terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Pedra


(Foto, D.M.; Correntes baixas do Rio Paiva)



Rudes são todos aqueles
Que querem e não se têm
Sabendo-se arlequins nas malhas polidas
Pela aragem de um vento agreste

São sóis
Em espaços bélicos
São luminescências
Em partos disformes
Os traços deixados pelos que riscam
Os grossos modos de se enroscarem no chão

Criteriosos os olhares
Amortecidos no pó do caminho
São tão negros da fome
E de tudo o mais que lhes ofertaram
Nas malgas dos pobres

(Pobreza farta
Mendigos a saciarem-se nas ruas desertas
E eu tão vazia de mim nestes socalcos toscos
Onde me despedi da minha alma )

Habita o cume mais alto
Mas ela não me cita
Nem reclama por mim
Não se prostra a meus pés
Para que lhe beije o manto
Não se reproduz
Nem quer voltar a ser sol no meu caminho
E eu tão veemente solicitada cá em baixo
Que meu corpo se quebrou
E se volveu à terra fria

(Petrificou-se no limbo da minha sapiência
Desmaiou
Ensaiou
Mortificou-se
Ou só se anulou no centro dos meus olhos?)

Pedra é
Pó será
Sulcos no meu corpo
Ressonância a deslizar sem dó
Dormência fatal

2 comentários:

Fernando Santos (Chana) disse...

Bela fotografia da Natureza...belo texto...Excelente post....
Cumprimentoa

Luiz Sommerville Junior disse...

Fora possível despir a alma como quem em frente ao espelho tira a roupa e a apalpariamos sentindo o cheiro dos tecidos que nos acompanharam o rosto-expressão-postura, e nesse odor dos caminhos percorridos encontrariamos todos os irmãos-por um lado,e todas as almas-por outro,num só corpo:
O espaço respirado !

Beijo!