segunda-feira, 28 de março de 2011

Espelhos

(foto: Bom Norte)

*
Se o tempo fosse só uma viagem

A terminar no meu corpo

Teria sempre um modo de te dizer

Que há mais tempo para o amor

Quando ele deixa de ser o tempo

E passa a ser uma pequena força

A brilhar no escuro

*

(Se o amor fosse só no dizer

Teríamos todo o tempo do mundo para nós)

*

Já nem sei se o amor me encontrou

Ou se fui eu que o chamei

Para que nas palavras

Tão só nelas encontrasse o tempo

Em que o sonho é uma visão

A acabar num olhar límpido e transparente

*

Há olhares que sabem

Onde encontrar as fases lunares

Mas o meu é a própria fundura dos mares

Na procura do verde dos teus olhos

Dos espelhos multifacetados onde te vejo

Nas figuras que traço nas paredes

Onde junto as letras

Para falar-te de um amor

Que m’ entrou pela porta semi-aberta

E me conduziu ao mundo fictício

Onde os mortos também têm voz

*

Já nem sei se fui eu que te procurei

No azul profundo de um céu imaginário

Ou se o verdadeiro azul dos teus olhos

Me entregou o céu

*

Queria ver-te em sonhos futuros

Em diversas paragens

Onde pudesse descansar os meus olhos baços

São brancos a tentar misturar as cores nos teus

A luz que me indicou que há pontos de passagem

E eu sou só uma linha esticada até ao infinito

Onde os corpos se encontram

Para mais uma tela em branco

Sem comentários: