quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Gatafunhos



Confusa
Demente
Descrente
Lágrima minha
Sem poente
Rola, rodopia
E não se conforma sozinha
Arrepia
E sofre
Sem norte
Por sorte
D’uma'lma minha

E é esteira
E é caleira
E é chuva miudinha a sarapintar as vidraças
Espelho trancando a noite
Dia clareando a sorte
E eu sou sonho
E levo comigo a desgraça
E sou chalaça
Sem alma
E sou garça no rio
No meu rio
E sou cio no mar
No teu mar
E fome no teu corpo
A esmagar-me
O baixo ventre
E sou mulher simplesmente
E sou gente
Gente que sente
Desacerto d’uma lágrima minha

E é somente
Um pingo de luar
A irrigar a plebe
Sortilégio d’um carisma sem graça
Dá-me a sua graça
E é a noite
Sem fundo
E é o dia soturno
E é o mundo
Sem mundo
E são olhos pardos
E lobos a descer da montanha
Uivos laicos
Desacertos no meu colo fechado
E acervos
E cardos
E giestas
E tojos
E rosmaninhos
Gatafunhos nos meus olhos

E são musgos
E ventos tardios nos socalcos
E talentos nos estios
E é a fome
É a fome
A estalar-me os ossos
E são esmolas
E estolas a aplaudir os chacais
E jornais funcionais
Nas mãos do pobres
Mendigos a acudir nos abrigos sepulcrais

E eu sou um magote a trote
Em busca de jóias raras, tão raras
E os meus olhos são malhas cismadas
Nos teus
E os teus são-me adornos baptismais

4 comentários:

Clarisse Silva disse...

Olá Dolores,

Um poema de gente que sente, sem dúvida. De ler e ficar sem fôlego! De voltar a ler e voltar a ficar sem fôlego...! Impressionante jogo de palavras, inspiradíssimo... é sentimento inerente em cada passagem, e a um ritmo elevado!

Creio que o prazer que lhe deu a escrever este poema ficou bem notado! Bravo!!!

Beijinhos,

Clarisse

Mª Dolores Marques disse...

Clarisse, querida Clarisse

Não sei onde colocar os mues gatafunhos

Beijo querida amiga

Andradarte disse...

Poema belíssimo, a um ritmo bem
elevado...
Beijo

Mª Dolores Marques disse...

Andradarte,

Muito belos os seus últimos trabalhos

Obrigada pelaspalavras