quinta-feira, 14 de junho de 2012

Ao Fundo de Mary


(...)
Naquela manhã de Sábado, a rua estava intransitável. Pessoas com sacos e mais sacos das compras da semana. Os táxis paravam e arrancavam com destinos certos e elas vagueavam em busca de um espaço sossegado, sentar e conversar. Junto aos seus pés um corpo estendido no chão sem sinais de vida. Olhavam os transeuntes ao encontro de um sinal, um só que fosse. Mas nada nem ninguém parava naquele local habitado por um corpo, prestes a desfalecer na valeta. Olharam-se, como que a tentar saber a forma de atuar. Mary pergunta a Isabel.
- Estará morto?
- Não me parece. Ainda tem posta a gravata. O casaco caído ao lado. Deve ter desmaiado
- Toco-lhe?
- Não sei. Já reparaste que ninguém pára. É como se não existíssemos. Nem nós e nem ele
Sem mais palavras curvaram-se na tentativa de ver se respirava
- O senhor está a ouvir-nos?
- Precisa de ajuda?

A cabeça do homem roda no sentido onde elas estavam e responde que precisa de ajuda. Mary e Isabel seguram-no cada qual em seu braço, ajudando-o a levantar-se. Homem na casa dos 35, alto, moreno, estava num elevado estado de embriaguez. O seu bafo, tresandava a bebida anulando todos os cheiros do espaço que ocupavam. Elas olharam-se de novo como  que a saber o que fazer e logo se ouviu a sua voz. Uma voz doce, delicada, que lhes dizia.
- Moro ali naquela praceta. Ajudem-me a lá chegar por favor.
As pessoas simplesmente passavam e nada diziam, lançando-lhes  um olhar em jeito de desprezo, pela miséria que assola por todos os cantos desta cidade. Conduziram-no até á porta de casa, a alguns escassos metros. Ele subiu as escadas. Elas nunca souberam se chegou bem. Era um prédio antigo sem elevador, escadas de madeira, corrimão de ferro.
A rua continuava cheia de gente que caminhava com pressa. O cheiro que ocupava o local, era agora de peixe, de fruta, de carne..etc. A praça do Chile é ainda um local muito movimentado nas manhãs de Sábado. Mais acima, na Alameda, falam dos tempos em que o cinema Império era um local muito frequentado nas noites de Sábado. Deu lugar a uma Igreja qualquer e do jardim vêm a Fonte Luminosa, para nela refugiarem  o olhar e se limparem dos cheiros que seus corpos assimilaram. De luminosa, nem a água, só restam as suas figuras esculpidas em pedra. Tinham finalmente encontrado o local ideal para se sentarem e conversar
....

Ao Fundo de Mary

Sem comentários: