Encontro-me em estado anáfora
Benzina que se ergue nesta simetria
Ao encontro da miopia ardente dos meus olhos
(Há um norte e desnorte que antecipa a vida caída no meu regaço)
Imagino-me em chão aberto
Cárcere de um tempo em que me sentia nua
Mendigando pelo pão-nosso de um dia só
Abençoado aquele que me oferece as searas
E m’ilumina as noites
Abençoado aquele que me esquece
Enquanto mendigo o Amor por outros caminhos
Calorosos momentos em que me ofereço em veneração
Por uma morte esquelética a cair nas esquinas por onde andei
Que m’ afronta
E m’amedronta os olhos
Santificadas sejam as vozes
E beatificados os corpos que descem à vida
E que esta terra infame me cubra por inteiro
E me reparta em pedaços
Retalhos mórbidos de um sono perpetuado na tua boca
Abundância fanada por um viajante doutros mares
Em derrame pelo meu corpo
(Aguardo pelo sol, ou pelo que resta dele, enquanto moribunda ao teu olhar)
Que seja meu companheiro
De um caminho a Norte
Que trespasse a minha pele já fétida
Que se submete à sorte de um aconchego a Sul
Que nas planícies, eu veja de tempos a tempos
A história dos nossos dias, num raio crescente
Que acima de nós, se avistem os astros
Que me falem alto de um ponto
Em que te encontro
Fiquei muda e quieta
E já nada me move deste espaço
Onde assento a minha dor
E mostro-te que há mais
Muito mais a Sul
Para além desse mar que nasce no teu colo
Acabrunhando a arte de bem saber existir
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