terça-feira, 5 de maio de 2009

Ikaría (de Giraldof)

(“Esta lenda que vou contar,
Não é adágio, nem ensinamento.
Num só momento já foi Deus,
Quem no sonho ousou voar”).
Ausento-me dos dias, indiferente.
Repiso meus passos, inconsequente.

Na derrocada da fantasia,
Contradiz-se a existência.
Sou desfigurado refém,
De perversa reticência.

Existo em labirinto infinito,
Sem saída, sem conclusão.
Lapidado em transparência,
O tecto é minha prisão.

(“Apura tuas asas de lacra,
Ascende-te.
A dor controla terra e mar,
Jamais as regiões do ar”).

Nos vestígios do sonho,
Um jogo de espelhos,
Um fogo inquieto.
Um esvoaçar incerto.

No desencontro do ser,
Um instante imprevisto,
Um desvio no espaço,
Um rasgo nas eras.

Numa escuridão intensa,
Tempo em momento sol.
Chuva quente ou magia,
Alvorada de novo dia.

(“Imprudente voar.
Entre a chama sedutora
E o mergulho tentador.
Teu destino está traçado,
Pressinto sorrisos na ilha da dor”).

De asas derretidas,
Sou devaneio dissolvido,
Ser em queda livre.

Proscrito em ínsula desconhecida,
Arquivo-te no absurdo da vida.

O rasgo nas eras,
Eras tu.

Ikaría.
A sílaba é sussurro da utopia.

Gilraldof

http://www.worldartfriends.com/modules/publisher/article.php?storyid=6592

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