domingo, 28 de fevereiro de 2010

Sentir Difuso


(foto Dolores Marques)
*
Inspira-me um sentir difuso
Em mortalhas caladas
Esta reclusão da alma
Que se apoia na solidão
*
A mudança é urgente
E alcança a dimensão do ser
Em piruetas disformes
Que se encontram na multidão
*
Foca-se em gestos alucinados
Na esperança de alcançar
A rota dos ventos
Em jeito de perfeição
*
Inspira-me um sentir difuso
Estes vitrais enviesados
Em vidraças escancaradas
A meio da gestação
*
(poema escrito em 2008 )

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Universo das Palavras

Lembro as formas e os contornos
Desejos eloquentes banais
Gestos alusivos às imagens
Recordações e desvarios tradicionais

Pinto as cores num universo de palavras
Para que te entenda nos teus sinais
Enlouqueço nas lembranças que se perdem
Nos translúcidos vitrais

Mergulhar nos teus sonhos
Flutuar nos teus mais altos ideais
Deslumbrar-me com um nome…rosa mística
Em permanentes buscas imortais.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Estrada Sem Nome (Para Inês Dunas)

( Imagem google)
*
São alguns momentos de introspecção
que nos levam a ouvir os sons
que chegam devagarinho
e nos conduzem
por outros caminhos...
*
Julgamo-nos sabedores
de um outro destino
mas caímos sempre como a chuva
irrigando os campos de trigo
amadurecendo as papoilas
e bafejando a terra seca
de todos os caminhos que nela
se alargaram
*
São alguns momentos na noite
que me fazem perecer
quando já nada acontece
a não ser libertar-me
e riscar o meu nome
na poeira de uma estrada
sem nome
*
Inspirado num outro de Inês Dunas:

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Sente-me

(Foto minha - Rio Tejo)
*
Distingue-me sobre as nuvens negras
Que sobrevoam o teu olhar
Vê-me como um refúgio
Que se iguala à tua janela aberta
Quando te encontro sobre o encanto dos dias
E a passagem das horas
Sempre alerta!
*
Vê-me agora um pensamento ancorado
Uma ave que se esgueira
No teu telhado...
Sente-me em sopros que aportam
Em cais sombrios
E deslizam como um manto
Transformado em leito de um rio
*
(Olhares 2008 - Corpos Editora)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

NUANCES de Um Silêncio a Dois



Nuances...De um Silêncio a Dois (O LIVRO)

Um livro que tem como ponto de partida, a poesia a duas mãos, Ana Coelho e José Antunes

O evento irá realizar-se no dia 20 de Fevereiro próximo, e conta com o apoio da Câmara Municipal do Alenquer.

Esta apresentação está inserida na Feira do Livro a decorrer no Fórum Romeira em Alenquer, local onde será realizado o evento.

A organização do evento estará a cargo da editora "EDITA-ME" que contará com alguns momentos musicais e com as crianças presentes, irão ser desenvolvidas actividades pedagógicas por animadoras socioculturais, que estarão sob orientação de Cátia Costa.

Gostaríamos de poder contar com a Vossa presença.

Partilhamos convosco partes do prefácio escrito pelo

Prof. Arlindo Mota

PREFÁCIOAna coelho e José Antunes: entre nuances, sonhos e cumplicidades

Ana Coelho e José Antunes, são dois autores com uma envolvente e genuína pulsão pela poesia. Na escrita e nos gestos, que de gestos também se constrói a poesia. Buscam com paixão e rigor o segredo das palavras, que renovam sem cessar. Parcimoniosos na utilização de metáforas, optam claramente por não assentar na metrificação clássica, salvo uma ou outra incursão, num ou noutro poema.Conhecedores da herança lírica portuguesa, não se confinam ao formalismo e abordam a linguagem com criatividade, onde os temas do amor estão abundantemente presentes, mas também o psicológico e o social (sem cair no realismo) não são esquecidos e isso revela-se ao longo de todo do livro. A sua poesia, seguindo a moderna estética, constitui a verdade de um mundo sentido por uma subjectividade; o que ela diz é um mundo para o homem, um mundo visto de dentro, mundo singular e inimitável a que só o sentimento dará acesso. Falei até agora dos autores como se fossem apenas um: eles de alguma forma a isso nos conduzem, porque se apresentam juntos, face a se face, porque o livro constitui para eles a sagração dessa comunhão. Mas, em boa verdade, se muitos traços os identificam, outros os distinguem. Ana Coelho navega mais suavemente nas palavras, é, de algum modo, o lado assumidamente feminino do livro; José Antunes, de escrita comedida, apresenta mais arestas na leitura e na interpretação da sua simbologia. Comum aos dois, a contenção vocabular e arredia da adjectivação excessiva, que torna a sua poesia rigorosa e límpida, dotada de uma invejável coerência interna.O livro, por sua opção, apresenta-se dividido em cinco capítulos: “Momentos”; “Trincheiras de Sonho”; “Distâncias”; “Lampejos”; “Cumplicidades”.

Janeiro de 2010

Arlindo Mota




(Convite enviado pelos autores e amigos Ana e José. Conto convosco)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Ciclos de Vida e Morte

(Foto minha - uma noite no Porto)


Caminho por entre um difuso brilho que me arrasta para longe
Lá, onde só os corpos conhecem as vastas engrenagens
Um jogo abstracto e multicolor
A fome que está para além da dor
Voltas que o mundo dá
Voltagens em frente e atrás do tempo

Morri num dia só…

Enérgicos consortes meus que s’encaminham para um corpo celeste
Volteei-me e revoltei-me num caminho íngreme
Num mar de resíduos mortos
Que maldizem a fonte de onde vim

Há um propósito num horizonte a nascente
Terra à vista de um mar que se afundou nas areias movediças
Há um desígnio de um sol a poente
E um reflexo de luas prontas para nos seguir os passos

É esta vida de quase morte
Que se aquietou num deserto crescente
Um infindável ciclo de vida e morte

Vem comigo ver um ocaso, ocasionando todos os céus
E todos os ente queridos
Esgotei-me neste mar imenso
Perdi-me por ti, mas encontrei-me nos caminhos que te seguiram

(Uma vista distante deste mar de areia que me prende a ti
Eu quero mesmo ir para lá, ao encontro de um mundo, em todos os mundos que conheci)

Secaram todas as fontes
Findaram todas as marés
Maltrataram todos os sonhos que me edificaram num movimento inconstante
Sombras submersas, reescrevem-se em arminhos pálidos
Eclipsaram-se num momento uno em direcção ao mar

E agora que faço eu neste amaldiçoado posto
Que me leva por todos os desertos de onde vim?

Por mim fico já aqui!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Auroras Boreais (Para Sophie G.)


(Foto de minha autoriae)
*
Um caminho que se alonga a cada pausa
a cada momento que se acaba
num corpo sofrido
onde a dor é tormenta

nas margens onde mora um sonho
que se estende sempre para infinito

Há um renascer de auroras boreais em cada noite
que s’ enlaça, tracejando a luz
buscando uma paz duradoura,
fresca,
acabada
e
recomeçada
do nada

Há nas horas incertas uma inconstante chama acesa
e lá moram todos os sonhos
todas as histórias inacabadas
todos os corpos que reclamam por um toque ameno
e cessam da claridade morna as águas em remoinho

Há sempre um novo esvoaçar de gestos
em mãos quentes
e lábios ardentes
e há um sono que te leva para a morada dos sonhos
onde te recolhes
e te encolhes à nova vida
*
Poema dedicado á Sophie G. aqui:

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Tentas-me (Dueto com Octávio da Cunha)

Tento-te ao invés de te tentar convencer
A deitares-te sobre o meu corpo
Há um intemporal mundo onde abarco
Um tempo só nosso
*
Seria eu só uma boca aberta
A beber-te todos os sorrisos
De um mundo feito de abraços
Serias tu a mudança
A despertar este meu cansaço
*
Arrebatas-me com teu jeito de guru
Envolta em silhueta redescoberta
Tentas-me… tentas-me…
A percorrer-te perdido
Teu corpo alvo de cetim cru
Num percurso vagaroso…
Sorrido…
*
Tentas…
*
Sim, tento ser um só caminho a descoberto
Para seguir-te
E logo após deixar-te
E na volta
Voltar atrás no tempo
*
Não quero ser quimera
De um mundo sumido na força dos ventos
E tu Primavera que se saciou em tempos outros
Em amor grado e profundo, nos meus braços
*
É esta a força presente no meu corpo
Que se estende e se abate sobre ti
Sempre que quiseres estar em mim
*
Tentas-me… tentas-me…
Sabes que me reviro e me perco
Quando te reencontro
Num adeus longo, fingido…
Sabes que sou teu, mesmo quando não sou
Estou… mesmo quando não estou
Sou Deus-demónio, fluorescência divina…
*
Tens-me…
Quando me dou à tua boca celeste
Tens-me…
Nas noites de sonhos meus…
Nas valsas fantásticas que dançamos
Tens-me…
*
Tenho-te em noites minhas onde moram os sonhos teus
Sou a força de um a-deus ou de um Deus
Que respira por todos os poros da minha pele
E agora nesta dúvida persistente
Já nem sei se me apresente a ele
Ou se me abandone ao único chão que me sustenta
*
Sou assim uma ilusão que se quebrou
Uma ficção que se inventou no nada
*
Não, não és!
És real no Infinito do Mundo…
E eu sou em ti, profundo!
*
Dueto: Matilde D'ônix e Octávio da Cunha
Participação no concurso de poesia, alusivo ao Dia dos Namorados, aqui:
(Fotos de minha autoria)

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Inspiração, Expiração

(Foto minha - vistas s/o Rio Tejo)

Gostava de poder adormecer
De novo no teu colo
Afagavas-me o rosto
Cantavas-me canções de embalar
E o meu corpo a baloiçar
Saciaria esta minha sede
Da fonte de vida

Por ti subiria aos céus
Mitigava os sonhos
E descuidaria os abraços todos
Só por ti ...

(Mas como se nada restou?)

Nem um abraço me enlaçou
Nem um olhar me enfeitiçou
Só a tua indiferença
Só o teu desejo fútil
De poderes acabar a noite
Na solidão dos nossos sonhos

(Juntos moram ainda nas minhas lembranças)

Fica com tudo o que te é devido
Pertenças outras
Caminhos em eras cruzadas
Famintos desejos
Em leitos que me foram recusados

Abandonada...
Desprezei tudo
Eram sempre inspirações
De outros tempos vividos
E quase sempre
Por nós expirados e revividos

Estarei sempre aqui
Mas só!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Fim

(Foto minha - Palácio do Infantado em Samora Correia)
*
Se pudesses ver-me assim
Como me sinto agora
Triste, cansada e desajeitada

Sou como um simples rochedo
Que canta melodias antigas
Por entre as fragas soltas
De um altar despido
*
Encontras-me se quiseres
Sempre na ira dos ventos
Nas incandescentes luzes
Que me deixaram despida
No meio do caminho
*
Tracei nas mãos
O nosso destino
E vi-te a atravessá-lo
Num in-exacto momento
De um único fim

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Penso, Crio, Existo

(Imagem de Jomasipe)
*
Tudo em mim eu estranho
Tudo de ti se m'entranha
E até o abismo onde me encontro me é afeição
Quando te sinto num pensar distinto

Penso, crio, existo num momento só nosso
E há um tudo imerso num infinito composto
Há uma mudança que se quer naturalmente
Como a crença num Deus único
Estigma de um só pensamento
Que se abateu sobre mim

Um Deus vivo que me apeteça
Em troca de um corpo que amoleça
Um refúgio de vidas outras
E sonhos vários
Que não sabem nada de nada
Neste amontoado de células mortas

Mas sabes…
Eu já me fui enquanto te preparavas para existir
E tu não me viste enquanto eu me sacudia como o vento
E espreitava através das vidraças fechadas
Um facho de luz

Tão quente …
Que aguentava as marés vivas
Sempre que o teu bafo amainava
E eu sorria e trazia-te mornas cores,
Sabores frutuosos
De um corpo que acordava num único mundo

Sabes bem do que te falo
De um mundo feito de pedaços estéreis

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Se Poeta És (Para Rosa Magalhães)

(Foto minha - fim de tarde junto ao mar)
*
Esperar é um tempo morto
dar é um tempo que aviva a memória
dos que nada têm

Avistar o horizonte
e querer ver o mundo do além
é saber-se eterno
doado á terra de ninguém

Trespassar o véu e cair no céu
é ver o mundo sobre um olhar novo
sorrisos que o rosto contém

Cair no vácuo
essa dor(mente) queda abrupta
que é sair-se de órbita
e ser-se um mero sinal no espaço

São pontos minúsculos
levados pelos ventos tardios
e se poeta és num mar de Abril
serás um jardim à beira-mar plantado
e serão rosas, cravos, e aromas de jasmins
e alguns sorrisos de almas
que já foram de todos os jardins
*
Inspirado neste outro de ROMMA: