domingo, 25 de junho de 2023

In Yang


 In Yang


- Não, não sou poeta. Escrevo poemas, dizes?

- Nao sei se assim os lerão.

- Lê-me um poema meu e dir-te-ei se sou poeta, ou se porventura, serás tu o poema.


- Em que ficamos? Preferes ser poeta ou poema? 

- Vou beber água à fonte que resiste ainda na casa de cima.

- Eu tenho fome. Sinto um desejo a crescer nas mãos. Acho que prefiro colher frutos do pomar. Das romãs, sugo o primeiro elixir do dia, como se fosse o último da vida desse arbusto florido.


- Os meus pés dão sinais de um cansaço estranho, como se o meu corpo os largasse, condenando-os aos subúrbios de um céu a preto e branco. 

- Enquanto isso, o meu corpo assume-se esquartejado, resistindo somente a alma, como se fosse a casa de Deus.


- O meu coração dá sinais de euforia, enquanto tombadas, as romãs se achegam perto da boca.


- Procuro rimas para um poema sem voz.


- Nada me importa, desde que sejam libertas todas as aspas que alguns poetas têm ainda presas, na garganta.


- Não, não sou poeta, escrevo poemas, dizes? 


Epifania (pseudónimo)

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