segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Coração da Terra - FOME



Que triste e quão maquiavélico pode ser o ser humano, quando sente a corrosão do seu próprio movimento afundado no seu corpo. Esse elemento castigador que se lhe entranha, enquanto engordam os olhos, quando por via dos ventos tardios se fabricaram hóstias fora do tempo. Vingam-se do tempo das colheitas, do tempo dos lilases, do tempo das urzes, do tempo do sol, do tempo da água, do tempo do fogo, do seu tempo, em concomitância com a ordem com que chegam à terra os elementos.

Quão habilitado em pensamentos dominantes está o ser humano, que não vê, não sente, sequer se sente ordenado por um qualquer telecomando que já existe para o ser pensante. Em estado de pura amnésia, quase estátua sem medo, edificada agora no seio de todos os segredos ocultos onde vive. É este o paradigma do novo modelo, onde a inteligência, já não se define: nem a própria como sempre se nos afigurou, a dominante, nem aquela que aflora ainda à tona deste imenso oceano, a emocional, que de vez em quando, furacão, decide irromper por todas as frentes da mente, e do seu ser pensante em busca de abrigo, de algum conforto para beber da luz infinita do seu único Ser.
Disfuncionais, as formas, que se diluem por entre a neblina. Somos o universo tântrico, em torno de um eixo imaginário, onde o limite que nos separa é a linha onde o sexo respira e transpira, com tal transparência, que nem a mente consente nesse exequível ponto equidistante.
Vilipendiamos o nosso semelhante, como quem se expõe a ele, tal como o forcado enfrenta na arena o ser animal, ocasional.
Asseguramo-nos de um mundo virado ao contrário, porque nos reviramos, quando com olhos tortos nos fisgamos a todos, num rodopio esquizofrénico, com algas marinhas enroladas aos nossos corpos. Trazem a força de um dos elementos, que no mar se exilou por quanta loucura dali se apossar.
Exercitámos os músculos do corpo, para nos presentearmos esqueléticos na forma, mas exacerbados nos movimentos que damos ao fogo que trazemos. Não sabemos ainda, sobre o universo alquímico dos corpos ser a união sagrada da força de todos os outros elementos.
Absorvemos da atmosfera um sem número de iguarias, prontas para nos encherem os poros abertos da pele, quando por força de um elemento terreno, nos masturbamos em orgias funcionais e até as intelectuais.Esquecemos de nos masturbar de forma eloquente, na verticalidade, com que se apresenta a humildade, e nesse universo, o AMOR.
A fome de se “Ser” dos tempos modernos é uma fome estranha, mas sem se saber onde comprar a sua própria passagem para o outro lado, a margem dos enganos, mas, sedenta de humanismo.
Ele ali está, pronto para ser consumido, pois sabe muito bem de um fragmento, que cresce a olhos vistos, por todos os cantos da terra. Mas, como já vem lá dos tempos em que o homem descobriu o fogo, sem saber que já existia há muito dentro dele, agora quer transformar o seu próprio fogo num quinto elemento terreno.
Mais um ledo engano, o seu, porque por muito dissecar o ar com o seu bafo quente, ainda não teve tempo para ver, que mesmo esse, já constitui um todo no seu corpo.
A metamorfose, que ele não vê, porque o tempo dos tempos mortos é o paradigma que ele já construiu.

Dolores Marques 
(ÔNIX 07/12/15)

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