terça-feira, 25 de outubro de 2011

Enquanto os grilos cantam nos jardins





De que adianta encontrar nas palavras:
os gestos
as cores
os cheiros
as formas
as caricaturas
os mediatismos
os formalismos
e todos os vocábulos que existem para as diferenciar umas das outras
se muitas delas me apresentam silhuetas vazias
a rodopiar num frenesi encapotado
de grinaldas de várias cores?

(Um céu sem cor
a encher-me de todo os predicados
e eu nem sei como ordená-los um a um…
Talvez seja a forma única a encher num frasco de vidro
e transformá-lo em forma de lente de aumento)

De que adianta servir-me delas, para te dizer quem sou
de onde vim ou para onde quero ir
se nem eu sei…nem eu sei como acabar-me no meio delas

Não, não sei que faço com elas, quando se apresentam carregadas de dor
Não, não sei que faço com elas, as palavras soltas a encherem um mar de sonhos
Essa ilusão a criar efeitos especiais parafraseando os momentos de cada cor
ou dando nova cor e movimento a cada palavra

Essa loucura que se colhe logo pela manhã
enquanto os pássaros cantam nas copas das árvores uma canção
a embalar os sentidos todos

Não, não sei como me apresentar a elas
pois se nem elas entendem este meu jeito atarefado
logo pela manhã

Prefiro a noite
a noite que me aconselha enquanto os grilos cantam nos jardins
e a minha voz se remete ao silêncio
aquele silêncio que me acusa de não passar de “fala barato”
uma coisa a adornar outra coisa

Será um dado adquirido
este que me diz que a noite é um composto de todas as palavras
que absorvo durante o dia
para as transformar em sonhos
sonhos a camuflar as cores de um dia…um dia perdido


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(foto: DM)

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