quarta-feira, 21 de julho de 2010

Intensidade (de Inês Dunas)



Há um aroma a flores nas lágrimas que tombam...
Uma fragrância suave que reveste o cemitério dos pássaros que morrem em campos desafogados, no dia em que se fazem os ninhos...

As lágrimas são como nós, têm medo de morrer sós...
Num bailado de solidariedade, as lágrimas lançam-se do precipício dos olhos sempre de mão dadas...
A intensidade com que caem no chão é tão violenta que o chão não aguenta e abre-se em fendas de pranto, trespassado pela dor.
E o embate esbate-se num silêncio mórbido, como se a sua morte, fosse o inicio da morte do mundo...
Todas as lágrimas nascem com medo de morrer por isso tentam esconder-se umas atrás das outras, tentando passar despercebidas, para não serem escolhidas...
Algumas, as mais fortes, agarram-se às pestanas, imploram, choram, lutam pela vida...
Mas os olhos são apaixonados pela dor, estão cegos de amor e querem oferecer-lhe o brilho das lágrimas, para a conquistar...
Então sacodem-nas, pisam-lhe as mãos com as pálpebras, obrigam-nos a escorrer cara abaixo...
E elas tentam agarrar-se a uma ruga de expressão, numa réstia de esperança em prolongar a vida que lhes ditou o destino de nascer apenas para morrer, suplicam perdão...
A voz vê-as passar a arranhar o rosto, e soluça violinos de desgosto...
Os dedos tentam agarra-las, mas as lágrimas só podem ser tocadas por outras lágrimas...
E os lábios comovem-se por as ver fenecer e tentam beija-las antes de morrer...
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De Inês Dunas, aqui

"As lágrimas são como nós, têm medo de morrer sós...
Num bailado de solidariedade, as lágrimas lançam-se do precipício dos olhos sempre de mão dadas..."

Escreveste a dor espelhada no rosto.
Lembro-me de quantas vezes, quando estou triste, o espelho me mostra logo em primeira mão, um rosto caído, pálido, sem vida.
Quiseste vencer-me: entre ter um rosto caído no chão e um olhar em direcção ao céu, mas eu gosto de olhar para cima e ter gotas de orvalho a inundar-me a face. Gosto de pisar a terra e sentir-lhe a dureza fria nas solas dos pés, lavá-los com as águas da chuva que passaram já pelo meu cabelo.
Gosto de te saber aí sem dor, sem palavras que me façam olhar o chão e ver cair uma lágrima perdida do meu rosto

Gosto de te ler Inês. A tua poesia é forte até na dor
beijos

Dolores Marques

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