Caminhava em passos lentos por ser só mais uma noite entre tantas as que o conheceram, e o acalmaram nos becos escuros, onde os seus olhos descansavam. Eles, são o mar salgado a temperança, que limpa os mendigos e os transporta para um reino distante, onde os barcos são naus perdidas à procura de novos oceanos. Era noite, e esta tão só como ele, refugiava-se na dor que o consumia, quando entrava e saia de um beco sem lhe encontrar as formas, mas tão-só os desenhos nas paredes sujas. Esperava pela madrugada e ela escusa de tanto se madrugar nos seus olhos, sumia-se pelas vidraças das casas que já tinham donos e esperanças renovadas, sempre que o sol lhes batia e reflectia as dores alheias de uma cidade que dormiu nos olhos baços de uma mulher qualquer, que ele também encontrou num sítio qualquer; sem dono, sem poiso, sem orifícios que lhe mostrasse que há mundos e fundos, e esperanças a cair na desordem de um simples olhar. Seria a sua morada, não fossem as ruas escuras, por onde ela passa. Os seus olhos são formas, e cores e lugares distantes que inventa, para continuar a viver longe da claridade das águas de uns olhos fundos, e com alguma sede de ser mais do que a sua própria vontade - O ir mais longe na fundura dos seus olhos. As ruas são agora a sua graça, onde um olhar se perde e um amor se confunde com os fundos de outras ruas.
A sua vontade é agora uma soma de variáveis conciliadoras de não ter rua, mas sim ser a própria rua em movimento. Caminha ainda em passos lentos e a rua mostra-se indiferente, mas sem deixar e ser a sua rua. Ela, a mulher não chega a lugar nenhum, a não ser ao fundo de uma rua qualquer.
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