terça-feira, 27 de junho de 2023

Universo tântrico



A somar ao silêncio 

mais silêncio

mais ausência

mais dor

mais os violentos ventos do norte 

quando o meu corpo é bramido silencioso, 

templo de um único sol


(Quando o sol se põe todo o silêncio é rei)


Trajada a noite para uma longa viagem, 

tudo pode ser invertido num espelho, 

ocasionalmente ...

escrevendo um poema com a luz que desenha 

uma sombra deitada,


(Só para saber dela e de mim)


Eu sou do tamanho dela

Ela não tem tamanho 

Talvez por não ter nenhum tamanho

 não sabe como ficar colada a mim… 

despida


Num universo feminino 

o homem é dono de uma sombra decepada.


(Sobe por ela acima, esse modo único de prazer )


O dele é um caixa aberta para o mundo artificial

Os orgasmos ponderados

Soberbos os metódicos tempos 

Os gritos mudos

Os fluidos na demanda do prazer, 


(Indomáveis em gênero oposto ao real


Ao real lobo faminto   

Tudo lhe é 

Tudo lhe é concedido

Tudo lhe é farto, devido

E ele tudo concebe nos agrestes picos montanhosos


O longo disfarce da lua a debruçar-se sobre o meu corpo 

pernoita em mim, devagar

É dono da minha solidão, nunca de mim será, 

enquanto sóbrio


Terá que albergar o céu e a terra no dia a dia 

dos seus passos

Terá que erguer a taça vazia ao sol

até que do céu cheguem baptismos sucessivos

que o meu nome não deixará de ser rio

ou mar 

ou vento a soprar no vale 

onde descansam das intempéries,

os guerreiros 


A noite passada uivaram os lobos

Eram uivos cegos, famintos de desejo

Esta noite nasceu um novo cântico nocturno 

com a força do másculo 

deitado ainda sobre uma das sombras


Ontem dormiu ela, sossegada, não acordou

Hoje não sei se acordo eu, 

desassossego-me no sono

dono deste vai e vem sombreado


O Universo tântrico é um denominador comum


Dakini, “Onde Está o Homem?”

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