segunda-feira, 5 de junho de 2017

Linguagem dos sentidos


A queda de água corria pelo teu corpo, mas tu, tal esfinge adormecida na montanha, não sentias, nem vias, mas ainda assim a água abria novos caminhos por dentro do teu sono.
E o sonho admoestado pelas gotas pecaminosas que te saíam boca afora, sorria para ti como se fosses um deus anestesiado pelo tempo.

Apesar dos caminhos percorridos, apesar do tempo, tudo me parece tão perto, como se tudo tivesse parado, como se não existisse tempo...nem nada...só um sentir cá dentro a vida num êxtase.
O sentir só existe...é sublime! Visões e sentimentos são como o fogo. Ou consomem o Ser, ou revitalizam a consciência para um estado elevado do conhecimento de Si.
E, como sabes, a comunicação está cada vez mais próxima do seu real objectivo. As palavras, já não nos servem. 
Advertem-se todos os dicionários para a sua desintegração do espaço onde os dedos, se somem na procura da melhor palavra, do seu maior significado.
Advertem-se os dedos todos que não precisam mais chegarem aos lábios a sua pele ressequida. 
Decifrem portanto, a excelsa comunicação que nasce no interior de uma áurea, e leiam ali  os símbolos presentes, desenhados pela linguagem da alma. A comunicação do futuro é uma incógnita presente carregada de simbologia como súbita aparição do novo nascimento das palavras não escritas. 
Advertem-se os conhecedores dos verbos todos, que do futuro chegarão os seus últimos versos para um só poema com um único Verbo. E a palavra Poeta, elevar-se-á como se tudo fosse um só poema no novo dicionário em branco onde colaram os dedos, os olhos e a boca. 
O evento já começou, mas ainda existe sem tempo, sem espaço e sem hora marcada. O maior evento ainda a tentar soltar-se junto aos sons colados no céu-da-boca.

A cada dia que passa, mais um pequeno ranger das tábuas da tampa da caixa de pandora. A cada momento que se vive, só mais um pequeno rasgo do véu, que nos cegou enquanto não se abria a pequena caixa. Mas, quando de lá se soltarem todos os parentescos ainda sob o efeito da anestesia ocular, tudo será como um breve e fluido voo pelos nossos sentidos, à volta do corpo todo.

A cada dia que passa, a luz é mais luz na nossa vontade de seguirmos viagem. Uma viagem interminável a ouvir os sons e tentar decifrar códigos da noite, para um dia sem manchas na memória.

Suportar o peso da indiferença, quando a mesma vem camuflada de uma presença fora de tempo, é como viajar rumo ao desconhecido. Chegados lá, todo o peso é suportado por uma dose elevada de calor humano, que ainda faz furor nas partes mais densas do corpo. Esquece o ego que te alimenta. Nutre o que faz alimentar o teu ego. Nutre-o de elevadíssimos cantos pelo corpo todo. Sabes que quando o Amor se eleva, tudo é leve dando a sensação da não presença, porque simplesmente nos parece que nos deslocamos à velocidade da luz para todos os lugares do mundo, onde só já somos Luz.

Sabes que há correntes nas mãos dadas que nem sempre representam a sua real força, quando quebrada abruptamente por um fio desagregado da nascente.
Por isso, e do mesmo modo, as energias fluem em vários sentidos de uma mesma corrente, contudo, umas, para o fortalecimento desta, outras para o engrandecimento de um pequeno círculo com nutrientes nocivos ao desenvolvimento da verdadeira corrente.

Sabes que a linguagem mais próxima das sombras, é a do renegado, na sua falsa intenção não assumida. A falsa intenção que se apresenta como bom amigo da linguagem que se move nas sombras.
E como sabes, uma visão apocalíptica dentro de um contexto poético, é sempre uma visão apocalíptica, quando o Poema, se constrói à força, e o Poeta não conhece as suas limitações: nem as do corpo, nem as da Alma, e,  nem as humanamente possíveis para a sua evolução, ainda que inserido num contexto metafórico. 

Acordar para a liberdade poética...é preciso, para que do Poeta, se soltem lampejos de memórias...e que se limite, aos seus limites.
(Poeta...que é feito da tua liberdade para que sejas antes demais, poesia em todos os poros da tua pele?)

Sabes, tenho tudo em aberto num tempo parado. Tenho receio de me ir, sem saber comunicar...só através de um aparo leve que te escreva a linguagem dos sentidos.
Sabes, este meu sentido inverso às palavras todas, é um tempo sem lei, é o tempo dos anseios da alma escritos em tempo algum, ou em qualquer espaço exilado onde os dedos dancem numa folha de papel.

Enquanto tu dormes e eu sonho, o que existe são caminhos abertos fora dos corpos, e a viagem é a mais curta de que há memória do que resta nos corpos ainda adormecidos.

Habitas-me no espaço onde as aves gritam, como se fosse ali o seu único Céu
Vivo e Amo este sentir-Te em todos os lugares. Podes arrumar-me no lugar de sempre?

ONIX/DM

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