quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O infinito é mesmo ali

(tela de Paula Rego)

Penso no momento de há pouco, em que acordei com os olhos pregados no tecto e pensei cá para mim; hoje é um dia para viver, ou para esquecer. Entrei no duche e com a água a escorrer-me pelas fuças, dei comigo de olhos fechados.

Novamente a fechá-los, para que o dia adormeça num silêncio molhado. Rodei a cabeça, formando um círculo, e voltei a rodar para o lado contrário, e ali estava desenhado um símbolo que me iria levar pelo dia fora, rumo ao centro onde se cruzam dois círculos. O infinito é mesmo ali, à distância de uma rotação bilateral, e eu aqui de olhos fechados, agora que terminei de rodar a cabeça formando um círculo e logo outro no sentido contrário.

Pensei: Devo estar a sonhar, ou o que é isto agora? Terão colocado algum composto químico na água durante a noite?

A saber destas e de outras simetrias que se vêem de olhos fechados no duche, está um corpo que salta com os pés encharcados e se firma no chão que o há-de suportar durante o dia.

Pensando bem, preferia ainda mantê-lo na posição horizontal. Estou fechada e trancada por dentro e o movimento da rua é um composto de várias formas a rodar em sentido contrário. Para não cair em desuso logo à noite vou dormir encostada à parede.

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