sexta-feira, 4 de setembro de 2009

1 de Setembro de 2009 (De Carlos Conchinha)

(Fotos de minha autoria - minha filha futura mãe)

Mãe
Não te tenho escrito,
Bem sei.
Justifico a ausência
Não estou bem
Lê nesta carta uma urgência
Mãe.

Definitivamente
Não sou da cidade
Passo uma tarde entre o Chiado e o Rossio
E tenho tudo o que quero
A natureza entra morta pelas portas dos fundos
Dos talhos
E em pacotes de leite UHT
Aqui não há mar
Não há amar

Quero gritar, mãe
Ah, como quero gritar
Que o meu sonho morreu
Assim que cheguei à cidade
(Até as estrelas morrem se a avistam)

Os homens mijam à sua volta
Como feras
E vão nos carros a tomar comprimidos
(Dizem que é para não sofrer)

A cidade não abriga o poeta
Não me sacio na cidade

Mãe, dá-me colo
Mãe, dá-me um abraço, dos teus
E devolve-me

A brisa
O sal
O sol
O sul
O brilho
As silhuetas
As serras
As planícies
Os golfinhos
As flores
As mulheres
Os homens
As crianças
As aves
O beijo
O eu,

Este filho que te adora.

Carlos Conchinha
http://www.worldartfriends.com/modules/publisher/article.php?storyid=10861&com_id=31041&com_rootid=31041&#comment31041

- Conchinha, meu querido, dou-te os parabéns por este poema e obrigada por estares aí

2 comentários:

Sonia Schmorantz disse...

Maravilhoso! Como linda é a imagem da tua filha esperando um anjo...
abraço e ótimo final de semana

impulsos disse...

Um poema magnífico e cheinho de ternura.
Parabéns a quem o escreveu!!

Um beijo para ti, futura avó embevecida