domingo, 11 de setembro de 2011

Sol da Manhã

Existe um tempo para o nascer do sol. Chegou ainda agora, lento e cauteloso por detrás das nuvens. Chegou tarde este sol, por ser manhã clara nos meus olhos. Uma manhã como tantas outras em que me canso da noite ao lhe tentar mostrar que o sol é um tempo a querer nascer em todos os poros da minha pele.




Existe um tempo para receber o sol, se esse tempo for a medida exacta num ponto onde me encontro, mas os encontros assemelham-se a pontos que se unem num outro ponto equidistante, e nada me faz entender um tempo que antecede outro tempo, que está prestes a chegar. Acomodo o meu pensamento nas nuvens para contrapor o tempo em que irei voltar a ser eu. Esta minha vontade explícita no meu corpo quando te toco e te sinto como se fosses o sol da manhã. Desejo-te sóbrio, sem que os odores da noite te inibam de me tocares. Dissipam-se as nuvens nas águas do Tejo, clareiam-se as vontades todas que tenho ao me tentar anular por completo, quando sinto esta verdade toda a saltar-me dos olhos, como se fossem raios solares a querer atingir o centro da minha verdade. Nua e crua esta minha fome de ser eu em ti e esta sede de me sentir o centro de todas as vontades do mundo. Livre e inconsequente é a luz que enche os meus medos e os transforma em certezas de ter um bem maior a guardar-me os sentidos todos. Essa maioridade que me afronta e me faz recuar ao tempo em que sabia que nada me faria antever a desgraça de ser varrida por um tempo que já não é tempo para mim, mas para todos os embustes que carrego ao longo do tempo.




Esta claridade que antecede a manhã, é a verdade onde coloco a minha vontade de ser um sol a encher poços sem fundo. Este buraco negro onde afundo a minha verdade, dá-me quase sempre a antevisão de um futuro que não sei, mas que existe enquanto verdade na minha vontade de ser eu e tu, ou tu e eu, seres uniformes e continuados para que o futuro seja só um acontecimento presente. Esta claridade que me faz ser um ser autónomo, é-me indiferente porque não sei ser um acto a acabar a manhã. Este querer ser de uma forma exequível, deixa-me presa à minha própria vontade sempre que me perco nesse buraco para esmiuçar todos os pontos perdidos por não saber ser a mentira enquadrada numa verdade disfarçada.


A verdade é uma só, aquela que me traz sempre o sol todas manhãs, e me mostra as vistas de um buraco negro onde guardei toda a minha vontade de me virar do avesso para renascer como todas as manhãs claras que enchem os meus olhos. Estes são os momentos prenhes da verdade que sou ou da mentira que guardo para voltar a ser eu a querer ver o nascer do sol.

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