nem sempre é luz

As vezes é um reflexo, uma miragem, um engodo de um mundo à parte...e em partes

A luz agora é a protagonista de um destino, como se tivéssemos saído de um abismo profundo

Nós somos o maior abismo onde nos afundamos tantas vezes com a luz que julgamos ser

....

Onix

Que é de todos?


 Onde estão os olhos que desnudam as formas?

Por onde anda o olhar circunscrito no centro, no maior centro onde o tempo é rei?

Que é do corpo, quando os olhos se entregam à maior lua nunca antes vista no céu?

E nas mãos abertas, os traços do destino ainda em aberto? Onde estão?

Que é de Ti, quando sobes ao cume mais alto da montanha e gritas por mais céu?

Onde estamos nós na abundância dos abraços semi-abertos na escuridão?

Que é de todos à entrada do Portal aberto à luz?

Onde estão todos, os que na noite não se sentem porque as portas e as janelas trancadas, fazem do espaço onde guardam os sonhos, a sua maior prisão?

Que é das mãos, quando dadas e não aconchegadas no peito, o lugar eleito ?

Que é da consciência límpida na arquitectura de um pensamento livre?

Que é do mundo?

Como será o nosso pequeno mundo, quando aberto num caminho deserto?

Como será a esperança ainda entrelaçada à espera das maiores conquistas do nosso pequeno mundo?


Dolores Marques(ONIX)

quinta-feira, 6 de julho de 2023

A noite caiu sobre os meus olhos




A noite caiu 

Sobre os meus olhos

Nascente afrodisíaca

Das muitas estrelas

Diz-me que há vida

A brilhar no escuro

E de muito a descobrir 

Para lá do rio

Quando chegar a manhã

Reafirmando a cor

Do movimento das águas


DM

quarta-feira, 5 de julho de 2023

É quase Setembro


 Quando não souberes de mim, estou por aqui no enredo de um poema serrano.

Quando não me ouvires chamar por ti, procura pelos ecos que são ainda poesia serra acima

Em baixo, o rio é meu companheiro, talvez me ame como eu mereço, quando a lua baixa ao nível dos meus sonhos

Queres vir comigo dourar o tempo das searas?

É quase setembro!


ÔNIX

As vezes invento o Amor




 As vezes, invento histórias

Para poder sonhar

E trazer-te para dentro delas


Outras vezes, os sonhos

Ficam presos nas vielas


Às vezes, invento o Amor

Outras, és tu

E algumas elas


Dolores Marques 

Amor


Às vezes penso que te amo. Outras, não sei se é uma ideia, cujo sentido está em concordância com o Verbo. 

Mas, que penso em ti, sempre, como se fosses o amor, é verdade.

Dolores Marques 

segunda-feira, 3 de julho de 2023

Queres?


 Sinto algo... aflora 

estranho dentro e fora

num círculo inacabado


Não é fogo

Não é tesão

Não é fluxo de paixão ardente

o teu ser inteiro granjeado em mim 


Vem comigo

até aos confins do meu corpo 

ainda virgem

desbravar o que é teu

amor meu


Sinto-te eu mais eu

em nós e sem nós

Somente um curso de água corrente

nos poços fundos de um rio


Nao sei como é nao saber de ti

tudo me passa através desse olhar

irrequieto

estrangulador do que nos afasta


Tudo é aniquilado... 

o tempo

o espaço

os medos dos não-eus

os sonhos a preto e branco

abandonados nos lençóis


Tudo és

inteiro e somente tu e eu

chama intacta no meu ventre


Nasces do tempo incerto das águas

 roubadas à fonte primordial do desejo


Escrevo agora para ti

Amor roubado aos quarto elementos

um poema do tamanho do teu sexo...

inspirado em outra dimensão


Agora inspiram-me erotismos 

da paixão

poemas ou não, impressão minha 

assinada por um grito que nasce agora

da garganta


Firme esse corpo todo suado

ainda embaixo...encimado 

e na boca expirado 


Sim ou não?

Queres?


Eu não tenho mais nenhum pudor

sobre este quinto elemento

Ritual ....porque o são

todos eles  


Dakini

domingo, 2 de julho de 2023

Luz


 Alguma coisa neste espaço 

Me seduz

Não sei se é a noite

Ou se tu, apenas

O que resta de um dia

Que ainda é luz que reluz


Tudo pesa ao fechar os olhos 

E sendo a noite

Toda ela um pouco de ti

Fica sempre aquele doce encanto

Tu, a noite, eu e a madrugada


Tudo me é permitido

Na nudez clara 

Desse manto sombrio

Sendo nostálgico um beijo 

És tu a boca, eu a língua

Mel nos lábios obcecados

Por mais de tudo o que És


Luz 

Dolores Marques 

Débil morte do homem


 Não sei quantas gotas de orvalho  

serão as perfeitas lágrimas caídas 

ainda que sob o disfarce da lua

evidência da sua face negra

com previsão de chuva dentro 

e não fora de mim 


Não sinto a causa disso tudo

nos beirais, nem o nostálgico choro 

se abeira das vidraças ainda fechadas


Sou eu, o silêncio, e uma lágrima antiga

nos telhados

somos nós, eu e o homem

que sem nos vermos

colhemos chuvas intemporais 


Na dúvida espera-nos um livro

na história, repetimos os amores 


Ao longe, ouço o rebuliço das águas

que nunca são demais

quando percebo o quão me saciam

breves, mas densas nuvens a pesarem ainda

sob um céu brando 


Caiu sobre o meu corpo 

todo esse temporal assumido

e nada faria sentido se assim não fosse

essa débil morte do homem

nos espaços fora e dentro


D'Onix