segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Soberana, És Tu



Esta dor no peito, cavada à nascença
Morte alada, anunciada, branda, indolor, esquecida de mim
Porque me sinto perdida, caminhando sozinha por aí
Se esta dor que me pertence por inteiro
Caminha bem em cima de mim?

Não ta posso dar, nem tão pouco ta confiar
Porque esta dor no peito é pertença minha e de quem ousar Me amar
Agora que sei que já não pode ser partilhada assim
Com as veias que correm sem pressa e sem certezas de nada ser
A não ser afluentes que caminham para lugar incerto
Muralhas abruptas num cais abandonado

(E esta dor no peito que continua assim…pérfida nas brumas de uma triste cidadela)

Sofro por não me sentir viva nesta fortaleza
Terra que me pertence como eu a ti
E no chão me desfaço e me refaço sempre, porque sim…
Por querer ser morte anónima, diáfana, mas indigente ou simplesmente
Pura afluente no ventre crescente que me carregou um dia

É sim esta dor no peito, que absorveu as lágrimas que verti num dia
Quando já nada me pertencia
E nem tu sabias desta pertença amortalhada em cima de mim

Sabes bem de quem te falo assim
Daquela por quem me abandonaste lá a poente quando o sol se fundiu com o horizonte
E o meu Amor por ti, num dia em muitos os dias que nos tiveram
Muros esbatidos, lamentos escondidos

(Mas esta dor no peito, que ainda me quer viva
Para a vida que há-de vir a ser, uma lágrima que te molhará a face escondida
Que se habituou a esta ausência perdida)

Acomodei-me tanto a estas mudanças, que mudar é recriar a minha dor
Sim esta dor que me cava fundo, sempre que te vais de mim
Ou eu fujo de ti

2 comentários:

ir disse...

assim
trazes a constituição das estrelas
embora pareça invenção
diante a tua dor que é duelo
diante as palavras que são coisas sem fim

mas foi nesse prédio ou árvore
que edificaste as tuas janelas
que és soberana
e o teu olhar é um novo poema

os poetas são assim
e tu sabes quem te ama
neste novelo ou vaga água ou vida
que se desenrola devagar

eu não tenho a certeza se já me vi a mim
mas pude cair na valsa do teu coração

quem és e porque escreves?
sinto-me flamejar

um dia escrevi uma história sobre o meu jardim
e guardo-a com as palavras
que habitam na prosperidade da tua mão

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Parabéns! vistite o meu blog, Ivo Ribeiro

Sonia Schmorantz disse...

Um desabafo em forma de poesia, que linda ficou!
beijo