quarta-feira, 25 de maio de 2011

Lugar vazio




(Desenho de António Moura)



Quando chegar, já nada me interessa, a não ser o que fiz, para que no caminho conseguisse deixar pegadas frescas a tentar seduzir um trajecto adverso aos meus próprios passos. Sou eu a movimentar-me assim, de uma forma que transcende este modo de querer ser uma, duas, ou várias formas a caminhar por entre as insígnias caídas. Foi uma forma de me inteirar de um mundo que ruiu, sem que eu pudesse fazer algo que me conduzisse para lá de um sonho enquanto dormia, e a terra ficava parada esperando o grande dia da minha nova vontade de caminhar, ou simplesmente me transformar na sua forma redonda.

Sempre me vi sozinha neste diluído termo, onde encaixo a dor e me estendo ao comprido, para que tão só como nasci, tão só morrer sem deixar rastro num caminho que só serviu para calcar a terra e amolecer as dúvidas que tive enquanto mulher que se quis pessoa, e pessoa que se quis mulher, a amar a vida nas suas mais bizarras formas. São mostras de um mundo meu, por nada ser, quando me vi a caminhar só, e tão só fiquei com este efeito molhado, através de pequenas nuances que brilham nos contornos de uma pequena história que se assemelha a um lugar vazio, onde as árvores crescem e os pirilampos adormecem.

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