quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Cores do Outono



Caminhava e pensava num ror de coisas
assim andava sem parar e falava agora
alteando a voz. E que voz afinada
ela emprestava às brisas e a todas as coisas

Bailavam à volta dela, os tons pictóricos
de um Verão em franco desbotamento de cores
e ainda assim não se dava conta
dos raios solares que caiam na sua mão

Por isso continuava o rebolar das ancas
rua acima, rua abaixo. Inundavam-se
todos os becos
com enxurradas de prantos

Os soluços primaveris tal como o cair das folhas
não lhe causavam tremores
não lhe tomavam as pernas nem os braços
até as partes mais íntimas se apegavam
àquele bambolear constante
por entre as folhas secas enquanto lhe pesavam
os sobrolhos por cima dos olhos

Só o pensamento se mantinha intacto
na sua forma única de ser uma mulher
com o Verão ainda no corpo
e a Primavera nos olhos. Nas mãos
o Inverno a debruçar-se sorrateiro
e no olhar ainda a doce acalmia
das brisas outonais num espaço inédito
onde a fome se acomodara
desde a última estação

Dolores Marques

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