segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Pontos luminosos

(foto D.M; Luminescências)


Passou de relance por entre os círculos de fumo que expirei lentamente. A sua pele escura e o seu jeito de andar, balançando o corpo, fizeram-me lembrar os rituais à volta de um fogo ardente, onde os corpos se submetem aos ritos tribais do passado.

Os seus olhos, pontos luminosos a saírem da órbita dos meios círculos traçados pelo fumo saído da minha boca semi-aberta. Trazia neles o mundo inteiro a dobrar-se sobre os meus ombros. Eu acolhi-o sem uma palavra que lhe dissesse que há mundos por descobrir nos meus olhos cor de chumbo.
Olhou-me e disse simplesmente: “boa tarde”. Eu respondi timidamente: “Boa tarde” ao que ele me devolveu: “bom descanso”.

Sorri e pensei, que este final de tarde, talvez me tenha dado uma ideia para conseguir acabar de fumar este maldito cigarro, apagando-o, e voltar aos pontos luminosos de uns olhos quase a quebrar as linhas impostas pelo meu pensamento. Este é um recanto de uma cidade fria. Dormita no silêncio de um dia e desperta para uma noite em branco.

No entanto, sabe-se que há olhares que não se esquecem de dizer “boa tarde”; “bom descanso”, e ela, a cidade ainda me consome.

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