quarta-feira, 7 de junho de 2017

Tictac

Ouvia o tic-tac do pêndulo 
no relógio quebrado 
escutava-lhe as lamúrias do tempo 
num tempo passado

Ouvia-o sempre antes de dormir
escutava o tempo no estrebuchar 
do pêndulo do relógio antigo
num tic-tac que se balançava 
ao canto da sala

E a janela fechada 
E a porta trancada
E o relógio quebrado
E o tempo parado

E eu, ainda colada aos sons do vento
porém calada, engolia os impulsos do tic-tac
nas ladainhas surdas de um relógio quebrado

E eu, malfadada pelo som das rajadas do vento
cujos prantos se avultavam
pelos cantos todos da casa

O vento serenava
mas o pêndulo ensaiava os sons irrequietos
ao canto da sala
enquanto o meu corpo se desengonçava 
e os meus olhos fungavam
espelhados num esgar lento
sobre as vidraças da janela fechada

A noite, sentida ante o lacrimejar 
do tempo despejado na janela
levava-me secretamente 
pelo espaço, agora sem tempo

ONIX

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